O Cardeal entra na Igreja de Roma, não entra numa corte
Cidade do
Vaticano (RV) – O Santo Padre presidiu, na manhã deste domingo, na
Basílica Vaticana, à solene concelebração Eucarística, com os novos Cardeais e
com os membros do Colégio Cardinalício, presentes em Roma.
Durante a
homilia, que pronunciou durante a Santa Missa, Papa Francisco partiu da oração
da coleta da liturgia de hoje: “A vossa ajuda, Pai misericordioso, sempre nos
torne atentos à voz do Espírito”. Esta oração convida-nos a uma atitude
fundamental: a escuta ao Espírito Santo, que vivifica a Igreja e a anima.
“Com a sua força
criativa e renovadora, frisou o Papa, o Espírito sustenta sempre a esperança do
Povo de Deus, que caminha na história e sempre sustenta, como Paráclito, o
testemunho dos cristãos. Neste momento, juntamente com os novos Cardeais,
queremos ouvir a voz do Espírito, que nos fala através das Escrituras
proclamadas”.
A seguir, o
Pontífice citou a passagem da primeira Leitura, do Levítico, na qual ressoa
este apelo do Senhor ao seu povo: “Sede santos, porque eu, o Senhor, vosso
Deus, sou santo” e a frase de Jesus que ecoa no Evangelho: “Haveis, pois, de
ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.
“Estas palavras
interpelam a todos nós, discípulos do Senhor, e hoje são dirigidas
especialmente a mim e, de modo particular, a vocês, queridos Irmãos Cardeais,
que, desde ontem, começaram a fazer parte do Colégio Cardinalício. Imitar a
santidade e a perfeição de Deus pode parecer uma meta inatingível; contudo, a
primeira Leitura e o Evangelho sugerem os exemplos concretos para que a atitude
de Deus se torne a regra do nosso agir”.
Lembremo-nos,
porém, afirmou o Santo Padre, que o nosso esforço, sem o Espírito Santo, seria
vão! A santidade cristã não é, primeiramente, obra nossa, mas fruto da
docilidade – deliberada e cultivada – do Espírito de Deus, três vezes Santo.
E, recordando
ainda o texto do Levítico, onde se lê: “Não odieis um irmão vosso no íntimo do
coração...; não vos vingueis; não guardeis rancor, mas Amai o vosso próximo”, o
Bispo de Roma esclareceu:
“Estas atitudes
nascem da santidade de Deus. Nós, porém, somos tão diferentes, tão egoístas e
orgulhosos...; no entanto, a bondade e a beleza de Deus nos atraem e o Espírito
Santo pode nos purificar, transformar, moldar, dia após dia”.
O Papa recorda
que, no Evangelho, Jesus nos fala também da santidade e explica e transmite a
sua nova lei, através de algumas antíteses entre a justiça imperfeita dos
escribas e fariseus e a justiça superior do Reino de Deus. A primeira antítese
do texto de hoje tem a ver com a vingança: “Olho por olho e dente por dente”.
... se alguém bater na sua face direita, dá-lhe também a outra”. Não só não
devemos restituir ao outro o mal que nos fez, mas temos também que nos esforçar
em fazer o bem, de modo exemplar.
O Pontífice
retomou, depois, a segunda antítese, que se refere aos inimigos: “Deveis amar o
vosso próximo e odiar o vosso inimigo”. Mas, está escrito: “Amai os vossos
inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”. A quem quer segui-Lo, Jesus
pede para amar a pessoa que não merece, sem retribuição, a fim de preencher as
lacunas de amor que há nos corações, nas relações humanas, nas famílias, nas
comunidades, no mundo.
Neste sentido, o
Papa recordou que “Jesus não veio para nos ensinar as boas maneiras, as
cortesias; para isso, não era preciso descer do Céu e morrer na cruz. Cristo
veio para nos salvar, para nos mostrar o caminho, o único caminho de saída das
areias movediças do pecado: este é o caminho da misericórdia. Ser santo não é
um luxo, mas é necessário para a salvação do mundo. E o Papa exortou:
“Queridos Irmãos
Cardeais, o Senhor Jesus e a mãe Igreja nos pedem para dar testemunho, com
maior zelo e ardor, destas atitudes de santidade. É precisamente neste
suplemento de oblatividade gratuita que consiste a santidade de um Cardeal”.
Por conseguinte,
o Papa Francisco exortou os Cardeais: amemos aqueles que nos são hostis;
abençoemos quem fala mal de nós; saudemos com um sorriso quem, talvez, não
merece; não aspiremos a fazer valer o nosso poder, mas oponhamos a mansidão à
prepotência; esqueçamos as humilhações sofridas. Deixemo-nos guiar sempre pelo
Espírito de Cristo: Ele se sacrificou na cruz, para podermos ser
"canais" por onde passa a sua caridade. Eis o comportamento e a
conduta de um Cardeal:
“O Cardeal entra
na Igreja de Roma, não entra em uma corte. Ajudemo-nos, mutuamente, a evitar
hábitos e comportamentos de corte: intrigas, críticas, facções, favoritismos,
preferências. A nossa linguagem deve ser a do Evangelho: ‘Sim, sim; não, não’;
as nossas atitudes devem ser as das bem-aventuranças; e o nosso caminho, o da
santidade”.
Hoje, disse o
Pontífice, o Espírito Santo nos fala que “somos templos, onde se celebra uma
liturgia existencial: a da bondade, do perdão, do serviço”. Em uma única
palavra, onde se celebra “a liturgia do amor”. E ponderou:
“Este nosso
templo se torna, de certo modo, profanado, quando descuidamos dos deveres para
com o próximo; quando, o menor dos nossos irmãos, encontra lugar no nosso
coração, é o próprio Deus que nele habita; mas, quando excluímos este irmão,
não acolhemos o próprio Deus. Um coração vazio de amor é como uma igreja
dessacralizada, subtraída ao serviço de Deus e destinada a outro fim”.
O Papa Francisco
concluiu sua homilia, dirigindo-se, mais uma vez, aos Cardeais presentes,
exortando-os a “permanecerem unidos em Cristo e entre nós”! E lhes pediu para o
acompanhem de perto, com suas orações, conselhos e colaboração.
Por fim, o Santo
Padre convidou os bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e leigos a
se unirem, na invocação ao Espírito Santo, para que o Colégio dos Cardeais seja
cada vez mais abrasado de caridade pastoral, cada vez mais cheio de santidade,
para servir o Evangelho e ajudar a Igreja a irradiar pelo mundo o amor de
Cristo. (MT)
Fonte: radiovaticana.va news.va
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