domingo, 10 de novembro de 2013

Reflexão para este

32º Domingo do Tempo Comum

No Evangelho deste domingo, Jesus é questionado pelos saduceus, uma casta religiosa muito influente, que não acreditava na ressurreição dos mortos. A ressurreição não era um tema de unanimidade entre os judeus, havia discordâncias. O texto de 2º. Macabeus mostra que a fé na ressurreição já está formulada no Antigo Testamento, embora fosse um texto recente, escrito a menos de dois séculos antes de Cristo: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará” (2 Mc 7, 14). Jesus afirma a fé na ressurreição dos mortos, respondendo aos seus adversários.
O que é a ressurreição dos mortos? Antes de dar uma resposta, é preciso constatar que o povo cristão, de modo geral, tem uma visão muito limitada a cerca das verdades da Vida após a vida (ou vida após a morte, como queiram!). Pensa-se em um céu romântico e bucólico, simbolizado por um jardim cheio de mata verde, com pessoas de túnicas brancas caminhando sobre a relva. Pensa-se em “alminhas” que saem dos corpos, como “fantasminhas” que vão para o céu, obviamente depois do juízo e do purgatório. Pensa-se a salvação de modo muito reduzido: como uma mera recompensa individual pelas obras. Em geral, uma recompensa pouco atrativa. Teme-se mais a condenação do fogo do inferno do que se deseja a Eternidade. Não tenho dúvidas de que é preciso uma boa catequese sobre a escatologia (=estudo das realidades últimas), acompanhada de uma ressignificação de conceitos da doutrina tradicional: morte, juízo, Céu, inferno, purgatório, ressurreição...
“Creio na ressurreição da carne”. Professamos isso cada vez que recitamos o Credo. O que significa esta formulação de fé? Cremos que a “glória de Deus é o homem vivo”, como nos diz Santo Irineu de Lião, ou seja, cremos que o maior desejo de Deus é a felicidade plena de cada um de seus filhos e filhas, e que isto significa vida em abundância. Cremos que um dia (e não me perguntem se os que já morreram estão esperando, pois não sei se se pode falar de tempo depois da morte!), estaremos reunidos no Reino de Deus – a reunião de todos os redimidos, felizes, sem temores, sem pecados, sem males, sem dores. Do ponto de vista individual, a ressurreição é a plenitude da vida: ou seja, tudo o que existe de bom em nós (afetos, capacidades, consciência, inteligência...) elevado à estatura de Cristo, à estatura do “homem perfeito” (Ef 4,13).
Nesta vida nova dada gratuitamente por Deus, há uma ruptura e uma continuidade. Há uma ruptura, porque não haverá mais o mal e o pecado, não haverá as contingências deste mundo limitado. Haverá, sim, a transformação de nossos corpos mortais. Como nos ensina Jesus no Evangelho, não haverá mais a relação homem-mulher, porque estará inaugurada uma novidade nas relações: seremos como “anjos” (= vida dedicada ao louvor a Deus) e como “filhos de Deus” (= relação de intimidade com Deus Amor-Trindade e de igualdade entre todos os irmãos e irmãs).
Há também uma continuidade. No Céu se mantém a nossa consciência, reconhecemos a nós mesmos e as pessoas que fizeram parte de nossa história, mantém-se a memória. Por isso, será uma alegria o reencontro. O Céu não é um mundo sem prazeres, sem alegria, “sem graça”. Não cremos na destruição da matéria e na demonização do prazer e da vida concreta, palpável. Ao contrário, cremos que todo o Universo será restaurado pelo poder amoroso de Deus. O mundo será glorificado Nele, incluindo os seus filhos e filhas. Este mundo que “geme e chora, esperando o dia de sua restauração” chegará ao seu sentido último, quando encontrar o Ômega – Jesus Cristo, Nosso Senhor. Habitaremos, então, na comunhão da Trindade.
Pensar a vida após a morte implica em pensar a vida nossa de cada dia. Antes de nos preocuparmos com o Céu, precisamos ter a consciência de que há uma tarefa: fazer o Céu acontecer aqui e agora. Como nos diz Anselmo Grüen: “O Céu começa em você”. Parafraseando: o Céu começa em sua casa, em seu trabalho, em sua comunidade, em sua igreja, em seu coração. O céu começa onde há promoção de vida plena, onde reina o amor e o perdão, onde se promove a paz, onde as relações humanas são elevadas de acordo com o desejo de nosso Deus, ou seja, quando vivemos como irmãos e irmãs, verdadeiramente, e não sob meras aparências. Faça o Céu acontecer!
                                                                                           Pe. Roberto Nentwig
                                                         Fonte www.catequeseebiblia.blogspot.com
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