sábado, 6 de junho de 2015

Papa a líderes religiosos:
Vivamos lado a lado num mundo em conflito

Sarajevo (RV) – Da Catedral de Sarajevo, Francisco se dirigiu ao Centro internacional estudantil franciscano para o penúltimo evento do dia: o encontro ecumênico e inter-religioso.
O trauma da guerra e suas consequências marcaram as saudações ao Papa dos quatro líderes religiosos do país: católico, muçulmano, ortodoxo e judeu.
De modo especial, o Bispo Gregório recorda que o país saiu da guerra 20 anos atrás, mas ainda hoje se fala como se tivesse terminado ontem. “Isso é compreensível, porque a guerra traz consigo desgraças, homicídios, tratamentos cruéis contra menores e inocentes.”
"Continuemos com perseverança
pelo caminho do perdão e da reconciliação"
Por sua vez, o Arcebispo de Sarajevo, Card. Vinko Puljic, ressaltou que os quatro líderes não conseguiram deter a guerra nem criar uma estratégia de paz. “O que podíamos fazer, fizemos: rezamos e invocamos a paz.” Dois anos depois do fim do conflito, fundaram em 1997 o Conselho Inter-religioso da Bósnia-Herzegóvina. “Ainda há muito por fazer para realizar um verdadeiro processo de reconciliação, de perdão e de regresso do espírito de confiança.”
Nesta mesma linha, ao se dirigir aos presentes, Francisco afirmou que este encontro é sinal de um desejo comum de fraternidade e de paz. “O fato de nos encontrarmos aqui já é uma ‘mensagem’ daquele diálogo que todos procuramos e para o qual trabalhamos.
Na realidade, ressaltou o Pontífice, o diálogo inter-religioso é uma condição imprescindível para a paz e, por isso, é um dever para todos os fiéis. Não deve ficar restrito aos líderes religiosos, mas deve envolver toda a sociedade civil. “O diálogo é uma escola de humanidade e um fator de unidade, que ajuda a construir uma sociedade baseada na tolerância e no respeito mútuo”, acrescentou.
Para Francisco, a cidade de Sarajevo, que no passado se tornou um símbolo da guerra, hoje, com a sua variedade de povos, culturas e religiões, pode ser novamente sinal de unidade. “Num mundo infelizmente ainda dilacerado por conflitos, esta terra pode tornar-se uma mensagem: atestar que é possível viver um ao lado do outro, na diversidade mas na comum humanidade, construindo juntos um futuro de paz e de fraternidade”.
E concluiu com palavras de encorajamento: “Todos estamos cientes de que há ainda muita estrada a percorrer. Mas não nos deixemos desencorajar pelas dificuldades, e continuemos com perseverança pelo caminho do perdão e da reconciliação”. (BF)
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Francisco chama os jovens a 'salvar a esperança'

