terça-feira, 9 de junho de 2015

Refletindo com o Pe. Zezinho

As lições de Aparecida

Um grupo de 200 romeiros que pretendia visitar Aparecida em outubro pediu-me uma reflexão porque desejavam ir lá mais instruídos na fé. Passo aos meus leitores o que eu disse a eles.
Maria nos conduz a Jesus
“Quebrada, descartada, aparecida, reencontrada, restaurada e reintegrada, a imagem negra de Nossa Senhora em Aparecida nos enche de lições, cada qual mais profunda que a outra. Moro perto de Aparecida há quase 60 anos e vou lá há mais de 55. Minha mãe me levava pelo menos duas vezes por ano e, depois de sacerdote, convidado pelos excelentes e admiráveis padres redentoristas, visito regularmente a basílica e vejo a mística que se aninha nessa devoção a Maria, ante a sua imagem enegrecida. “
1°: Quebrada e descartada. Em algum lugar antes de 1717 uma imagem quebrou e alguém a jogou no lixo, que acabou no rio. Pode ter sido uma imagem de alguma fazenda ou de alguma casa à beira do rio. Talvez fosse menos escura do que é. Lembra as imagens européias de Espanha e Portugal daquele tempo. Ficou na lama do rio, abandonada, esquecida, marginalizada, descartada para sempre. Era para ser. Mas Maria cuidou para que sua imagem virasse uma parábola de cura e de reintegração. Jogada no lixo porque não mais servia, levada pelo rio, cabeça e corpo separados, a imagem dada como perdida seria restaurada e refeita, coroada e vestida com um manto de rainha. E voltaria bem escura, pelas mãos de pescadores simples, num tempo em que os negros eram escravos e pobre não tinha nenhuma chance de subir na vida. Foi a primeira lição: há uma chance para os esquecidos e marginalizados neste país. Se não houver, nós a criaremos.
2°: Aparecida e reencontrada. Primeiro a imagem apareceu em duas partes. O aparecimento da primeira parte não disse nada. Era apenas um pedaço de imagem jogada no lixo. O aparecimento da segunda parte, mais adiante, bem mais adiante, começou a fazer sentido. De “aparecida” tornou-se “reencontrada”. Foi encontro e reencontro. O céu estava querendo dizer alguma coisa. Não é todo dia que um pescador acha na sua rede duas partes abandonadas de uma imagem. A fé achou explicações e é isso mesmo que a fé faz. Dá sentido ao que não parecia ter sentido. Foi a segunda lição: A imagem quebrada foi assumida. Há uma chance para os deserdados e jogados fora do processo civilizatório brasileiro.
3º: Restaurada e reintegrada. Alguém a limpou, lavou, tirou-lhe a lama, restaurou, emendou, reintegrou e a imagem voltou a ser inteira. Negra e inteira…num país onde ser negro era nascer e permanecer escravo. Coroaram a imagem negra, deram-lhe um manto. Valia como lição de que lutar ser negro, um dia não seria mais humilhante. Os brancos orando diante daquela imagem aprendiam muito mais do que imaginavam.
O Brasil saiu da escravidão, os negros ainda lutam por seu espaço, os pobres ainda sofrem a marginalização, os feridos e desconjuntados pela vida ainda se sentem no lixo, os enfermos ainda não recebem todo o apoio, mas sabemos que isso tem de mudar e vai mudar um dia. Enquanto isso, Aparecida vai ensinando suas lições de libertação, de solidariedade e de fé profunda. Foi a terceira lição.
Se há um templo no Brasil onde não se pode deixar de falar da dor, da libertação do pobre, de democracia e de reintegração e inclusão dos brasileiros excluídos, este lugar é Aparecida. E é o que tem sido feito. Aparecida é lição e sinal. A imagem, de Maria, quebrada, jogada fora reaparece e volta a ser inteira. E é pequena e negra! Não dá para ir lá e orar sem pensar em mudanças para o nosso país. Aparecida ilumina e provoca os cristãos do Brasil.
Continuaremos brigando para ver quem é mais de Cristo ou admitiremos que a mãe do Cristo podia e ainda pode nos ensinar alguma coisa? Ela nem precisou aparecer em Aparecida. Aquela imagem pequena tem falado por si mesma. Não está lá para ser tocada, mas para nos fazer olhar para o alto e pensar. Bem do jeito de Maria! (11/01/2013)
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Pe. Zezinho, scj- Autor de mais de 300 títulos, entre livros, CD´s cantados e falados e vídeos; há mais de 45 anos envolvido com a pregação, a arte e a catequese católica, professor, cantor, compositor, conferencista, showman, diretor e apresentador de rádio e de televisão, Padre Zezinho scj é ainda hoje um dos rostos e das vozes mais conhecidas da Igreja Católica.
Será um dos palestrantes do IX Congresso Mariológico da Academia Marial.
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                                                                                                           Fonte: a12.com

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