32º Domingo do Tempo Comum
No Evangelho
deste domingo, Jesus é questionado pelos saduceus, uma casta religiosa muito
influente, que não acreditava na ressurreição dos mortos. A ressurreição não
era um tema de unanimidade entre os judeus, havia discordâncias. O texto de 2º.
Macabeus mostra que a fé na ressurreição já está formulada no Antigo
Testamento, embora fosse um texto recente, escrito a menos de dois séculos
antes de Cristo: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança
dada por Deus, que um dia nos ressuscitará” (2 Mc 7, 14). Jesus afirma a fé na
ressurreição dos mortos, respondendo aos seus adversários.
O que é a
ressurreição dos mortos? Antes de dar uma resposta, é preciso constatar que o
povo cristão, de modo geral, tem uma visão muito limitada a cerca das verdades
da Vida após a vida (ou vida após a morte, como queiram!). Pensa-se em um céu
romântico e bucólico, simbolizado por um jardim cheio de mata verde, com
pessoas de túnicas brancas caminhando sobre a relva. Pensa-se em “alminhas” que
saem dos corpos, como “fantasminhas” que vão para o céu, obviamente depois do
juízo e do purgatório. Pensa-se a salvação de modo muito reduzido: como uma
mera recompensa individual pelas obras. Em geral, uma recompensa pouco
atrativa. Teme-se mais a condenação do fogo do inferno do que se deseja a
Eternidade. Não tenho dúvidas de que é preciso uma boa catequese sobre a
escatologia (=estudo das realidades últimas), acompanhada de uma
ressignificação de conceitos da doutrina tradicional: morte, juízo, Céu,
inferno, purgatório, ressurreição...
“Creio na
ressurreição da carne”. Professamos isso cada vez que recitamos o Credo. O que
significa esta formulação de fé? Cremos que a “glória de Deus é o homem vivo”,
como nos diz Santo Irineu de Lião, ou seja, cremos que o maior desejo de Deus é
a felicidade plena de cada um de seus filhos e filhas, e que isto significa
vida em abundância. Cremos que um dia (e não me perguntem se os que já morreram
estão esperando, pois não sei se se pode falar de tempo depois da morte!),
estaremos reunidos no Reino de Deus – a reunião de todos os redimidos, felizes,
sem temores, sem pecados, sem males, sem dores. Do ponto de vista individual, a
ressurreição é a plenitude da vida: ou seja, tudo o que existe de bom em nós
(afetos, capacidades, consciência, inteligência...) elevado à estatura de
Cristo, à estatura do “homem perfeito” (Ef 4,13).
Nesta vida nova
dada gratuitamente por Deus, há uma ruptura e uma continuidade. Há uma ruptura,
porque não haverá mais o mal e o pecado, não haverá as contingências deste
mundo limitado. Haverá, sim, a transformação de nossos corpos mortais. Como nos
ensina Jesus no Evangelho, não haverá mais a relação homem-mulher, porque
estará inaugurada uma novidade nas relações: seremos como “anjos” (= vida
dedicada ao louvor a Deus) e como “filhos de Deus” (= relação de intimidade com
Deus Amor-Trindade e de igualdade entre todos os irmãos e irmãs).
Há também uma
continuidade. No Céu se mantém a nossa consciência, reconhecemos a nós mesmos e
as pessoas que fizeram parte de nossa história, mantém-se a memória. Por isso,
será uma alegria o reencontro. O Céu não é um mundo sem prazeres, sem alegria,
“sem graça”. Não cremos na destruição da matéria e na demonização do prazer e
da vida concreta, palpável. Ao contrário, cremos que todo o Universo será
restaurado pelo poder amoroso de Deus. O mundo será glorificado Nele, incluindo
os seus filhos e filhas. Este mundo que “geme e chora, esperando o dia de sua
restauração” chegará ao seu sentido último, quando encontrar o Ômega – Jesus Cristo,
Nosso Senhor. Habitaremos, então, na comunhão da Trindade.
Pensar a vida
após a morte implica em pensar a vida nossa de cada dia. Antes de nos
preocuparmos com o Céu, precisamos ter a consciência de que há uma tarefa:
fazer o Céu acontecer aqui e agora. Como nos diz Anselmo Grüen: “O Céu começa
em você”. Parafraseando: o Céu começa em sua casa, em seu trabalho, em sua
comunidade, em sua igreja, em seu coração. O céu começa onde há promoção de
vida plena, onde reina o amor e o perdão, onde se promove a paz, onde as
relações humanas são elevadas de acordo com o desejo de nosso Deus, ou seja,
quando vivemos como irmãos e irmãs, verdadeiramente, e não sob meras
aparências. Faça o Céu acontecer!
Pe. Roberto
Nentwig
Fonte www.catequeseebiblia.blogspot.com
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