Reminiscências
de um Papa
Diante da pessoa
de Josef Ratzinger sempre houve um grupo de apreciadores que reconheciam seus
dotes, quase únicos, de inteligência, de retidão, de fé e de coragem. Entre
estes, “cum granu salis” eu me incluo. Mas também sempre teve, a certa
distância, um grupo poderoso, de adversários (alguns até inimigos)
figadais. Tais organizações em tudo encontravam motivos para discordar,
repreender e mostrar outras direções a serem palmilhadas. “Levantou-se grande
perseguição à Igreja” (At 8,1) continua em pleno vigor hoje. Mas uma vez que a
mudança de manejo do leme, da nau de Pedro, é fato consumado, quero dar alguns
traços, que ficarão para sempre em mim, sobre essa rica personalidade.
De tantas vezes
que com ele me encontrei (antes de ele ser Papa e depois), uma característica
evidente era a sua bondade, a atenção plena e a sua conversa agradável. A
descrição de homem de briga, de pessoa impositiva, é completamente
imerecida. Os seus escritos (mais de 600), são de uma clareza ofuscante,
para quem os sabe ler. Atualmente é o maior teólogo cristão vivo. E o que é
mais importante, seus ensinamentos são confiáveis, por ser um grande conhecedor
de toda a Teologia, e ser plenamente ortodoxo e afinado com a tradição
católica. Impediu, com seu profundo conhecimento, que as orientações do
Concílio Vaticano II fossem desviadas de seus verdadeiros objetivos. Uma
intervenção sua, de radical clareza, e repetindo apenas os ensinamentos do
Concílio, foi a exortação Dominus Iesus que impediu a Igreja de entrar num
caminho de relativismo e de esquecimento dos ensinamentos milenares da Igreja.
O seu diálogo com o mundo moderno, especialmente com a classe pensante, foi de
um brilho nunca visto. A aproximação com os judeus foi a melhor da História.
Como homem de larga visão tentou resolver o grande problema dos católicos,
manipulados pelo governo comunista da China. Tentou, talvez de maneira
frustrante, reaproximar os católicos lefebrianos, facilitando-lhes a liturgia
de João XXIII. O Brasil lembra com saudades a sua visita ao país, e por ter
escolhido a nossa pátria para ser sede da Jornada Mundial da Juventude. “No
meio da Igreja o Senhor o fez falar” ( Eclo 15,5).
Dom
Aloísio Roque Oppermann - Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)
Fonte: www.cnbb.org.br Ilustração: www.diocesesantiago.cv
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