segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O amor da Igreja

pela vocação dos consagrados

Dom João Braz de Aviz envia uma saudação a todos os consagrados por ocasião do Dia Mundial da Vida Consagrada, festa da Apresentação do Senhor ao templo: "Alguns de nós entregaram a sua vida servindo aos irmãos neste momento de dificuldade, outros continuam servindo em ambientes onde existem certo perigo. Mas que possamos pensar que tudo isso faz parte da nossa vocação, faz parte do nosso modo de seguir Jesus Cristo. E que você seja feliz e que possamos construir agora muito mais ainda no espírito da Fratelli tutti do Papa Francisco".

Papa cumprimenta o cardeal brasileiro João Braz de Aviz,
que há 10 anos está à frente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica

Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano - Este ano de 2021, a celebração do dia 2 de fevereiro será especial por dois motivos: marca a 25a edição do Dia Mundial da Vida Consagrada e a primeira vez que se festeja em meio a uma pandemia, já que em 2020 o coronavírus estava começando a entrar no vocabulário e, sobretudo, na rotina de todo o mundo.

Dos 25 anos que a Igreja celebra este Dia Mundial, o cardeal brasileiro João Braz de Aviz está há 10 anos à frente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Em todo este tempo, Dom João ressalta que sempre sentiu o amor do Santo Padre, o seu cuidado para que a vocação seja bem vivida, que se centralize no que é mais importante: o olhar e o amor de Cristo por cada pessoa.

Pandemia: sofrimento e graça

Em entrevista ao Vatican News, Dom João fala também de como a pandemia impactou na vida consagrada, que define como um "momento de sofrimento e de graça".

De sofrimento porque muitos institutos foram foco de contágio, com a perda de vidas humanas. De graça porque criou espaços novos que antes não havia devido à correria do dia a dia: mais tempo para oração, para o diálogo em comunidade e para pensar problemas arquivados.

Foi para encurtar a distância com os consagrados que a Congregação decidiu divulgar uma carta em vista do dia 2 de fevereiro. No texto, a "Fratelli tutti" do Papa Francisco é apresentada como uma bússola para a vida consagrada, um antítodo ao individualismo e um convite a olhar as diferenças em função da fraternidade.

Mas para Dom João, a encíclica do Pontífice é uma exortação a inverter a pirâmide que constitui a Igreja: "O povo de Deus tem que estar em cima, é a referência, e quem tem ministérios particulares deve ser a raiz, o fundamento que ajuda a fidelidade a Cristo".

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Veja:

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Refletindo com Dom Walmor:

Curar o tecido interior

A sociedade, cotidianamente, se contamina por polêmicas, que geram enorme desgaste emocional e desperdício de energias. Perde-se a oportunidade para diálogos construtivos, capazes de contribuir na solução dos muitos problemas da atualidade. A incapacidade para dialogar construtivamente revela despreparo para o exercício de responsabilidades – profissionais, missionárias e cidadãs. Observa-se que há significativo descompasso entre as possibilidades tecnológicas do mundo contemporâneo e as condições emocionais da sociedade, que estão enfraquecidas, impactando o exercício das mais diferentes atividades.

Dom Walmor

Assiste-se a uma fragilização crescente das instituições, isso porque, na ausência de equilíbrio moral e emocional, falta clareza às pessoas. Assim, prevalecem certas conveniências condenáveis, que produzem descompassos e confundem os entendimentos. Nesse contexto, a capacidade para dialogar se enfraquece, dificultando a percepção da verdade e o exercício da solidariedade. O ser humano passa a se alimentar, patologicamente, das polêmicas. Torna-se incapaz de escutar críticas que ajudam a construir dinâmicas renovadas em diferentes contextos sociais. Sem clareza a respeito do próprio papel na sociedade, as pessoas perdem o senso crítico para se autoavaliar. Carentes de humildade, muitos se julgam melhores do que realmente são.

Há uma pressa na emissão de juízos, desconsiderando as necessárias ponderações para adequadamente interpretar fatos, falas. Por isso mesmo, pareceres distanciam-se da realidade e prejudicam inúmeros processos importantes. Sintomas dessa realidade são os obscurantismos e as polarizações, sempre na contramão de princípios e valores inegociáveis. Percebe-se que os processos relacionais e institucionais não amadurecem na velocidade adequada. Acabam sendo banalizados na velocidade própria das redes sociais, sem que ocorra adequada análise dos conteúdos e de seus alcances, ou a identificação de responsabilidades. Eis a razão de assuntos polêmicos, que catalisam ampla e irrestrita atenção, caírem no esquecimento em poucos dias. O que se valoriza é o frenesi abusivo e pesado, que ameaça a saúde mental e emocional de cada indivíduo.

Entre as consequências desse cenário está a dificuldade para reconhecer o sentido que alicerça a vida, a falta de habilidade para se relacionar e a crescente violência – nas ruas e também nos lares – conforme revelam as tristes estatísticas sobre feminicídio, agressões a menores e vulneráveis. A casa deixa de ser o lugar dos primeiros e essenciais exercícios de sociabilidade, das dinâmicas dialogais, para se tornar palco de descompassos. Tudo comprova o adoecimento crescente da humanidade, agravado com outras crises de saúde, a exemplo da atual pandemia. As imunizações são urgentes, não somente para vencer a Covid-19, mas também para superar os outros adoecimentos que não raramente levam pessoas a desistir de viver.

O ser humano precisa curar seu tecido interior, para conquistar mais saúde integral – física, mental e emocional. A generalizada desorientação social é também sinal de que o tecido interior de muitos está esgarçado. E a recuperação da interioridade exige investimento na dimensão espiritual que qualifica, inclusive, competências técnicas e profissionais. Diante do generalizado adoecimento das pessoas e, consequentemente, da sociedade, é ainda mais necessário o remédio da espiritualidade. Evidentemente, não se deve abrir mão de outras medicações necessárias, mas a espiritualidade é a terapêutica que restabelece a dimensão mais essencial de cada pessoa. Oferece condições para que todos possam viver melhor, ampliando competências para o exercício de diferentes tarefas e responsabilidades do dia a dia.

A vivência da espiritualidade contribui para que o sentido da vida seja percebido. Deve-se, pois, investir diariamente na dimensão espiritual, com ajudas especiais de confissões religiosas, sem proselitismos ou interesses pecuniários, mas a partir da sincera intenção de contribuir para erguer as pessoas. Assim o ser humano é tratado de modo integral, fortalecendo-se para ajudar na construção de um tempo novo. Cada pessoa precisa convencer-se da premência de curar seu próprio tecido interior, superando loucuras, para dar conta de viver e servir, com alegria. A tradição cristã, de mais de dois mil anos, tem um tesouro rico e inesgotável para ajudar a humanidade neste processo. Uma riqueza que ultrapassa ritos e prescrições.

As confissões religiosas, particularmente as cristãs, precisam oferecer, abundantemente, técnicas, dinâmicas e vivências que ajudem a humanidade na recomposição da interioridade. Na superação dos muitos sofrimentos insuportáveis, das indiferenças desoladoras e comprometedoras da paz, das disputas cegas, fratricidas e homicidas, invista-se mais na espiritualidade, para ajudar o ser humano a curar seu tecido interior.

                                Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo de Belo Horizonte (BH)

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