pela vocação dos consagrados
Dom João Braz de
Aviz envia uma saudação a todos os consagrados por ocasião do Dia Mundial da
Vida Consagrada, festa da Apresentação do Senhor ao templo: "Alguns de nós
entregaram a sua vida servindo aos irmãos neste momento de dificuldade, outros
continuam servindo em ambientes onde existem certo perigo. Mas que possamos
pensar que tudo isso faz parte da nossa vocação, faz parte do nosso modo de
seguir Jesus Cristo. E que você seja feliz e que possamos construir agora muito
mais ainda no espírito da Fratelli tutti do Papa Francisco".
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Papa cumprimenta o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, que há 10 anos está à frente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica |
Bianca
Fraccalvieri - Cidade do Vaticano - Este ano de 2021, a celebração do dia 2 de
fevereiro será especial por dois motivos: marca a 25a edição do Dia Mundial da
Vida Consagrada e a primeira vez que se festeja em meio a uma pandemia, já que
em 2020 o coronavírus estava começando a entrar no vocabulário e, sobretudo, na
rotina de todo o mundo.
Dos 25 anos que a
Igreja celebra este Dia Mundial, o cardeal brasileiro João Braz de Aviz está há
10 anos à frente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as
Sociedades de Vida Apostólica.
Em todo este
tempo, Dom João ressalta que sempre sentiu o amor do Santo Padre, o seu cuidado
para que a vocação seja bem vivida, que se centralize no que é mais importante:
o olhar e o amor de Cristo por cada pessoa.
Pandemia:
sofrimento e graça
Em entrevista ao
Vatican News, Dom João fala também de como a pandemia impactou na vida
consagrada, que define como um "momento de sofrimento e de graça".
De sofrimento
porque muitos institutos foram foco de contágio, com a perda de vidas humanas.
De graça porque criou espaços novos que antes não havia devido à correria do
dia a dia: mais tempo para oração, para o diálogo em comunidade e para pensar
problemas arquivados.
Foi para encurtar
a distância com os consagrados que a Congregação decidiu divulgar uma carta em vista do dia 2 de fevereiro. No texto, a
"Fratelli tutti" do Papa Francisco é apresentada como uma bússola
para a vida consagrada, um antítodo ao individualismo e um convite a olhar
as diferenças em função da fraternidade.
Mas para Dom João,
a encíclica do Pontífice é uma exortação a inverter a pirâmide que constitui a
Igreja: "O povo de Deus tem que estar em cima, é a referência, e quem tem
ministérios particulares deve ser a raiz, o fundamento que ajuda a fidelidade a
Cristo".
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Veja:
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Refletindo com Dom Walmor:
Curar o tecido interior
A sociedade,
cotidianamente, se contamina por polêmicas, que geram enorme desgaste emocional
e desperdício de energias. Perde-se a oportunidade para diálogos construtivos,
capazes de contribuir na solução dos muitos problemas da atualidade. A
incapacidade para dialogar construtivamente revela despreparo para o exercício
de responsabilidades – profissionais, missionárias e cidadãs. Observa-se que há
significativo descompasso entre as possibilidades tecnológicas do mundo
contemporâneo e as condições emocionais da sociedade, que estão enfraquecidas,
impactando o exercício das mais diferentes atividades.
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Dom Walmor |
Assiste-se a uma
fragilização crescente das instituições, isso porque, na ausência de equilíbrio
moral e emocional, falta clareza às pessoas. Assim, prevalecem certas
conveniências condenáveis, que produzem descompassos e confundem os
entendimentos. Nesse contexto, a capacidade para dialogar se enfraquece,
dificultando a percepção da verdade e o exercício da solidariedade. O ser
humano passa a se alimentar, patologicamente, das polêmicas. Torna-se incapaz
de escutar críticas que ajudam a construir dinâmicas renovadas em diferentes
contextos sociais. Sem clareza a respeito do próprio papel na sociedade, as
pessoas perdem o senso crítico para se autoavaliar. Carentes de humildade,
muitos se julgam melhores do que realmente são.
Há uma pressa na
emissão de juízos, desconsiderando as necessárias ponderações para
adequadamente interpretar fatos, falas. Por isso mesmo, pareceres distanciam-se
da realidade e prejudicam inúmeros processos importantes. Sintomas dessa
realidade são os obscurantismos e as polarizações, sempre na contramão de
princípios e valores inegociáveis. Percebe-se que os processos relacionais e
institucionais não amadurecem na velocidade adequada. Acabam sendo banalizados
na velocidade própria das redes sociais, sem que ocorra adequada análise dos
conteúdos e de seus alcances, ou a identificação de responsabilidades. Eis a
razão de assuntos polêmicos, que catalisam ampla e irrestrita atenção, caírem
no esquecimento em poucos dias. O que se valoriza é o frenesi abusivo e pesado,
que ameaça a saúde mental e emocional de cada indivíduo.
Entre as
consequências desse cenário está a dificuldade para reconhecer o sentido que
alicerça a vida, a falta de habilidade para se relacionar e a crescente
violência – nas ruas e também nos lares – conforme revelam as tristes estatísticas
sobre feminicídio, agressões a menores e vulneráveis. A casa deixa de ser o
lugar dos primeiros e essenciais exercícios de sociabilidade, das dinâmicas
dialogais, para se tornar palco de descompassos. Tudo comprova o adoecimento
crescente da humanidade, agravado com outras crises de saúde, a exemplo da
atual pandemia. As imunizações são urgentes, não somente para vencer a
Covid-19, mas também para superar os outros adoecimentos que não raramente
levam pessoas a desistir de viver.
O ser humano precisa
curar seu tecido interior, para conquistar mais saúde integral – física, mental
e emocional. A generalizada desorientação social é também sinal de que o tecido
interior de muitos está esgarçado. E a recuperação da interioridade exige
investimento na dimensão espiritual que qualifica, inclusive, competências
técnicas e profissionais. Diante do generalizado adoecimento das pessoas e,
consequentemente, da sociedade, é ainda mais necessário o remédio da
espiritualidade. Evidentemente, não se deve abrir mão de outras medicações
necessárias, mas a espiritualidade é a terapêutica que restabelece a dimensão
mais essencial de cada pessoa. Oferece condições para que todos possam viver
melhor, ampliando competências para o exercício de diferentes tarefas e responsabilidades
do dia a dia.
A vivência da
espiritualidade contribui para que o sentido da vida seja percebido. Deve-se,
pois, investir diariamente na dimensão espiritual, com ajudas especiais de
confissões religiosas, sem proselitismos ou interesses pecuniários, mas a
partir da sincera intenção de contribuir para erguer as pessoas. Assim o ser
humano é tratado de modo integral, fortalecendo-se para ajudar na construção de
um tempo novo. Cada pessoa precisa convencer-se da premência de curar seu
próprio tecido interior, superando loucuras, para dar conta de viver e servir,
com alegria. A tradição cristã, de mais de dois mil anos, tem um tesouro rico e
inesgotável para ajudar a humanidade neste processo. Uma riqueza que ultrapassa
ritos e prescrições.
As confissões
religiosas, particularmente as cristãs, precisam oferecer, abundantemente,
técnicas, dinâmicas e vivências que ajudem a humanidade na recomposição da
interioridade. Na superação dos muitos sofrimentos insuportáveis, das
indiferenças desoladoras e comprometedoras da paz, das disputas cegas,
fratricidas e homicidas, invista-se mais na espiritualidade, para ajudar o ser
humano a curar seu tecido interior.
Dom Walmor
Oliveira de Azevedo - Arcebispo de Belo Horizonte (BH)
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