O último compromisso público do Papa em Sarajevo sábado (06/06) foi no Centro esportivo para jovens da diocese, dedicado a João Paulo II. O Centro ainda não está pronto; faz parte de um complexo que começou a ser construído em 2006, após a guerra. Trata-se de um espaço aberto onde jovens de todas as etnias e religiões socializam, praticam atividades de esporte e voluntariado, e formação pastoral e religiosa para católicos.
Ao descer do papamóvel, Francisco foi acolhido pelo Reitor com algumas crianças e foi acompanhado ao elevador e ao segundo andar. Ali foi inaugurada uma placa em homenagem a São João Paulo II. Cerca de 800 jovens assistiram a este ato solene. 
Na troca de dons, uma estátua de João Paulo II
Como presente ao Centro, Francisco levou de Roma uma estátua (71 cm de altura) moderna, de bronze, com a imagem de São João Paulo II já idoso, nos últimos anos de seu Pontificado. A obra foi doada à Santa Sé pelo Bispo de Chiavari, Dom Alberto Tanasini, e pela comunidade diocesana, em 1998, e agora foi presenteada pelo Papa Francisco aos jovens bósnios. 
Os testemunhos dos jovens: um católico e uma ortodoxa
Após a saudação do bispo Dom Marko Semren, encarregado da pastoral juvenil, foi a vez de dois jovens do Centro darem seu testemunho ao Pontífice. 
O primeiro, Darko Majstorovic, tem 24 anos, é professor de educação física e é croata católico. Em seu caminho de busca de si mesmo, da paz e dos benefícios que esta poderia acarretar, Darko ingressou na Associação de estudantes católicos Emaús, tornando-se uma parte ativa também do Centro juvenil João Paulo II. Ali encontrou a paz que tanto procurava. 
“A vida comum de respeito recíproco pelas diversidades fez cair e dissolver a onda de medo que me perseguia. Crescer na fém ajudar os outros, saber se precisavam de ajuda sem lhes perguntar seu nome são valores que aprendi neste Centro”, disse. Darko, que hoje é o presidente da Associação, terminou com o auspício de que a visita do Papa seja um encorajamento a não temer as diferenças, pois “tolerância e conciliação são o caminho certo para um amanhã melhor”. 
A jovem Nadežda Mojsilović, sérvia-ortodoxa, é a coordenadora do trabalho com os jovens no programa ‘Caminhemos juntos’, parceria do templo ortodoxo de S. Vasilij Ostroški, no leste de Sarajevo, com o Centro católico de pastoral juvenil João Paulo II. 
“O projeto – disse Nadežda – reúne jovens de coração aberto aos outros, convencidos de que esta variedade é a riqueza do povo deste país. Guiados pelas virtudes comuns, nos esforçamos em ser modelo para os jovens daqui e de fora. Espero que depois deste nosso encontro com o Sr., líder da Igreja católica, possamos difundir a forte certeza de que a paz é a mais alta de nossas aspirações e que preservar nossas almas é um imperativo para que o amor e a confiança reinem entre nós e permaneçam nos séculos dos séculos”, completou. 
O discurso do Papa
Após ouvir os dois testemunhos, o Pontífice fez o seu discurso lembrando o que São João Paulo II fez pelos jovens, encontrando-os e encorajando-os em todas as partes do mundo.  
O Papa convidou as instituições a colocarem em prática estratégias oportunas e corajosas para favorecer os jovens na realização das suas legítimas aspirações; e a Igreja, a dar a sua contribuição com projetos pastorais adequados. No entanto, ressalvou, a Igreja deve sentir-se chamada a ousar cada vez mais, partindo do Evangelho e impelida pelo Espírito Santo que transforma as pessoas, a sociedade e a própria Igreja.
Também a vocês, jovens, cabe um papel decisivo na resposta aos desafios do nosso tempo, que são certamente desafios materiais, mas antes ainda dizem respeito à visão do homem. De fato, juntamente com os problemas económicos, com a dificuldade de encontrar trabalho e a consequente incerteza do futuro, nota-se a crise dos valores morais e a perda do sentido da vida. Diante desta situação crítica, alguém poderia ceder à tentação da fuga, da evasão, fechando-se numa postura de isolamento egoísta, refugiando-se no álcool, na droga, nas ideologias que pregam o ódio e a violência”.
Lembrando aos jovens que estas são realidades que bem conhece porque, infelizmente, estão presentes também em Buenos Aires, de onde provém, Francisco os encorajou a não se deixarem abater pelas dificuldades, mas a fazer surgir sem medo a força que deriva de serem pessoas e cristãos, sementes de uma sociedade mais justa, fraterna, acolhedora e pacífica.  
Jovens: cumpram sua missão!
Vocês são chamados a esta missão: salvar a esperança, para a qual os impele a sua própria realidade de pessoas abertas à vida; a esperança que têm de superar a situação atual, de preparar para o futuro um clima social e humano mais digno do que o presente; a esperança de viver num mundo mais fraterno, mais justo e pacífico, mais sincero, mais à medida do homem”. 
Na sequência, o Papa mencionou o Beato Ivan Merz, proclamado Beato por São João Paulo II em Banja Luka: “Que ele seja sempre o seu protetor e o seu exemplo!”.
Enaltecendo ainda o engajamento dos jovens no diálogo ecumênico e inter-religioso, encorajou todos a perseverar nesta obra com gestos concretos de proximidade e ajuda aos mais pobres e necessitados.
Terminando, recordou que “a juventude não é passividade, mas esforço tenaz por alcançar metas importantes, mesmo que isso custe; não é fechar os olhos às dificuldades, mas recusar os comprometimentos e a mediocridade; não é evasão ou fuga, mas compromisso de solidariedade com todos, particularmente com os mais frágeis”.  Como palavras finais, o Papa pediu que rezem por ele. 
Antes de deixar o local, Francisco saudou alguns jovens enfermos e, do terraço, concedeu a bênção aos fiéis reunidos fora do edifício. (CM)
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Papa deixa Sarajevo: cumprida mais uma missão de paz

O Pontífice encerrou a sua visita à cidade de Sarajevo sábado (06/06) às 20h locais. No aeroporto internacional, foi acolhido pelo membro católico da Presidência, Dragan Covic, e a despedida foi breve, sem discursos oficiais.
"Obrigado pela companhia!"
No voo de retorno para Roma, o Papa deve cumprir a promessa feita na ida e dedicar um pouco de tempo aos 65 jornalistas credenciados que o acompanharam nesta missão: 
Disseram-me que seria melhor cumprimentar vocês depois, porque o tempo é pouco... No voo da volta vou saudá-los. Obrigado pela companhia!”. 
No avião da Alitalia que levou o Pontífice, além de seus colaboradores da Cúria e da equipe da imprensa, viajou também um auxiliar da Secretaria de Estado. O Papa Francisco adotou o hábito de levar sempre em sua comitiva, nas viagens internacionais, um funcionário do Vaticano escolhido pessoalmente por ele. (CM)
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                                                                                    Fonte: cnbb.org.br      news.va

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