visitou Edith Bruck, sobrevivente de Auschwitz
A escritora húngara,
quase noventa anos de idade, vive em Roma há muito tempo. L'Osservatore Romano
entrevistou-a no último mês de janeiro por ocasião do Dia da Memória.
Francisco, impressionado com o seu testemunho, hoje de surpresa, quis ir ao seu
encontro na sua casa no centro de Roma.
Vatican News - Eu li
a sua entrevista, que conta o horror que a senhora e a sua família viveram
durante o tempo da perseguição nazista, e fiquei muito impressionado. Por isso,
pedi para poder me encontrar com a senhora e visitá-la em sua casa. O Papa
Francisco neste sábado à tarde deixou o Vaticano e dirigiu-se ao centro de Roma
para uma visita privada à casa de Edith Bruck, uma escritora hebreia nascida na
Hungria que passou dois terços da sua vida na Itália. O encontro teve a presença
do diretor do L'Osservatore Romano, Andrea Monda, que em 26 de janeiro último
publicara uma comovente entrevista com a escritora, realizada por Francesca
Romana de' Angelis. https://www.osservatoreromano.va/it/news/2021-01/quo-020/la-memoria-e-vita-br-la-scrittura-e-respiro.html
Edith Bruck dedicou a
sua vida a testemunhar o que ela viveu. Foram dois desconhecidos, cuja última
voz ela recolheu no campo de concentração de Bergen-Belsen, que lhe pediram
para fazê-lo: "Relate tudo, eles não acreditarão em você, mas se você
sobreviver, conte, também por nós”. E ela cumpriu a sua promessa. O que nos
impressiona, ao ler os episódios descritos na entrevista, é o olhar de
esperança que Edith consegue transmitir. Mesmo quando ela fala dos momentos
mais sombrios, do abismo do horror em que, quando criança, foi mergulhada,
perdendo grande parte da sua família, nunca deixa de fixar o seu olhar em algo
belo e bom, em alguma pitada de humanidade que lhe permitiu continuar a viver e
a ter esperança.
Veja:
Assim, ao descrever a
vida no gueto depois de ter sido arrancada juntamente com os seus pais e irmãos
da casa na aldeia rural onde vivia, eis que fala de um homem não hebreu que dá
de presente uma carroça cheia de mantimentos para ajudar os perseguidos. Ao
falar do seu tempo de trabalho em Dachau a cavar trincheiras, eis que se
recorda de um soldado alemão que lhe atira a sua marmita para lavar, "mas
no fundo ele tinha deixado uma pouco de marmelada para mim". E enquanto
descreve o seu trabalho nas cozinhas para os oficiais, eis que aparece a figura
do cozinheiro, que lhe perguntou qual era o seu nome e ao ouvir a resposta de
Edith, com voz trémula, respondeu: "tenho uma filha da sua idade".
Dizendo isto, "tirou um pente do bolso e olhando para a minha cabeça com
os cabelos que estavam crescendo, deu-me de presente. Foi a sensação de
encontrar um ser humano à minha frente, depois de tanto tempo. Fiquei comovida
com aquele gesto que era vida e esperança". Alguns gestos são suficientes
para salvar o mundo, conclui Edith Bruck, que hoje recebeu em sua casa o Bispo
de Roma que foi ao seu encontro.
No momento de se
despedir de Edith Bruck o Papa pronunciou as seguinte palavras:
"Vim aqui para lhe agradecer pelo seu testemunho e para prestar homenagem ao povo mártir da loucura do populismo nazista. E com sinceridade lhe repito as palavras que proferi, do meu coração, no Yad Vashem, e que repito perante todas as pessoas que, como a senhora, sofreram tanto por causa disto: perdão Senhor, em nome da humanidade".
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Papa Francisco com Edith Bruck |
O Comunicado aos
jornalistas do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni:
"Esta tarde, às
16 horas, o Santo Padre visitou a senhora Edith Bruck, poetisa, sobrevivente da
Shoah, na sua casa em Roma.
A conversa com o Papa
repercorreu aqueles momentos de luz constelados com a experiência do inferno
dos campos de concentração e evocou os medos e esperanças para o tempo em que
vivemos, enfatizando o valor da memória e o papel dos idosos no seu cultivo e
na sua transmissão aos mais jovens.
Após cerca de uma
hora, o Papa Francisco e a senhora Bruck despediram-se e o Papa regressou ao
Vaticano.
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