Quaresma, um convite ao essencial
Iniciamos o tempo
da Quaresma, que é marcado por um forte apelo à conversão, buscando a
reconciliação com Deus, Pai misericordioso e justo. Quando falamos de
conversão, podemos ter presente tantas situações que tocam a vida das pessoas,
da humanidade e a nossa Casa Comum, onde vivemos. Tudo isso certamente revela a
nossa sensibilidade, em relação àquilo que fere e fragiliza a vida humana, mas
também a vida das criaturas presentes na natureza.
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Dom José Gislon |
Creio que o apelo
da Quaresma, além desse olhar para um horizonte mais amplo, é um convite para
mudarmos, e para melhor, o nosso relacionamento com Deus, mas também com as
pessoas que estão ao nosso lado no dia a dia. E o tempo favorável para tomar
uma decisão de mudar a nossa vida é hoje, não amanhã. Lembrando que a porta da
graça se abre de modo particular no tempo da Quaresma, onde somos convidados a
renovar a nossa fidelidade a Deus e aos homens.
Empenhemo-nos com
humildade na busca da conversão do coração, para acolhermos a Palavra de Deus
e, através da escuta silenciosa, saber ouvir o que ele tem a nos dizer neste
tempo de Quaresma, marcado pela pandemia, pela dor do luto e a esperança que
levamos dentro de nós, às vezes ferida e fragilizada pelas provações que
passamos. Como homens e mulheres que creem na força da fé no Cristo Jesus
ressuscitado, não podemos deixar que se apague aquela chama tênue, que ilumina
os nossos passos em direção ao portal do futuro, mesmo em meio à escuridão das
incertezas que nos cercam no momento.
À luz da Palavra
de Deus, a caminhada penitencial da Quaresma, marcada pela oração, o jejum e a
caridade, pode ser acolhida como um tempo santo, que nos faz voltar ao
essencial, fazendo jejum daquilo que não é necessário, dedicando mais tempo à
oração pessoal e ao cuidado da nossa vida interior, praticando também gestos de
caridade que vão além da simples esmola, que expressam doação de si, para
cuidar da vida do outro, dos enfermos, dos menos favorecidos, para ajudá-los a
superar a situação em que se encontram.
Como discípulos e
discípulas do Senhor Jesus, acreditamos no diálogo, que nos une para
construirmos pontes que favoreçam a paz e o cuidado daqueles e aquelas que
clamam por compaixão, ao invés de gastarmos energias erguendo muros para
proteger o individualismo, o egoísmo e a indiferença, que nos corroem
interiormente, humanamente e espiritualmente, nos tornando cegos diante da dor
que toca a realidade de vida dos irmãos e irmãs, cuja existência é
constantemente marcada por ameaças à vida, dom de Deus. Precisamos nos abrir ao
diálogo, para podermos compreender a dor que atinge e aflige também quem está
ao nosso lado, nas famílias, no mundo do trabalho, nas comunidades de fé, na
política e nas várias realidades da nossa sociedade.
Dom José Gislon - Bispo
de Caxias do Sul (RS)
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