7º Domingo do Tempo Comum
“Sede perfeitos
como vosso Pai dos Céus é perfeito” (Mt 5,48). Esta frase do Evangelho é
incômoda, podendo até ser aplicada com um peso indevido. Sim, pois quem é
perfeito nesta vida? E quantos, em busca de um ideal de perfeição, acabaram
sucumbindo no meio do caminho ou ficaram paralisados diante de suas culpas
demasiadas. É interessante observar que esta palavra de Jesus se dá depois de
um longo discurso sobre o amor ao próximo. Isso indica que a perfeição exigida
por Cristo não é uma exortação à impecabilidade do culto ou de uma construção
aparente de pureza; nem tão pouco, significa uma relação vertical com Deus. A
nossa busca pela perfeição é, sim, um crescimento no amor, que se concretiza
por um novo modo de se relacionar com nossos irmãos. “Ao lermos as Escrituras,
fica bem claro que a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal
com Deus. E a nossa resposta de amor também não deveria ser entendida como uma
mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos
necessitados, o que poderia constituir uma ‘caridade por receita’, uma série
de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o
Reino de Deus (cf. Lc 4,43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na
medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de
fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos” (Evangelii Gaudium
180).
"Amai os vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem" |
“Amai os vossos
inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem. Assim, vos tornareis filhos do
vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e
faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,44-45). As palavras de Jesus
devem nos incomodar, tirando-nos do comodismo, fazendo-nos dar mais do que
aquilo que é justo, mais do que se pode calcular pela lógica da retribuição
humana. É preciso entrar na dinâmica da gratuidade, que tem a sua força na
encarnação: Deus se torna humano e ama os pecadores, não retribui com mal, mas
dá a vida também pelos seus agressores. Ele faz chover sobre maus e bons, não
ama apenas os santos. Jesus nos ensina a amar de modo gratuito, sem focar no
limite do irmão, pois somos todos falhos, pequenos, participantes da
solidariedade do pecado.
Diante dos
enfrentamentos humanos, o primeiro movimento costuma ser a vingança. Parece ser
justo retribuir o mal com o mal, destruir o agressor. É preciso ter consciência
dos movimentos de nosso coração, com a clareza de que somos capazes de agredir,
vingar, bater e até matar. A consciência de que somos também agressores
ajuda-nos a crescer no amor. É preciso que se tenha clareza de que é muito
fácil e espontâneo a vida narcísica, egoísta. Proclama a poetisa Cecília Meireles:
“É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. É difícil dizer
eu te amo, assim como é fácil não dizer nada. É difícil valorizar um amor,
assim como é fácil perdê-lo para sempre”.
Diante do
movimento de ódio e ressentimento, Jesus nos dá o remédio da oração. Não é
possível orar por alguém sem que haja algum movimento positivo no coração.
Quando oramos por alguém, amamos esta pessoa em Deus. Por isso, este é o
primeiro passo para destruir a corrente de vingança e ódio. Dar a face, não
significa uma atitude ingênua, mas sim a capacidade de dar uma nova chance.
Todos, inclusive nós, queremos sempre uma nova oportunidade para tentar ser
bom, para reconstruir o que foi destruído.
É preciso viver
o amor genuíno. Viver na dinâmica do ódio e da vingança é paganismo. Assim, o
Evangelho nos questiona sobre o sentido mais profundo de nossa religião. Somos
realmente seguidores de Jesus? Que atitudes demonstram esta sintonia com as
exigências da Palavra de Deus? Só pela fidelidade no amor é que podemos nos
considerar de filhos do Pai celeste.
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: fradescarmelitas.org.br
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