A renúncia do Papa
A surpresa foi
total, e se espalhou logo por todo o mundo: no dia 11 de fevereiro deste ano de
2013, o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia, marcando dia e hora para entregar
o cargo, às 20 horas do dia 28 deste mês de fevereiro.
Uma
decisão tomada no íntimo de sua consciência, mas anunciada a todos, de maneira
súbita e inesperada.
Agora,
rapidamente, a surpresa passa a fato consumado. A Igreja vive uma situação
inédita, com inesperado potencial de consequências.
Em
primeiro lugar, fica muito ressaltada a nobreza do gesto, que angariou um
grande respeito pela figura de Bento XVI.
Com
sua decisão, e da maneira como ele a anunciou, mostrou admirável desprendimento
pessoal e grande senso de responsabilidade.
Além
disto, pela natureza do fato, o Papa demonstrou pleno uso de suas faculdades,
deixando a todos a certeza de que agiu com plena consciência e com perfeita
liberdade, sem nenhuma pressão externa. Ele fez questão de deixar a certeza de
sua perfeita capacidade de pensar e de decidir livremente.
O
gesto, com certeza, tem um peso moral muito grande, pela demonstração de
desprendimento do poder, de humildade, e de senso de serviço com que ele
exerceu este cargo tão importante no contexto da Igreja.
Ele
podia ter efetivado a renúncia de imediato, retirando-se subitamente. Mas não!
Ele quis garantir um tempo adequado para as providências a serem tomadas em
vista, sobretudo, do processo de escolha do novo Papa.
Por
este gesto Bento XVI ficará na história. Será sua maior contribuição à Igreja.
Marcando
um dia para efetivar sua renúncia, Bento XVI sinaliza o ritmo para os
encaminhamentos a serem dados. Com isto fica aberta a questão da influência que
Bento XVI poderá exercer no processo de sua sucessão. Pois esta é uma situação
completamente nova na história recente da Igreja. Nunca se fez um conclave
contando com a figura de um "papa emérito”, para evocar a situação mais
parecida que se vive hoje na Igreja, com a existência de tantos "bispos
eméritos”.
A
interrogação aumenta quando nos perguntamos como será empregado pelos cardeais
este tempo prévio, de quase vinte dias, antes de serem desencadeados os
preparativos do conclave. Pois o clima eleitoral já se instalou, com o grande
interesse que ele suscita. De fato, vamos viver uma situação que não encontra
similar na história da Igreja. E isto poderá proporcionar condições bem
diferentes para o novo Papa que for eleito.
Outra
curiosidade, fácil de comprovar, será a atividade de Bento XVI nesta fase de
transição que já começou. Simbolicamente é interessante que ela coincida com a
quaresma. Com a perspectiva de sua próxima renúncia, poderia parecer que seus
gestos e palavras agora não tivessem mais tanto significado, vindos de um papa
com seus dias contados. Mas ao contrário, pela importância do seu gesto, e pela
maneira como foi feito, Bento XVI se revestiu de grande autoridade moral, em
vista, sobretudo, de ter criado um fato novo na Igreja, cujas consequências
poderão também surpreender. Tudo isto reforça sua importância, como
protagonista de uma situação inédita, e como exemplo de abnegação pessoal e de
serviço à Igreja.
O
gesto de sua renúncia se constitui na culminância do seu pontificado. Vale à
pena acompanhar agora seus desdobramentos.
Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales (SP)
Fonte: www.adital.org.br Foto: www.diocesederiobranco.org.br
Fonte: www.adital.org.br Foto: www.diocesederiobranco.org.br
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