sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A última pregação de Advento

 ao Papa e à Cúria

Cidade do Vaticano (RV) –  O “meio mais eficaz” para conservar a paz “é a certeza de ser amados por Deus”. Este foi, em síntese, o tema da última pregação do Advento do Padre Raniero Cantalamessa ao Papa Francisco e à Cúria Romana, reunidos na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Neste ano, as pregações das sextas-feiras do Advento foram dedicadas “à paz fruto do espírito”.
Atentos à exposição do pregador
Instituições místicas fulgurantes, duras práticas ascéticas. Percursos diferentes com um único objetivo: chegar a obter a paz interior. Padre Raniero Cantalamessa recordou alguns santos e pensadores que ao longo de dois mil anos de história cristã escalaram o caminho da paz do espírito, no âmbito da tradição espiritual da Igreja.
O Pregador da Casa Pontifícia começou por São Paulo, dizendo que quando ele  fala dos ‘frutos do espírito’ coloca a paz em “terceiro lugar”, após o amor e a alegria e antes da benevolência e da bondade até o domínio de si.  E enquanto os carismas são distintos  e obra exclusiva do Espírito - que os concede a quem e quando quer -, os frutos do Espírito, ao contrário, são “idênticos para todos”. Em outras palavras – explicou – nem todos na Igreja podem ser apóstolos e profetas, mas todos “podem e devem ser caridosos, pacientes, humildes, pacíficos” e assim por diante. Portanto, a paz, fruto do Espírito, indica a condição, o estado de alma e o estilo de vida de quem, “mediante esforço e vigilância, atingiu uma certa pacificação interior”.
Sintonizados com a profunda mensagem
Santo Agostinho é aquele que começou a indicar na Igreja um dos caminhos acessíveis à paz interior, tanto aos contemplativos quanto aos cristãos de vida ativa. E enquanto na terra – escrevia o Santo de Hipona -  “o lugar do nosso repouso é a vontade de Deus, no céu este lugar será  o próprio Deus”:
Naquela paz não é necessário que a razão domine os impulsos porque não existirão, mas Deus dominará o homem, a alma espiritual, o corpo e será tão grande a serenidade e a disponibilidade à submissão, quão grande é a delícia de viver e dominar. E então, em todos e em cada um, esta condição será eterna e se terá a certeza de que é eterna e por isto a paz de tal felicidade, ou seja, a felicidade de tal paz, será o sumo bem”.
Oração de agradecimento ao Senhor
Célebre, por percorrer o caminho da paz, foi também a “doutrina da santa indiferença” de Ignácio de Loyola – onde as preferências pessoais são colocadas de lado, que modo que, o que dá a paz ao coração, após longo discernimento, é aquilo que está conforme o desejo de Deus. Ou então, na “Imitação de Cristo”, um meio sugerido é o de evitar a “vã curiosidade” pois o que conta é seguir Cristo sem dar peso àquilo que fazem os outros. Em todos estes e em outros modos – explicou o Padre Cantalamessa – o que é evidenciado é “a luta da carne contra o espírito”:
O Espírito Santo não é a recompensa aos nossos esforços de mortificação, mas aquilo que os torna possíveis e frutuosos; não está somente no final, mas também no início do processo (...). Neste sentido se diz que a paz é fruto do espírito; ela é o resultado do nosso esforço, tornado possível pelo Espírito de Cristo. Uma mortificação voluntária e muito confiante de si mesma pode tornar-se – e se torna frequentemente – também ela uma obra da carne”.
Padre Cantalamessa entrega conteúdo das reflexões a Francisco
Para o Frei capuchinho, “o meio mais eficaz para conservar a paz do coração” repousa sobretudo em uma certeza, a de “ser amados por Deus”, assim como os anjos afirmam  na noite de Natal: “paz na terra aos homens que Deus ama”. Neste ponto Padre Cantalamessa ressalta a profunda diferença entre o significado que o Evangelho atribui àquele “divino beneplácito” anunciado pelos anjos, em relação àquele dado, por exemplo, pela seita dos essênios de Qumran, para os quais os homens amados por Deus são somente um grupo de eleitos:
Junto aos essênios de Qumran, ‘o divino beneplácito’ discrimina; são somente os adeptos da seita. No Evangelho “os homens da divina benevolência” são todos os homens, sem exceção (...). Se a paz fosse dada aos homens pela sua “boa vontade”, então sim que ela seria limitada a pouco, àqueles que a merecem; mas como é dada pela boa vontade de Deus, pela graça, ela é oferecida a todos”.
Santa Teresa de Ávila, conclui o Padre Cantalamessa, “nos deixou uma espécie de testamento, que é útil repetir cada vez que temos necessidade de reencontrar a paz do coração”:
Nada te turbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda; a paciência tudo pode; a quem tem Deus nada falta. Só Deus basta”. (JE)
                                                                                       Fonte: radiovaticana.va
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