domingo, 18 de maio de 2025

Sábia reflexão:

Comunidade de amizade

José Antonio Pagola

Jesus compartilha com seus discípulos os últimos momentos antes de voltar ao mistério do Pai. O relato de João recolhe cuidadosamente seu testamento: o que Jesus quer deixar gravado para sempre em seus corações: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”.

O evangelista João tem sua atenção voltada para a comunidade cristã. Não está pensando nos de fora. Quando Jesus faltar, em sua comunidade terão que amar-se como “amigos”, porque assim quis Jesus: “Vós sois meus amigos”; “já não vos chamo servos, mas chamei-vos amigos”. A comunidade de Jesus será uma comunidade de amizade.

Esta imagem da comunidade cristã como “comunidade de amigos” bem depressa foi esquecida. Durante muitos séculos, os cristãos se viram a si mesmos como uma “família” onde alguns são “pais” (o papa, os bispos, os sacerdotes, os abades … ); outros são “filhos” (os fiéis), e todos hão de viver como “irmãos”. Entender assim a comunidade cristã estimula a fraternidade, mas tem seus riscos. Na “família cristã” tende-se a sublinhar lugar que corresponde a cada um. Destaca-se o que nos diferencia, não que nos une; dá-se muita importância à autoridade, à ordem, à unidade, à subordinação. E se corre o risco de promover a dependência, o infantilismo e a irresponsabilidade de muitos.

Uma comunidade baseada na “amizade cristã” enriqueceria e transformaria hoje a Igreja de Jesus. A amizade promove o que nos une, não o que nos diferencia. Entre amigos se cultiva a igualdade, a reciprocidade e o apoio mútuo. Ninguém está acima de ninguém. Nenhum amigo é superior a outro. Respeitam-se as diferenças, mas se cuida da proximidade e da relação.

Entre amigos é mais fácil sentir-se responsável e colaborar. E não é difícil estar abertos aos estranhos e diferentes, aos que necessitam de acolhida e amizade. De uma comunidade de amigos é difícil sair. De uma comunidade fria, rotineira e indiferente, a gente vai embora, e os que ficam dificilmente sentem a nossa falta.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                                           Fonte: franciscanos.org.br       Bannervaticanews.va

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