A Secretaria Geral do Sínodo divulgou, na
quinta-feira, 14 de novembro, uma versão, em português de Portugal, do
documento final XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.
O Documento Final foi aprovado, dia 26 de
outubro deste ano, em todos os seus 155 parágrafos, está publicado e não será
objeto de uma exortação do Papa: Francisco decidiu que seja imediatamente divulgado
para que possa inspirar a vida da Igreja. “O processo sinodal não se encerra
com o término da assembleia, mas inclui a fase de implementação” (9).
Envolvendo todos no “caminho cotidiano com uma metodologia sinodal de consulta
e discernimento, identificando modos concretos e percursos formativos para
realizar uma tangível conversão sinodal nas várias realidades eclesiais” (9).
No Documento, em particular, é solicitado aos bispos um compromisso intenso em
relação à transparência e à prestação de contas, enquanto — como também
declarou o cardeal Férnandez, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé —
estão em andamento trabalhos para dar mais espaço e poder às mulheres.
O Papa Francisco proferiu um discurso no
dia 26 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, após a votação e aprovação do
Documento Final da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.
O Pontífice sublinhou que o Documento Final representa “o fruto de anos, pelo
menos três”, dedicados à escuta do Povo de Deus e reflete o propósito de uma
Igreja mais sinodal. “As referências bíblicas que abrem cada capítulo organizam
a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor Ressuscitado, que
nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida do que com as palavras”,
afirmou Francisco, citando diretamente o documento.
Missão da Igreja no ambiente digital
O documento traz pontos importantes que
abordam a missão da Igreja no ambiente digital. Reconhecendo a crescente
influência da cultura digital, especialmente entre os jovens, o documento
oferece uma visão transformadora para o futuro da evangelização online.
Segundo o documento, cada cristão é chamado
a atuar como missionário nos contextos onde vive, incluindo o ambiente digital.
No espírito de liberdade do Evangelho, os fiéis são incentivados a anunciar a
mensagem cristã em seus círculos digitais, nos quais se encontram inúmeras
oportunidades para evangelizar e construir uma cultura inspirada pela fé. A
Igreja, porém, é instada a acompanhar e fortalecer esses missionários digitais,
sustentando-os com o “pão da Palavra e da Eucaristia” e reconhecendo que seu
trabalho não é uma missão individual, mas uma ação de toda a Igreja.
Duas palavras-chave emergem do texto —
permeado pela perspectiva e pela proposta de conversão —: “relações” — que é
uma maneira de ser Igreja — e “vínculos”, no sentido de um “intercâmbio de
dons” entre as Igrejas, vivido de forma dinâmica e, assim, para converter os
processos. Justamente as Igrejas locais estão no centro do horizonte missionário,
que é o próprio fundamento da experiência de pluralidade da sinodalidade, com
todas as estruturas a serviço, em suma, da missão, com o laicato cada vez mais
ao centro e protagonista. E, nessa perspectiva, a concretude de estar
enraizados em um “lugar” emerge com força no Documento Final. Também é
particularmente significativa a proposta apresentada no Documento para que os
Dicastérios da Santa Sé possam iniciar uma consulta “antes de publicar
documentos normativos importantes” (135).
A estrutura do Documento
O Documento Final é composto por cinco
partes (11). A primeira, intitulada: O coração da sinodalidade, é seguida pela
segunda parte — Juntos, na barca de Pedro — “dedicada à conversão das relações
que edificam a comunidade cristã e dão forma à missão na intersecção de
vocações, carismas e ministérios”. A terceira parte — Sobre a tua Palavra —
“identifica três práticas intimamente interligadas: discernimento eclesial,
processos decisórios, cultura da transparência, da prestação de contas e da
avaliação”. A quarta parte — Uma pesca abundante — “delineia a forma como é
possível cultivar, de maneira nova, o intercâmbio de dons e o entrelaçamento de
vínculos que nos unem na Igreja, em um tempo em que a experiência de
enraizamento em um lugar está mudando profundamente”. Finalmente, a quinta
parte — Também eu vos envio — “permite olhar para o primeiro passo a ser dado:
promover a formação de todos para a sinodalidade missionária”. Em particular,
observa-se que o desenvolvimento do Documento é guiado pelos relatos
evangélicos da Ressurreição (12).
