ao Papa e à Cúria
Cidade do
Vaticano (RV) – O “meio mais eficaz” para conservar a paz “é a
certeza de ser amados por Deus”. Este foi, em síntese, o tema da última
pregação do Advento do Padre Raniero Cantalamessa ao Papa Francisco e à Cúria
Romana, reunidos na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Neste ano, as
pregações das sextas-feiras do Advento foram dedicadas “à paz fruto do
espírito”.
Atentos à exposição do pregador |
Instituições
místicas fulgurantes, duras práticas ascéticas. Percursos diferentes com um
único objetivo: chegar a obter a paz interior. Padre Raniero Cantalamessa
recordou alguns santos e pensadores que ao longo de dois mil anos de história
cristã escalaram o caminho da paz do espírito, no âmbito da tradição espiritual
da Igreja.
O Pregador da
Casa Pontifícia começou por São Paulo, dizendo que quando ele fala dos
‘frutos do espírito’ coloca a paz em “terceiro lugar”, após o amor e a alegria
e antes da benevolência e da bondade até o domínio de si. E enquanto os
carismas são distintos e obra exclusiva do Espírito - que os concede a
quem e quando quer -, os frutos do Espírito, ao contrário, são “idênticos para
todos”. Em outras palavras – explicou – nem todos na Igreja podem ser apóstolos
e profetas, mas todos “podem e devem ser caridosos, pacientes, humildes,
pacíficos” e assim por diante. Portanto, a paz, fruto do Espírito, indica a
condição, o estado de alma e o estilo de vida de quem, “mediante esforço e
vigilância, atingiu uma certa pacificação interior”.
Sintonizados com a profunda mensagem |
Santo Agostinho
é aquele que começou a indicar na Igreja um dos caminhos acessíveis à paz
interior, tanto aos contemplativos quanto aos cristãos de vida ativa. E
enquanto na terra – escrevia o Santo de Hipona - “o lugar do nosso
repouso é a vontade de Deus, no céu este lugar será o próprio Deus”:
“Naquela
paz não é necessário que a razão domine os impulsos porque não existirão, mas
Deus dominará o homem, a alma espiritual, o corpo e será tão grande a serenidade
e a disponibilidade à submissão, quão grande é a delícia de viver e dominar. E
então, em todos e em cada um, esta condição será eterna e se terá a certeza de
que é eterna e por isto a paz de tal felicidade, ou seja, a felicidade de tal
paz, será o sumo bem”.
Oração de agradecimento ao Senhor |
Célebre, por
percorrer o caminho da paz, foi também a “doutrina da santa indiferença” de Ignácio
de Loyola – onde as preferências pessoais são colocadas de lado, que modo que,
o que dá a paz ao coração, após longo discernimento, é aquilo que está conforme
o desejo de Deus. Ou então, na “Imitação de Cristo”, um meio sugerido é o de
evitar a “vã curiosidade” pois o que conta é seguir Cristo sem dar peso àquilo
que fazem os outros. Em todos estes e em outros modos – explicou o Padre
Cantalamessa – o que é evidenciado é “a luta da carne contra o espírito”:
“O Espírito
Santo não é a recompensa aos nossos esforços de mortificação, mas aquilo que os
torna possíveis e frutuosos; não está somente no final, mas também no início do
processo (...). Neste sentido se diz que a paz é fruto do espírito; ela é o
resultado do nosso esforço, tornado possível pelo Espírito de Cristo. Uma
mortificação voluntária e muito confiante de si mesma pode tornar-se – e se
torna frequentemente – também ela uma obra da carne”.
Padre Cantalamessa entrega conteúdo das reflexões a Francisco |
Para o Frei
capuchinho, “o meio mais eficaz para conservar a paz do coração” repousa
sobretudo em uma certeza, a de “ser amados por Deus”, assim como os anjos
afirmam na noite de Natal: “paz na terra aos homens que Deus ama”. Neste
ponto Padre Cantalamessa ressalta a profunda diferença entre o significado que
o Evangelho atribui àquele “divino beneplácito” anunciado pelos anjos, em
relação àquele dado, por exemplo, pela seita dos essênios de Qumran, para os
quais os homens amados por Deus são somente um grupo de eleitos:
“Junto aos
essênios de Qumran, ‘o divino beneplácito’ discrimina; são somente os adeptos
da seita. No Evangelho “os homens da divina benevolência” são todos os homens,
sem exceção (...). Se a paz fosse dada aos homens pela sua “boa vontade”, então
sim que ela seria limitada a pouco, àqueles que a merecem; mas como é dada pela
boa vontade de Deus, pela graça, ela é oferecida a todos”.
Santa Teresa de
Ávila, conclui o Padre Cantalamessa, “nos deixou uma espécie de testamento, que
é útil repetir cada vez que temos necessidade de reencontrar a paz do coração”:
“Nada te turbe,
nada te espante, tudo passa, Deus não muda; a paciência tudo pode; a quem tem
Deus nada falta. Só Deus basta”. (JE)
Fonte: radiovaticana.va
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