Francisco
O Papa Francisco nos fez recordar este primeiro encontro pessoal com o Senhor: “todo encontro autêntico com Jesus fica na memória viva, nunca é esquecido. Você se esquece de tantos encontros, mas o encontro com Jesus verdadeiro permanece sempre”. E continua Francisco: “(para) cada um de nós, na sua vida, (houve) um momento em que Deus se fez presente com mais força, com um chamado. Recordemo-lo. Voltemos àquele momento, para que a memória daquele momento nos renove sempre no encontro com Jesus” (Angelus, 17/01/2021).
Para o jovem Bergoglio, houve um encontro pessoal, inesquecível, que o fez recordar o encontro de Jesus com Mateus (Mt 9,9-13). Na festa de são Mateus do ano de 1953, o jovem Jorge Bergoglio experimentou, com 17 anos, de modo totalmente particular, a presença amorosa de Deus na sua vida. Depois de uma confissão, sentiu o seu coração ser tocado e fez a experiência pessoal da descida da misericórdia de Deus, que, com o olhar de amor terno, o chamava à vida religiosa, a exemplo de santo Inácio de Loyola. Desse encontro pessoal e inspirado numa homilia de São Beda, o Venerável, sacerdote (Hom. 21; CCL 1, 22, 149-151), o argentino escolheu o lema do seu ministério: “miserando atque eligendo” (com misericórdia o elegeu).
O querido Papa Francisco deixou um grande legado espiritual, pastoral e eclesial; humano, social e ecológico. Qual será a marca que este pontificado deixará impressa em nossa memória e em nossa história? Podemos desfiar um rosário de temas que lhe foram caros: alegria, esperança, misericórdia, dentre outros. Francisco lutou muito contra a miséria, o descarte de seres humanos, a desumanidade das guerras, os muros de separação, o desprezo para com a natureza. Como Jesus Cristo e São Francisco, este querido Papa combateu em favor dos pobres, contra as injustiças, em favor da paz e da ecologia integral.
Profundamente apaixonado pelo Evangelho de Jesus Cristo, o Papa desejou ver uma Igreja renovada, comprometida com os valores do Reino, uma Igreja sinodal, em saída missionária para as periferias geográficas e existenciais. Desde o início de seu Pontificado, Francisco desejou “uma Igreja pobre para os pobres”, consciente de que os pobres “têm muito para nos ensinar” (EG,198). E assim, Francisco exerceu o seu ministério, amando os pobres, defendendo os pobres e vivendo como pobre. Como reformador, ele começou reformando o jeito de ser papa. Ele foi um divisor de águas na forma de exercer o ministério petrino.
Como poucos, Francisco sonhou com uma nova humanidade. Recordemos aqui seu discurso na Catedral de Florença: “Só podemos falar de humanismo a partir da centralidade de Jesus, descobrindo n’Ele os traços do autêntico rosto do homem. É a contemplação da face de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, inclusive daquela fragmentada pelas dificuldades da vida, ou marcada pelo pecado. Não devemos domesticar o poder da face de Cristo. A face é a imagem da sua transcendência. É o misericordiae vultus. Deixemo-nos olhar por Ele. Jesus é o nosso humanismo” (Discurso, 10/11/2015).
Por Francisco, os sinos das igrejas do mundo inteiro repicam de forma especial, reconhecendo o seu grande legado nesses mais de 12 anos de fecundo ministério e 88 anos de vida inteiramente dedicada a Deus, na Companhia de Jesus, no episcopado e como Sucessor do Apóstolo Pedro. Como primeiro papa latino-americano, levou ao mundo o nosso jeito de ser Igreja de Jesus Cristo, Igreja comprometida com as causas humanas, sociais, culturais e econômicas, uma Igreja que caminha na história, acolhendo as sementes do Reino, lançadas pelo Filho de Deus que se inseriu em nossa história para elevar a humanidade à glória de Deus, como nos ensinou S. Irineu de Lião (Adv. Haer. IV,20,7), que lhe foi grande inspirador.
Feita a sua Páscoa, o Papa Francisco canta com o Salmista, nas periferias do Paraíso: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado!” (Sl 15,11).
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