As feridas do Ressuscitado continuam a
sangrar
A Introdução do Documento (1-12) esclarece
desde o início a essência do Sínodo como uma “experiência renovada daquele
encontro com o Ressuscitado que os discípulos viveram no Cenáculo na noite de
Páscoa” (1). “Contemplando o Ressuscitado” — afirma o Documento — “vislumbramos
também os sinais de Suas feridas (…) que continuam a sangrar no corpo de muitos
irmãos e irmãs, inclusive devido a nossas próprias falhas. O olhar voltado ao
Senhor não nos afasta dos dramas da história, mas nos abre os olhos para
reconhecer o sofrimento que nos rodeia e nos penetra: os rostos das crianças
aterrorizadas pela guerra, o choro das mães, os sonhos desfeitos de tantos
jovens, os refugiados que enfrentam jornadas terríveis, as vítimas das mudanças
climáticas e das injustiças sociais” (2). O Sínodo, ao lembrar as “muitas
guerras” em curso, uniu-se aos “repetidos apelos do Papa Francisco pela paz,
condenando a lógica da violência, do ódio, da vingança” (2). Além disso, o
caminho sinodal é marcadamente ecumênico — “orienta-se para uma unidade plena e
visível dos cristãos” (4) — e “constitui um verdadeiro ato de recepção
adicional” do Concílio Vaticano II, prolongando sua “inspiração” e renovando “para
o mundo de hoje a sua força profética” (5). Nem tudo foi fácil, reconhece o
Documento: “Não escondemos que experimentamos em nós dificuldades, resistências
à mudança e a tentação de fazer prevalecer nossas próprias ideias sobre a
escuta da Palavra de Deus e a prática do discernimento” (6).
O coração da sinodalidade
A primeira parte do Documento (13-48) se
abre com reflexões compartilhadas sobre a “Igreja Povo de Deus, sacramento de
unidade” (15-20) e sobre as “raízes sacramentais do Povo de Deus” (21-27). É um
fato que, justamente “graças à experiência dos últimos anos”, o significado dos
termos “sinodalidade” e “sinodal” tenha “sido mais bem compreendido e, ainda
mais, vivido” (28). E “cada vez mais, esses termos têm sido associados ao
desejo de uma Igreja mais próxima das pessoas e mais relacional, que seja casa
e família de Deus” (28). “Em termos simples e sintéticos, pode-se dizer que a
sinodalidade é um caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural para
tornar a Igreja mais participativa e missionária, para torná-la, assim, mais
capaz de caminhar com cada homem e mulher, irradiando a luz de Cristo” (28). Na
consciência de que a unidade da Igreja não é uniformidade, “a valorização dos
contextos, das culturas e das diversidades, e das relações entre eles, é uma
chave para crescer como Igreja sinodal missionária” (40). Com o fortalecimento
das relações também com as demais tradições religiosas, em particular “para
construir um mundo melhor” e em paz (41).
A conversão das relações
“A necessidade de uma Igreja mais capaz de
nutrir as relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, nas famílias, nas
comunidades, entre todos os cristãos, entre grupos sociais, entre religiões,
com a criação” (50) é a constatação que abre a segunda parte do Documento (49-77).
E “não faltou também quem compartilhou o sofrimento de se sentir excluído ou
julgado” (50). “Para ser uma Igreja sinodal, é necessária, portanto, uma
verdadeira conversão relacional. Devemos aprender novamente com o Evangelho que
o cuidado com as relações e os vínculos não é uma estratégia ou instrumento
para uma maior eficácia organizacional, mas é o modo como Deus Pai se revelou
em Jesus e no Espírito” (50). As “recorrentes expressões de dor e sofrimento
por parte de mulheres de todas as regiões e continentes, sejam leigas ou
consagradas, durante o processo sinodal, revelam o quanto frequentemente
falhamos em fazer isso” (52). Em particular, “o chamado à renovação das
relações no Senhor Jesus ressoa na pluralidade de contextos” ligados “ao pluralismo
das culturas”, com, às vezes, “sinais de lógicas relacionais distorcidas e até
mesmo opostas às do Evangelho” (53). O ponto é direto: “Nessa dinâmica
encontram-se as raízes dos males que afligem nosso mundo” (54), mas “o
fechamento mais radical e dramático é aquele em relação à própria vida humana,
que leva ao descarte de crianças, ainda no ventre materno, e dos idosos” (54).
Ministérios para a missão
“Carismas, vocação e ministérios para a
missão” (57-67) estão no centro do Documento, que visa à participação mais
ampla de leigas e leigos. O ministério ordenado é “a serviço da harmonia” (68)
e, em especial, “o ministério do bispo” é “unir em unidade os dons do Espírito”
(69-71). Entre diversas questões, foi constatado que “a relação constitutiva do
Bispo com a Igreja local não parece hoje suficientemente clara no caso dos
Bispos titulares, como os Representantes pontifícios e aqueles que servem na
Cúria Romana”. Junto com o bispo estão “presbíteros e diáconos” (72-73), para
uma “colaboração entre os ministros ordenados na Igreja sinodal” (74). É
significativa, ainda, a experiência da “espiritualidade sinodal” (43-48), com a
certeza de que “se faltar a profundidade espiritual pessoal e comunitária, a
sinodalidade se reduz a um expediente organizacional” (44). Por isso,
destaca-se, “praticado com humildade, o estilo sinodal pode tornar a Igreja uma
voz profética no mundo de hoje” (47).
