"América Latina, continente de esperança"
Cidade do
Vaticano (RV) - Na Missa celebrada na Basílica de São Pedro no final da tarde
desta sexta-feira (12/12) por ocasião da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, o
Papa Francisco afirmou que a América Latina é o continente da esperança.
Celebrada em espanhol, a Missa foi acompanhada por instrumentos típicos do
folclore latino-americano e cantos da Missa Crioula, composta por Ariel
Ramirez, e dirigida na ocasião por seu filho. O Cardeal Raimundo Damasceno
Assis concelebrou, a convite de Francisco.
Leia a íntegra
da homilia:
A Mãe de Deus permanece com seu povo |
"Que os
povos vos louvem, ó Deus,
Tenha Deus
piedade de nós e nos abençoe, faça resplandecer sobre nós a luz da sua face, para
que se conheçam na terra os seus caminhos e em todas as nações a sua salvação.
Que os povos vos
louvem, ó Deus, que todos os povos vos glorifiquem.
Alegrem-se e
exultem as nações, porquanto com equidade regeis os povos e dirigis as nações
sobre a terra. (Salmo 66)
A oração do
salmista, de súplica, de perdão e de benção dos povos e das nações e, ao mesmo
tempo, de alegria e louvor, expressa o sentido espiritual desta celebração
Eucarística. São os povos e as nações de nossa Grande Pátria latino-americana
que hoje comemoram com gratidão e alegria a festividade de sua “padroeira”,
Nossa Senhora de Guadalupe, cuja devoção se estende do Alasca até a Patagônia.
E com o Arcanjo Gabriel e Santa Isabel, até nós, eleva-se a nossa prece filial:
“Ave Maria, cheia de Graça, o Senhor é contigo…” (Lc 1,28).
Nesta
festividade de Nossa Senhora de Guadalupe, faremos grata memória de sua visita
e materna companhia; cantaremos com Ela o seu “magnificat”; e lhe confiaremos a
vida de nossos povos e a missão continental da Igreja.
Maria é a grande missionária de seu Filho |
Quando apareceu
a San Juan Diego em Tepeyac, apresentou-se como a “perfeita sempre Virgem Santa
Maria, Mãe do verdadeiro Deus” (Nican Mopohua); e deu lugar a uma nova visita.
Correu pressurosa para abraçar também os novos povos americanos, numa dramática
gestação. Foi como “ um grande sinal no céu: uma mulher revestida do sol,
a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1),
que assumiu para si a simbologia cultural e religiosa dos indígenas, anuncia e
doa seu Filho aos novos povos de sofrida mestiçagem.
Muitos pularam
de alegria e esperança diante de sua visita e diante do dom de seu Filho e a
mais perfeita discípula do Senhor se tornou “a grande missionária que levou o
Evangelho à nossa América” (Aparecida, 269). O Filho de Maria Santíssima,
Imaculada grávida, se revela assim desde as origens da história dos novos povos
como “o verdadeiro Deus, graças ao qual se vive”, boa nova da dignidade filial
de todos os seus habitantes. Já ninguém mais é servo, mas todos somos filhos de
um mesmo Pai e irmãos entre nós.
O Senhor realizou maravilhas em Maria |
A Santa Mãe de
Deus não apenas visitou estes povos, mas quis permanecer com eles. Deixou
impressa misteriosamente a sua imagem sagrada no “manto” de seu mensageiro para
que nos recordássemos sempre, tornando-se assim símbolo da aliança de Maria com
estes povos, a quem se confere alma e ternura.
Por sua
intercessão, a fé cristã começou a ser o mais rico tesouro da alma dos povos
americanos, cuja pérola preciosa é Jesus Cristo: um patrimônio que se transmite
e se manifesta até hoje no batismo de uma multidão de pessoas na fé, na
esperança e na caridade de muitos, na preciosidade da piedade popular e também
no ‘ethos’ dos povos, visível na consciência da dignidade da pessoa humana, na
paixão pela justiça, na solidariedade com os mais pobres e sofredores, na
esperança, por vezes contra toda esperança.
Por isso nós,
hoje, podemos continuar a louvar Deus pelas maravilhas que atuou na vida dos
povos latino-americanos. Deus escondeu estas coisas aos sábios e entendidos e
as revelou aos pequenos e simples de coração” (cf. Mt 11,21). Nas maravilhas
que o Senhor realizou em Maria, Ela reconhece o estilo e o modo de agir de Seu
Filho na história da salvação. Superando os juízos mundanos, destruindo os
ídolos do poder, da riqueza, do sucesso a todo custo, denunciando a
autossuficiência, a soberba e os messianismos secularizados que afastam de
Deus, o cântico mariano confessa que Deus se compraz em subverter as ideologias
e as hierarquias mundanas. Enaltece os humildes, auxilia os pobres e os
pequeninos, sacia com bens, bênçãos e esperanças os que confiam em sua
misericórdia de geração em geração, enquanto abate os ricos, os poderosos e os
dominadores de seus tronos.
Que Maria proteja o "continente da esperança" |
O “Magnificat”
nos introduz nas Bem-aventuranças, síntese primordial da mensagem evangélica. À
sua luz, nos sentimos impulsionados a pedir que o futuro da América Latina seja
forjado pelos pobres e por aqueles que sofrem, pelos humildes, por aqueles que
têm fome de justiça, pelos piedosos, pelos puros de coração, por aqueles que
trabalham pela paz, pelos perseguidos por causa do nome de Cristo, porque
“deles será o reino dos Céus” (cf. Mt 5,1-11).
Fazemos esta
exortação porque a América Latina é o “continente da esperança”, porque para
ela esperam-se novos modelos de desenvolvimento que conjuguem tradição cristã e
progresso civil, justiça e igualdade com reconciliação, desenvolvimento
científico e tecnológico com sabedoria humana. Sofrimento fecundo com alegria
esperançosa. É possível tutelar esta esperança somente com grandes doses de
verdade e de amor, fundamentos de toda realidade, motores revolucionários de
uma autêntica vida nova.
Que a Virgem de Guadalupe conduza todos os seus filhos |
Depositemos
estas realidades e desejos no altar como dom agradável a Deus. Implorando o Seu
Perdão e confiando em Sua misericórdia, celebramos o sacrifício e a vitória
pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o único Senhor, o “libertador” de
todas as nossas escravidões e misérias derivadas do pecado. Ele nos chama a
viver a verdadeira vida, uma vida mais humana, uma convivência como Filhos e
irmãos, já abertas as portas “da nova terra e dos novos céus” (Ap 21,1).
Imploremos a Santíssima Virgem Maria, em sua vocação guadalupana – a Mãe de
Deus, a Rainha, a minha Senhora, a minha jovenzinha, a minha pequena, como a
chamou San Juan Diego, e com todos os apelativos amorosos com os quais se
dirigem a Ela na piedade popular – para que continue a acompanhar, ajudar e
proteger os nossos povos. E para que conduza, por mão, todos os filhos que
peregrinam nessas terras ao encontro de seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor,
presente na Igreja, em sua sacralidade, e especialmente na Eucaristia, presente
no tesouro de sua Palavra e ensinamentos, presente no santo povo fiel de Deus,
naqueles que sofrem e nos humildes de coração. Assim seja. Amém!"
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Momentos da Celebração
Fonte: radiovaticana.va
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