André e Pedro
Santo André |
No final de novembro o calendário coloca a festa de
Santo André, no dia 30. Santo André é o padroeiro da Igreja Ortodoxa. O
interessante é saber por que os ortodoxos insistem tanto em terem Santo André
como seu Padroeiro. Através dele, na verdade, querem afirmar uma espécie de
“primado”, que Roma invoca para si mesma com tanta autoridade e desenvoltura
histórica.
Por Santo André, os ortodoxos também advogam o seu “primado”, ao menos
simbólico. E por quê? Aí entra a caprichosa interpretação que fazem do Evangelho,
encontrando em André um motivo para se julgarem mais importantes do que a
Igreja Latina. Ao menos num ponto!
Acontece que o Evangelho de João, bem no seu início, narrando como Jesus
recrutou seus primeiros discípulos, observa que André era um deles.
Aí vem o lance apreciado pelos ortodoxos, e saboreado como um bom pretexto para
reivindicarem uma espécie de “prioridade eclesial”, que seria patrimônio dos
ortodoxos, ao escolherem André como seu padroeiro.
Acontece que André, depois de ter sido convidado por Jesus, no dia seguinte,
foi falar com seu irmão Pedro, dizendo-lhe: “Encontramos o Messias”. E levou
Pedro ao encontro do Mestre.
São Pedro |
Pronto! Foi André que levou Pedro ao encontro de Jesus! Dando a esta
constatação um caráter eclesial, como se pode fazer com todos os episódios do
Evangelho, os ortodoxos simplesmente insinuam que sua Igreja tem uma espécie de
missão permanente, de indicar para todas as outras o caminho certo para ir ao
encontro do Messias verdadeiro.
Certamente não faz mal que os ortodoxos aumentem sua auto estima através do seu
importante padroeiro Santo André. Ainda mais no confronto com a Igreja Latina,
que invoca São Pedro como padroeiro, e desse fato faz derivar tantas afirmações
de sua importância eclesial.
Este episódio todo não deixa, contudo, de intrigar, quando confrontado
verdadeiramente com o Evangelho.
Esta disputa para ver quem seria o primeiro, esteve muitas vezes na mira de
Cristo, que tanto advertiu os discípulos, para não ficarem discutindo qual
deles seria o maior, ou estaria à sua direita.
Ao contrário disto, Jesus insistiu para que os discípulos deixassem estas
disputas de lado. “Entre vós não seja assim!”, dizia ele quando percebia que
seus discípulos ainda discutiam entre si a propósito de inúteis precedências.
Para as Igrejas, a disputa de poder continua sendo uma tentação permanente.
Toda organização humana, que as Igrejas também precisam ter, enseja a
oportunidade de carreira pelo poder ou de disputa por honrarias. Inclusive, a
propósito de viver o Evangelho de Cristo, a instituição eclesial vai
descobrindo mecanismos de centralização do poder, que se tornam sofisticados, e
profundamente arraigados, a ponto de resistirem a toda tentativa de retorno à
simplicidade evangélica. Pois seria tão importante o testemunho de serviço
desinteressado, a dar para a sociedade, e a praticar sobretudo nos
relacionamentos intra eclesiais.
Certamente, se Santo André falasse, e São Pedro também, diriam ainda hoje para
todas as Igrejas: “entre vós não seja assim!”.
A bem da verdade, muitos zombariam destas piedosas recomendações de Cristo,
como zombam, por exemplo, do famoso “pacto das catacumbas”, que no final do
Concílio quarenta bispos assinaram, comprometendo-se abandonar toda expressão
episcopal de poder e de privilégios, para retornar à simplicidade evangélica
que Cristo continua nos ensinando.
Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales/SP
Fonte: Site da CNBB
Ilustrações: www.sacrificiovivoesanto.wordpress.com
www.apostoladosagradoscoracoes.angelfire.com
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