A conversão dos processos
Na terceira parte do Documento (79-108), é
imediatamente destacado que “na oração e no diálogo fraterno, reconhecemos que
o discernimento eclesial, o cuidado dos processos decisórios e o compromisso de
prestar contas de nossas ações e de avaliar os resultados das decisões tomadas
são práticas com as quais respondemos à Palavra que nos indica os caminhos da
missão” (79). Em particular, “essas três práticas estão intimamente
interligadas. Os processos decisórios necessitam do discernimento eclesial, que
requer escuta em um clima de confiança, que a transparência e a prestação de
contas sustentam. A confiança deve ser mútua: aqueles que tomam as decisões
precisam poder confiar e ouvir o Povo de Deus, que, por sua vez, necessita
poder confiar em quem exerce a autoridade” (80). “O discernimento eclesial para
a missão” (81-86), na verdade, “não é uma técnica organizativa, mas uma prática
espiritual a ser vivida na fé” e “nunca é a afirmação de um ponto de vista
pessoal ou de grupo, nem se resolve na simples soma de opiniões individuais”
(82). “A articulação dos processos decisórios” (87-94), “transparência,
prestação de contas, avaliação” (95-102), “sinodalidade e organismos de
participação” (103-108) são pontos centrais das propostas contidas no
Documento, surgidas da experiência do Sínodo.
A conversão dos laços
“Em um tempo em que muda a experiência dos
lugares onde a Igreja está enraizada e peregrina, é necessário cultivar de
novas formas a troca de dons e a interligação dos laços que nos unem,
sustentados pelo ministério dos Bispos em comunhão entre si e com o Bispo de
Roma”: esta é a essência da quarta parte do Documento (109-139). A expressão
“enraizados e peregrinos” (110-119) recorda que “a Igreja não pode ser
compreendida sem o enraizamento em um território concreto, em um espaço e em um
tempo onde se forma uma experiência compartilhada de encontro com Deus que
salva” (110). Também com uma atenção aos fenômenos da “mobilidade humana” (112)
e da “cultura digital” (113). Nessa perspectiva, “caminhar juntos nos
diferentes lugares como discípulos de Jesus na diversidade dos carismas e dos
ministérios, assim como na troca de dons entre as Igrejas, é um sinal eficaz da
presença do amor e da misericórdia de Deus em Cristo” (120). “O horizonte da
comunhão na troca de dons é o critério inspirador das relações entre as
Igrejas” (124). Daqui surgem os “laços pela unidade: Conferências episcopais e
Assembleias eclesiais” (124-129). Particularmente significativa é a reflexão
sinodal sobre “o serviço do bispo de Roma” (130-139). Justamente no estilo da
colaboração e da escuta, “antes de publicar documentos normativos importantes,
os Dicastérios são exortados a iniciar uma consulta das Conferências episcopais
e dos organismos correspondentes das Igrejas Orientais Católicas” (135).
Formar um povo de discípulos missionários
“Para que o santo Povo de Deus possa
testemunhar a todos a alegria do Evangelho, crescendo na prática da
sinodalidade, necessita de uma formação adequada: antes de tudo, à liberdade de
filhos e filhas de Deus na sequela de Jesus Cristo, contemplado na oração e
reconhecido nos pobres”, afirma o Documento em sua quinta parte (140-151). “Uma
das solicitações que emergiram com maior força e de todos os lados ao longo do
processo sinodal é que a formação seja integral, contínua e compartilhada”
(143). Também nesse campo retorna a urgência da “troca de dons entre vocações
diferentes (comunhão), sob a perspectiva de um serviço a ser prestado (missão)
e em um estilo de envolvimento e de educação à corresponsabilidade diferenciada
(participação)” (147). E “um outro âmbito de grande relevância é a promoção em
todos os ambientes eclesiais de uma cultura de proteção (safeguarding), para
tornar as comunidades lugares cada vez mais seguros para os menores e as
pessoas vulneráveis” (150). Finalmente, “também os temas da doutrina social da
Igreja, do compromisso pela paz e justiça, do cuidado da casa comum e do
diálogo intercultural e inter-religioso devem ter maior difusão no Povo de
Deus” (151).
Entrega a Maria
“Vivendo o processo sinodal – é a conclusão
do Documento (154) – tomamos nova consciência de que a salvação a ser recebida
e anunciada passa pelas relações. Vive-se e testemunha-se juntas. A história
nos aparece tragicamente marcada pela guerra, pela rivalidade pelo poder, por
mil injustiças e opressões. Contudo, sabemos que o Espírito colocou no coração
de cada ser humano um desejo profundo e silencioso de relações autênticas e de
laços verdadeiros. A própria criação fala de unidade e de compartilhamento, de
variedade e interligação entre diferentes formas de vida.” O texto se conclui
com a oração à Virgem Maria pela entrega “dos resultados deste Sínodo:
‘Ensina-nos a ser um Povo de discípulos missionários que caminham juntos: uma
Igreja sinodal’” (155).
Documento final (versão em português)
Com informações VaticanNews e Salla de Stampa do Vaticano
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