6º Domingo do Tempo Comum
Diante do
Evangelho deste domingo, antes de tudo, é preciso compreender o seu espírito. O
decálogo de Moisés nem sempre era propositivo: “não matarás, não adulterarás,
não julgarás...” A lei dizia: “não, não, não...”. Jesus já havia dado o
preâmbulo do seu discurso: as bem-aventuranças. Sua homilia é propositiva e
positiva, ao chamar os seguidores da Boa Nova de felizes, bem-aventurados. É
preciso, portanto, entender que Jesus não está preocupado com a exterioridade
da lei, mas com a interioridade. A lei é importante, pois ela é o pedagogo,
estabelece os limites que se opõem a idolatria. Mas a lei por si só pode nos
escravizar. São Paulo é o exemplo de religioso que percebeu que vivia uma série
de preceitos, mas não era livre, pois não se humanizava na posição de fariseu
rígido. O apóstolo escreveu em suas cartas que antes de conhecer o Cristo era
ele um seguidor da norma; vivia deste modo para que a sua consciência ficasse
em paz, esperando a recompensa obrigatória de Deus. Jesus, no Sermão da
Montanha, apresenta-nos a Boa Nova como um caminho que não só nos liberta do
pecado, como também da escravidão da lei. Não que devamos viver sem lei, mas
sim, porque ser seguidor de Jesus implica em não olhar apenas para os
preceitos, esquecendo-se do significado maior da lei. Há o risco de olharmos
para o preceito, esquecendo-nos da lei fundamental do amor e da misericórdia. A
Boa Nova nos leva também a olhar para a totalidade de nossa vida, para o
significado de nossa existência diante da proposta divina.
Seria um erro,
nesta linha, ler o texto do Evangelho deste domingo sem o espírito de Jesus.
Deste modo, poderíamos nos sentir mais aprisionados pelas palavras do Novo
Moisés (o Cristo) do que pelos preceitos judaicos. Não se trata de condenar
aquele que está divorciado, ou vive em segunda união, ou achou um homem bonito
ou uma mulher atraente na rua, ou quem jurou em uma frase impensada. Jesus
deseja que olhemos com novo olhar, que tenhamos a lei do amor em nossos
corações. Assim, mais do que uma vivência exterior, é preciso amar a todos,
amar e perdoar quem nos agride, ter um novo modo de se relacionar com a mulher
(e com o homem!), viver o casamento sem egoísmos e irresponsabilidades, falar a
verdade sem artifícios... Viver no espírito as relações humanas.
Escolhamos o bem |
Por isso, não
basta confessar os pecadinhos a cada passo numa consciência obstinada pela
pureza e não ter a vida toda transformada, convertida, o que implica em um
coração verdadeiramente voltado a Deus. É possível viver uma religião falsa, um
seguimento aparente, uma disciplina religiosa rígida, sem fé verdadeira, sem
amor, sem alegria. Ser cristão não é ser escravo de proibições, fugindo do
pecado pelo medo da condenação do Deus vingador. Ser cristão é ser seguidor do
Cristo, movido por seu amor. É sair de si mesmo movido pela mística do encontro
pessoal que coloca a vida em movimento na direção do próximo e do próprio Deus.
“Se quiseres
observar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também
viverás. (...) Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele
receberá aquilo que preferir” (Eclo 15, 16-18). Em nossa vida, fazemos escolhas
em várias ocasiões. Deus respeita a nossa liberdade de escolha, não nos força,
nem nos condena. Por outro lado, deixa-nos a sua proposta de salvação, como
orientação de vida, ou seja, previne-nos. Diante de nós, tendo a Palavra do
Senhor como referência, apresenta-se o bem e o mal, e ao mesmo tempo a vida e a
morte: se escolhemos o bem, escolhemos a felicidade; se escolhemos o mal,
optamos pela ruína. Mas se caímos, Ele sempre estende a mão para que levantemos
e nos recoloquemos no caminho.
Padre Roberto
Nentiwg
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: tesourosdaigrejacatolica.blogspot.com.br
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