O “silêncio” da pandemia
seja “fase de escuta” para o renascimento
Em mensagem em
vídeo, Francisco se dirigiu aos participantes da 4ª Conferência Internacional
de Música que começa nesta quinta-feira (4), em modalidade on-line, um evento
importante para a liturgia e a evangelização, para “enriquecer as comunidades
eclesiais e todos que trabalham no campo da música”, apesar dos desafios
impostos pela pandemia: que o “silêncio” que vivemos seja uma “fase de escuta”,
de “harmonia da voz de Deus, conduzindo à ‘sinfonia’, ou seja, à fraternidade
universal”.
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Em foto de 2019, o Papa recebe organizadores artistas do Concerto de Natal do Vaticano |
Andressa Collet – Vatican News - Para falar de Igreja e de Música, o Papa Francisco citou do profeta Isaías a Dom Quixote e Bach, da variedade de composições nos 5 continentes ao silêncio imposto pela pandemia: mas um silêncio vazio ou em fase de escuta? Essa reflexão do Pontífice foi dirigida aos participantes da 4ª Conferência Internacional de Música que começam nesta quinta-feira (4) uma jornada de dois dias para aprofundar, em modalidade on-line, o tema de “textos e contextos” em relação à Igreja e à Música. O encontro está sendo organizado pelo Pontifício Conselho para a Cultura em colaboração com o Pontifício Instituto de Música Sacra e o Pontifício Instituto Litúrgico do Ateneo Sant'Anselmo.
O patrimônio
musical da Igreja
O Papa Francisco,
através da mensagem divulgada em vídeo, expressou o desejo de que o evento
possa enriquecer as comunidades eclesiais e todos que trabalham no campo da
música, “uma área que é muito importante para a liturgia e a evangelização”. Ao
citar o profeta Isaías, o Pontífice recordou como “a Bíblia inspirou inúmeras
expressões musicais” nos 5 continentes, basta pensar no percurso histórico da
música com o canto gregoriano e Bach, por exemplo, mas também através de vários
compositores contemporâneos que interpretaram textos sagrados.
A música na era
Covid
O patrimônio
musical da Igreja, acrescentou o Papa no vídeo, é muito variado e pode apoiar
não apenas a liturgia, mas também a apresentação de concertos em teatros, nas
escolas e na catequese. Porém, Francisco não poderia deixar de lembrar que,
desde o início da pandemia da Covid-19, a atividade no campo da música foi
severamente redimensionada:
“O meu pensamento
vai a todos aqueles que foram afetados: aos músicos, que viram as suas vidas e
profissões desestabilizadas pelas exigências do distanciamento; a quem perdeu o
emprego e o contato social; a quem teve que lidar, em contextos difíceis, com
os momentos necessários de formação, educação e vida comunitária. Muitos
dedicaram esforços significativos para continuar a oferecer um serviço musical
dotado de nova criatividade. Trata-se de um empenho válido não só para a
Igreja, mas também para o horizonte público, para a própria ‘rede’, para quem
trabalha nas salas de concerto e em outros lugares onde a música está a serviço
da comunidade. Espero que também esse aspecto da vida social possa renascer,
que se volte a cantar e a tocar e a curtir juntos a música e o canto.”
O Papa, então,
encorajou quem continua sofrendo as consequências da pandemia com a ajuda do
espanhol Miguel de Cervantes que, numa das obras primas da literatura mundial
com o personagem eterno de “Dom Quixote de La Mancha”, afirmava que “onde há
música não pode haver maldade” (Parte II, c. 34). De fato, insistiu o
Pontífice, “muitos textos e composições, através do poder da música, estimulam
a consciência pessoal de todos e também criam uma fraternidade universal”.
A força da escuta
em diferentes contextos
No entanto,
refletiu Francisco na mensagem dirigida ao evento dos músicos, o próprio
profeta Isaías mostrou o “valor do silêncio”. O Papa, assim, comentou sobre a
importância do valor da pausa, da “alternância entre som e silêncio” que
permite “a escuta” – um papel fundamental em qualquer diálogo:
“Caros
músicos, o desafio comum é ouvir uns aos outros. Na liturgia, somos
convidados a ouvir a Palavra de Deus. A Palavra é o nosso ‘texto’, o texto
principal; a comunidade é o nosso ‘contexto’. A Palavra é fonte de significado,
ilumina e orienta o caminho da comunidade. Sabemos como é necessário narrar a
história da salvação em idiomas e linguagens que possam ser bem compreendidos.
A música também pode ajudar os textos bíblicos a ‘falar’ nos novos e diferentes
contextos culturais, para que a Palavra divina possa efetivamente alcançar as
mentes e os corações.”
Nesse contexto, o
Papa deu atenção especial ao que se analisa na conferência internacional, ou
seja, às formas musicais mais diferentes que expressam a variedade das culturas
e das comunidades locais, como é o caso das civilizações indígenas. O Pontífice
disse que ali “a abordagem da música está integrada com os outros elementos
rituais da dança e da festa” e afirmou que, nesse contexto, “podem surgir
narrativas envolventes a serviço da evangelização”.
O silêncio é o
quê?
A mensagem em
vídeo do Papa foi finalizada com uma pergunta dirigida aos participantes do
evento, no contexto extremo da pandemia em que vivemos:
“O silêncio que vivemos é vazio ou estamos em fase de escuta? É vazio ou estamos em fase de escuta? Permitiremos, mais tarde, o surgimento de um canto novo? Que o texto e o contexto, agora presentes numa nova forma, nos estimulem a retomar juntos o nosso caminho, pois ‘a unidade dos corações é aprofundada pela unidade das vozes’ (Istruz. Musicam sacram, 5). Que vozes, instrumentos musicais e composições continuem a expressar, no contexto atual, a harmonia da voz de Deus, conduzindo à ‘sinfonia’, ou seja, à fraternidade universal.”
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