A misericórdia pode nos salvar da hipocrisia da lei
Cidade do
Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou a missa da manhã na Casa Santa Marta,
nesta segunda-feira, 15, e dedicou a sua homilia ao Evangelho do dia, no qual
os chefes dos sacerdotes perguntam a Jesus sobre a autoridade com a qual
realiza suas obras. “Esta pergunta – explicou o Pontífice – mostra o “coração
hipócrita” daquele povo. “A eles, não interessava a verdade, queriam só os seus
interesses e se deixavam levar pelo vento, agiam como ‘bandeiras, por aqui, por
ali’; todos sem consistência. Corações sem consistência: negociavam tudo: a
liberdade interior, a fé, a pátria; menos a aparência. A eles importava apenas
sair bem das situações; eram oportunistas, tiravam proveito das situações”.
Que Deus nos dê a graça de sentir-nos pecadores |
“Alguém de vocês
pode me dizer: ‘Mas aquele povo era observante da lei, aos sábados não
caminhavam muito, nunca iam à mesa sem lavar as mãos, eram pessoas muito
seguras de seus hábitos’. Sim, é verdade, mas nas aparências. Eram fortes, mas
eram ‘engessados’. Seu coração era fraco, não sabiam no que acreditavam. E por
isso, sua vida era toda regrada por fora, mas seu coração ia para o outro lado:
tinham o coração fraco e a pele engessada, forte, dura. Ao contrário, Jesus nos
ensina que o Cristianismo deve ter o coração forte, o coração sólido, o coração
que cresce sobre a rocha que é Cristo, e caminha com prudência. Com o coração,
com a rocha, não se negocia!”.
“Este é o drama
da hipocrisia daquele povo, e Jesus nunca negociava seu coração de Filho do
Pai. Era muito aberto às pessoas, procurava caminhos para ajudar. ‘Isto não se
pode fazer, a nossa disciplina, a nossa doutrina diz que não se pode fazer!’
diziam elas. ‘Por que teus discípulos comem o trigo nos campos, quando
caminham, aos sábados? Não se pode fazer. Eram muito rígidos em sua disciplina:
a disciplina não se toca, é sagrada’”.
Papa Francisco
recordou quando “Pio XII nos libertou daquela cruz tão pesada, o jejum
eucarístico”:
“Mas alguns de
vocês talvez se lembrem. Não se podia beber nem mesmo uma gota d’água. Nem
isso! E para escovar os dentes, a água não deveria ser engolida. Mas eu mesmo
quando jovem fui me confessar porque acreditava que tivesse engolido uma gota
d’água. É verdade ou não? É verdade. Quando Pio XII mudou a disciplina – ‘Ah,
heresia! Não! Tocou a disciplina da Igreja!’ – muitos fariseus se
escandalizaram. Muitos. Porque Pio XII fez como Jesus: viu as necessidades das
pessoas. ‘Mas coitados, com tanto calor!’. Esses padres que celebravam três
Missas, a última à uma da tarde, depois do meio-dia, em jejum. A disciplina da
Igreja. E esses fariseus eram assim – ‘a nossa disciplina’ – rígidos na
pele, mas, como Jesus lhes diz, ‘podres no coração’, fracos, fracos até a
podridão. Tenebrosos no coração”.
“Este é o drama
dessas pessoas” e Jesus denuncia a hipocrisia e o oportunismo:
“Também a nossa
vida pode se tornar assim, inclusive a nossa vida. E algumas vezes, lhes
confesso, quando vi um cristão, uma cristã assim, com o coração fraco, não
firme sobre a rocha – Jesus – e com tanta rigidez fora, pedi ao Senhor: ‘Mas
Senhor, jogue-lhe avante uma casca de banana para que dê uma bela escorregada,
se envergonhe de ser pecador e assim encontra a Você, que é o Salvador’. Eh,
muitas vezes um pecado nos faz envergonhar tanto e encontrar o Senhor,
que nos perdoa, como esses doentes que estavam aqui e iam ao Senhor para se
curar”.
“Mas as pessoas
simples” – observou o Papa - “não erravam”, não obstante as palavras desses
doutores da lei, “porque as pessoas sabiam, tinham aquele faro da fé”.
O Papa conclui a
homilia com esta oração: “Peço ao Senhor a graça que o nosso coração seja
simples, luminoso com a verdade que Ele nos dá, e assim possamos ser amáveis,
perdoadores, compreensíveis com os outros, de coração amplo com as pessoas,
misericordiosos. Jamais condenar, jamais condenar. Se você tem vontade de
condenar, condene a si mesmo, que algum motivo terá, eh?”. “Peçamos ao
Senhor a graça que nos dê esta luz interior, que nos convença que a rocha é
somente Ele e não tantas histórias que inventamos como coisas importantes; e
que Ele nos diga – Ele nos diga! – o caminho, Ele nos acompanhe na estrada, Ele
nos alargue o coração, para que possam entrar os problemas de muitas pessoas e
Ele nos dê uma graça que elas não tinham: a graça de sentir-nos pecadores”.
Fonte: radiovaticana.va
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