sábado, 24 de maio de 2025

Reflita com frei Almir Guimarães:

"Eu vos dou a minha paz..."

Não é difícil assinalar alguns traços da pessoa que leva em seu interior a paz de Cristo: ela sempre busca o bem de todos, não exclui ninguém, respeita as diferenças, não alimenta a agressão, fomenta o que une, nunca o que traz discórdia. (José Antonio Pagola)

♦ O evangelho deste domingo nos coloca diante de trecho do Discurso de Adeus de Jesus segundo a versão do quarto evangelista. Jesus parece sentir que o frio toma conta dos corações dos seus. Quer animá-los. Não deseja que sintam o frio da orfandade. Há um clima de confidência e de intimidade em toda a página proclamada.

♦ Antes de tudo há um tema fundamental, uma afirmação de beleza estonteante, quase incrível. Os que amam a Jesus se tornam templo do amor da Trindade, da própria Trindade.. O amor a Jesus é a base da casa do coração que é visitada e habitada por Deus. “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Os que amam a Jesus se tornam, pois, habitação da Trindade.

♦ O que é amar a Jesus? Amar a Jesus é aproximar-se dele com toda confiança. É compreender que Deus se fez fragilidade para de nós se aproximar: o menino que se remexe nas palhas e o torturado do Gólgota. Amar a Jesus é aceitar com estupefação que Deus se tenha tornado tão frágil. É ter certeza de sua vida nova de ressuscitado. É acreditar que, misteriosamente, ele anda a nos rondar pedindo que a ele nos entreguemos sem reservas. Quer que sejamos nós mesmos mas com ele. Pede licença de viver em nós.

♦ Amar a Jesus é ler o Sermão do Montanha com a avidez de alguém que necessita viver e viver intensamente. É ler o Evangelho  com um desejo de deixar que esse espírito  tome conta de nós, transpareça em nosso olhar e module nossa voz.  Amar a Jesus é ter traços dele na vida do casamento,  na missão de padre, no jeito de viver o cotidiano. Os que amam a Jesus tem a certeza de que ele e o Pai farão morada da Trindade.  Templos do Espírito!!!  Casa de Deus.

♦ Com sua partida Jesus anuncia aos seus a vinda do Espírito. Essa força, fogo, luz ensinará todas as coisas. O Espírito será a memória viva de Jesus. “É grandioso o horizonte que Jesus oferece a seus discípulos. De Jesus nasceu um grande movimento espiritual de discípulos e discípulas que o seguirão seguidos pelo Espírito Santo. Eles se manterão em sua verdade, pois esse Espírito lhes ensinará tudo o que Jesus lhes comunicou pelos caminhos da Galileia. E os defenderá no futuro da perturbação e da covardia” (Pagola, João, p. 207). Medo, insegurança, cansaço, tédio, dúvidas… O Defensor ensinará tudo.

♦ “Deixo-vos a paz, a minha paz eu vos dou”. São muitos os conflitos que sacodem a sociedade. Há povos que matam povos. No interior das famílias há graves manifestações de violência. Rejeições e exclusões de toda sorte fazem com que as pessoas sofram, sintam-se tristes e fadadas a morrer antes da morte. Conflitos e desavenças são resolvidos pela violência, pela força e pela morte do adversário. A fé na violência precisa ser substituída pelo diálogo, pela busca de caminhos de realização para todos. “Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz”.

♦ “Por que é tão difícil a paz? Por que voltamos sempre de novo ao enfrentamento e à agressão mútua? Há uma resposta primeira tão elementar e simples que ninguém leva a sério: só homens e mulheres, que possuem a paz, podem introduzi-la na sociedade” (Pagola, op. cit., p.206). Tudo começa no interior de cada. Há o pecado, a divisão. Os construtores da paz se reconciliam com sua história e acolhem o perdão do Senhor que belamente é também concedido pelo sacramento da reconciliação. A pessoa precisa respirar a paz. Ter um interior sem ressentimentos, intolerâncias, dogmatismos, mas com simpatia pelo outro, buscando entendimento, depondo as armas.

♦ “Não é difícil assinalar alguns traços da pessoa que leva em seu interior a paz de Cristo: ele sempre busca o bem de todos, não exclui ninguém, respeita as diferenças, não alimenta a agressão, fomenta o que une, nunca o que traz a discórdia” (Pagola, op.cit., p. 206).

Oração

Dá, Senhor, à nossa vida a sabedoria da paz.
Que o nosso coração não naufrague na lógica de tanta violência disseminada ao nosso redor.
Que os sentimentos de dor e de despeito não sufoquem a necessidade dos gestos de reconciliação, a urgência de uma palavra amável  que rompa as paredes  do silêncio,
o reencontro dos olhares que se desviam.
Dá-nos a força de insinuar  no inverno gelado em que,  por vezes vivemos, o ramo verde, a inesperada flor, a claridade que é esta irreprimível e pascal vontade de recomeçar.

José  Tolentino  Mendonça - Um Deus que dança (Paulinas, p.95)

“A cultura da paz  só se assenta numa sociedade  quando as pessoas estão dispostas ao perdão sincero, renunciando à vingança e à revanche. O perdão liberta da violência do passado e gera novas energias para  construir o futuro entre todos” (Pagola, op. cit., p.209)

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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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                                     Fonte: franciscanos.org.br    Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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