quarta-feira, 15 de julho de 2015

O desafio da formação dos leigos

É sempre grande o clamor do nosso povo para ter mais formação. Acredito que em todos os planos de pastoral das dioceses e das paróquias entre direta ou indiretamente, a questão da formação. Em geral, a “formação” dos nossos adultos ficou mesmo na catequese da Primeira Eucaristia e da Crisma. Coisas de crianças e de jovens. Muito pouco ajudaram os “cursinhos” para noivos ou para pais e padrinhos, por ocasião do matrimônio ou do batizado dos filhos e afilhados. Por isso quando uma pessoa adulta começa a participar mais da comunidade, quando se sente mais envolvida nas atividades da Igreja, ou, por algum motivo, quer entender mais e melhor a própria fé, busca, justamente, mais formação. Não se satisfaz mais com o que aprendeu nos anos anteriores.
De fato, mudaram também as circunstâncias da sua vida; talvez estudou mais, vive e trabalha em ambientes onde circulam muitas ideias contrastantes sobre a Igreja católica, escuta notícias sobre o Papa, boatos e escândalos envolvendo eclesiásticos e assim por adiante. Por outro lado, infelizmente, muitos batizados e batizadas não têm mais interesse em aprofundar as motivações da própria fé.  Se declaram “católicos”, mas acham as reflexões sobre religião perda de tempo, inúteis disputas, talvez, um tédio, algo que não vale a pena. Chegam a organizar um conjunto pessoal de convicções sobre a religião e param por ai. Na maioria dos casos não são nem quentes e nem frios, são mornos, do jeito que lemos no livro do Apocalipse (cf. Ap 3,16). A fé deles fica confinada num cantinho das suas vidas. Talvez ainda frequentem a Missa, quando dá, participam de alguma manifestação religiosa, depois de muita insistência, e mais por curiosidade que por fé. Ou simplesmente porque “todos” vão e faltar seria um desfeito. Esta turma, muito grande, precisa ser acordada ou “evangelizada” novamente. Do outro lado, temos pessoas engajadas nas Pastorais, nos Movimentos, nas atividades sociais, que buscam mais motivações e mais força para continuar no seu esforço. Buscam também mais participação e responsabilidade.
Conhecer mais para melhor amar
Por causa disso, e muito mais, se torna séria, para toda comunidade, a questão de oferecer às pessoas adultas uma formação mais aprimorada e condizente com a atualidade. Na maioria dos casos a resposta a esta urgência se dá através de encontros de Catequese para Adultos, com novas modalidades de “Iniciação à Vida Cristã”, Círculos Bíblicos, Leitura Orante da Bíblia, etc. Inúmeros são os “cursos” de Teologia para Leigos, as “escolas” Bíblicas e da Fé. Não faltam oportunidades em todos os níveis: nacional, diocesano e paroquial. Também está aberto o acesso às Universidades. Já temos muitos leigos e leigas mestres e doutores em disciplinas até então reservadas a padres e religiosos. A oferta, usando uma linguagem comercial, é grande. Ainda, talvez, não bem aproveitada e ao alcance da maioria. No entanto, devemos nos perguntar se todo este esforço consegue alcançar o objetivo de formar um laicato mais maduro, responsável e consciente da própria missão dentro e, sobretudo, fora da Igreja, porque “o campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos “mass-media” e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam, o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento” (EN 70).
As coisas do mundo mudam mais rápido que a situação da Igreja e os leigos e as leigas ainda sofrem de uma certa marginalização na esfera da participação afetiva e efetiva na obra da evangelização. Cada vez mais, assumem tarefas e ministérios nas comunidades grandes e pequenas. Se excluímos os ‘cursos” específicos de Fé e Política e semelhantes, precisamos reconhecer que a grande maioria dos “cursos” de formação para leigos e leigas têm o principal objetivo de prepará-los para serviços e ministérios intra-eclesiais. Raramente são levadas em conta as situações e as responsabilidades dos leigos e leigas nos variados campos de atuação da vida comum na sociedade. Talvez formemos bons catequistas, mas que, não necessariamente, serão também bons cidadãos conscientes do próprio papel transformador na família, na escola, na fábrica, no sindicato, na associação de bairro... Podemos preparar excelentes Animadores de Comunidade, Ministros da Palavra, Ministros Extraordinários da Comunhão, mas nem sempre temos certeza de ter, amanhã, bons administradores públicos, bons vereadores e deputados, bons médicos e juízes. A ação da Igreja, Povo de Deus, “em saída”, que o papa Francisco incentiva, pobre, ferida e enlameada, deve-se refletir “na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico” (EG 102). Por isso, diz papa Francisco, “a formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral” (EG. 102).
Uma formação mais adequada à vida laical deve privilegiar as motivações cristãs para as escolhas concretas do dia a dia, grandes e pequenas. Deve ensinar a paciência do “possível” sem desistir da radicalidade evangélica tendo como meta o Reino “eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz” (cf. Prefácio da Solenidade de N.S. J.C., Rei do Universo). Deve educar ao diálogo, ao trabalho em equipe, com os diferentes, por causa da religião, da ideologia. Na sua grande maioria, os leigos e as leigas não escolhem com quem trabalhar, com quem lidar, os vizinhos ao lado dos quais moram com as suas famílias. Devem aprender a conviver com todos e ali, naquele lugar e naquela situação, dar o testemunho da sua fé. Eles e elas são enviados “como ovelhas no meio de lobos”, devem “ser prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (cf. Mt 10,16). Nada fácil, mas não impossível. Talvez,  seja preciso que os leigos e leigas assumam mais a própria formação com o seu olhar, a sua sensibilidade, os seus desafios. É urgente pensar nisso.
                                                            Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá
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 Fonte: cnbb.org.br  Bannermissaopartir.blogspot.com.br  Ilustração: paroquiasantanabacabal.com.br

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