Novas portas se abrem
Aproximadamente, quatro
bilhões de pessoas estão agora se abrigando em casa contra o contágio do novo
coronavírus. É uma medida protetora, mas traz outro perigo mortal, uma nova
pandemia de invisibilidade: a violência contra as mulheres.
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Dom José Francisco |
Cada vez mais países
adotam medidas de bloqueio contra a infecção. Cada vez mais aumentam os pedidos
crescentes de ajuda, mais linhas de ajuda e abrigos para violência doméstica,
em todo o mundo estão sendo relatadas. Em vários países, autoridades governamentais,
ativistas dos direitos das mulheres e parcerias da sociedade civil apontaram
crescentes denúncias de violência doméstica e aumento da demanda, para abrigo
de emergência, durante a crise.
O confinamento aumentou o
isolamento das mulheres com parceiros violentos, separando-as das pessoas e dos
recursos que podem ajudá-las. Parece uma tempestade perfeita, para permitir o
comportamento violento a portas fechadas. Paralelamente, à medida que os
sistemas de saúde chegam ao ponto de exaustão, os abrigos de violência
doméstica ultrapassam a capacidade de atendimento.
A violência doméstica
sempre foi uma das maiores violações dos direitos humanos. Com a pandemia, é
provável que esse número cresça, com seus impactos no bem-estar das mulheres,
em sua capacidade de participar e liderar a recuperação da sociedade e da
economia.
O grande problema é que
menos de 40% das mulheres vítimas de violência buscam qualquer tipo de ajuda ou
denunciam o crime. Menos de 10% das mulheres que procuram ajuda, vão à polícia.
Esse negacionismo compromete os cuidados e o apoio de que as sobreviventes
precisam, como tratamentos clínicos, saúde mental e apoio psicossocial.
Pior: isso também alimenta a impunidade de agressores: 1 em cada 4 países
não possui leis que protejam, especificamente, as mulheres da violência
doméstica.
Esta pandemia está
testando nossas maneiras de enxergar antigos problemas, fornecendo choques
emocionais e econômicos. A violência que agora emerge como característica
sombria de nosso tempo é um espelho e um desafio aos nossos valores, nossa
resiliência e humanidade compartilhada. É preciso não apenas sobreviver ao
coronavírus, como humanidade forte, mas emergir como humanidade renovada.
As mulheres são a mais
poderosa força no centro dessa recuperação.
Em consonância com essa
nova realidade, e contrastando com a cruel experiência do mundo, o Papa
Francisco modificou o Código de Direito Canônico e, no dia 11 de janeiro,
autorizou a abertura dos ministérios do Leitorado e do Acolitato a mulheres
leigas: isso significa que, oficialmente, elas poderão fazer leituras,
ajudar no altar durante as Missas e distribuir a santa Comunhão.
Num MOTU PROPRIO, o papa
autorizou a revisão de um documento de São Paulo VI de 1972, que só permitia
aos homens receber os dois ministérios. Dessa forma, o Papa oficializou algo
que já acontecia, na prática, em muitas partes do mundo. “Por esses
motivos, me pareceu oportuno estabelecer que podem ser leitores ou acólitos não
apenas homens, mas também mulheres, as quais, através do discernimento dos
pastores e depois de uma preparação adequada, a Igreja reconhece a firme
vontade de servir fielmente a Deus e à comunidade cristã”, escreveu o
Papa.
A partir de agora, o
primeiro parágrafo do cânone 230 do Código de Direito Canônico passará a ter uma
nova redação: “Os leigos que tenham a idade e as aptidões determinadas por
decreto da Conferência Episcopal, podem ser nomeados de forma permanente,
através do rito litúrgico estabelecido, nos ministérios dos leitores e
acólitos”, afirma o novo texto.
Esta possibilidade não é
novidade em muitas comunidades ao redor do mundo, mas passa, a partir de agora,
a ser uma prática oficial da Igreja.
Novas portas se abrem
pelas mãos de nada menos que o Papa Francisco. Quem não iria querer respirar os
novos ares desses novos tempos? Quem não iria saudar a abertura do Papa às
necessidades da Igreja em todo o mundo?
Nós, brasileiros,
representamos o primeiro mundo católico, em quantidade e em qualidade. Nosso
celeiro vocacional cresce – não ainda à medida das necessidades, que sempre
crescem antes – mas, efetivamente, mais do que em outros países. Nós somos não
apenas uma Igreja nova, mas uma nova Igreja, configurada às dores e à
Ressurreição do Senhor.
No entanto, como ainda
faltam ministros em todas as áreas! Esse novo passo dado pela Igreja, no mundo
inteiro, será uma bênção, não para a hierarquia sobrecarregada, mas para o Povo
de Deus, que agora conta com mais operários para a Vinha. E são operárias!
Enfim, a classe e a elegância das mulheres chegam aos altares do Senhor. Novas
portas se abrem.
Estamos imensamente
felizes com essa notícia do Papa. “Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela” (Mateus 16,18). São raios de luz que comprovam a atualidade e a
vitalidade do Evangelho.
Nós professamos o que
cremos, vivemos do que professamos, nos orientamos do que vivemos. Essa é a
nossa fé, razão da nossa alegria em Cristo, Nosso Senhor.
Enquanto me confio à
generosidade de suas orações, deixo a todos, irmãs e irmãos, minha bênção e meu
desejo que a Paz da noite santa natalina, que ainda impregna nossas almas,
permaneça para sempre entre nós.
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