Finados e santidade
A Igreja celebra em dias próximos “todos os
santos” e “todos os falecidos”. O prefácio da prece eucarística de Todos os
Santos reza: “Vós nos concedeis hoje festejar vossa cidade, a Jerusalém do
alto, nossa mãe, onde a assembleia dos nossos irmãos e irmãs canta eternamente
o vosso louvor. Para esta cidade, peregrinos e guiados pela fé, nos apressamos
jubilosos, compartilhando a alegria dos membros mais ilustres da Igreja, que
nos concedeis como exemplo e auxílio para a nossa fragilidade”. No prefácio da
missa dos fiéis defuntos se reza: “Nele brilha para nós a feliz esperança da
ressurreição: e, se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa
da futura imortalidade. Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada,
mas transformada, e desfeita esta morada terrestre, nos é dada uma habitação no
céu”. A celebração de Finados nos recorda da nossa condição mortal e a
Solenidade de Todos os Santos a finalidade da vida cristã. “Sede, portanto,
perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).
O dia de Finados coloca o drama humano da
morte. Ter consciência da finitude e conviver com ela suscita interrogações e a
busca de sentido para o viver e o morrer. A sede de infinito pode afastar a
reflexão sobre o tema do morrer. “Morrer, nem pensar!” Poucos consideram que
viveram o suficiente. Porém, a morte deve ser levada a sério e a reflexão sobre
ela deve fazer parte da nossa vida.
O Dia de Finados é sugestivo porque coloca
em pauta o tema para todos. Para este dia, a Igreja motiva a visita aos cemitérios
e a participação em celebrações religiosas. Há muitas formas de ver a morte e
estas orientações da Igreja apresentam o modo cristão de ver e viver a morte.
Visitar e cuidar dos cemitérios é uma atitude de respeito com as pessoas que
colaboraram na construção da história familiar, da Igreja, da cidade e da
sociedade. Levar a sério a limitação humana, que tem na morte física o limite
insuperável, é o melhor convite para valorização, o cuidado e a promoção da
vida. É um grito para viver bem e se ocupar daquilo que tem valor de
eternidade.
A Solenidade de Todos os Santos nos faz
pensar sobre a pergunta formulada pelo filósofo Maurice Blondel: “Sim ou não, a
vida humana tem um sentido e o homem um destino”? A vida dos santos é uma
resposta a esta pergunta existencial. Cada um a seu modo, na sua época e nas
suas circunstâncias foi respondendo. Se o fato da morte é inerente a vida, isto
não significa que a vida não tenha um sentido ou o sentido da vida seja o
morrer. O modo cristão de pensar é que o sentido da vida é a busca constante da
santidade e o destino é a glória eterna. Quando se analisa a vida dos santos
percebe-se claramente que a vida deles não foi medíocre, superficial e
indecisa. As santas e os santos amaram a Deus e ao próximo. Toda dedicação ao próximo
se alimentava no amor a Deus e na vida de oração.
Porém, o objetivo da Festa de Todos os
Santos é recordar todos os falecidos que estão diante de Deus na eternidade. Na
Igreja temos alguns que são reconhecidos oficialmente como santos e são apresentados
como modelos e intercessores. A Igreja também crê e anuncia o que diz o livro
do Apocalipse 7, 9-10: “Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações,
tribos, povos, línguas, e que ninguém podia contar. […] Todos proclamavam com
voz forte; “A salvação pertence ao nosso Deus”. O convite é fazermos parte, um
dia, desta multidão para louvar a grandeza de Deus.
Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de
Passo Fundo (RS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário