por favor, não nos
esqueçamos dos pobres
Na missa do VIII Dia Mundial dos Pobres,
Francisco faz um apelo aos governos e às organizações internacionais, mas
convida a Igreja a sentir “a mesma compaixão do Senhor” diante dos últimos, e
pede aos cristãos que se tornem “sinal da presença do Senhor”, pertos do
sofrimento dos necessitados para aliviar suas feridas e mudar sua sorte: só
assim a Igreja “se torna ela mesma, casa aberta a todos”.
“Por favor, não nos esqueçamos dos
pobres!”. A invocação com a qual o Papa Francisco encerra sua homilia na missa
do VIII Dia Mundial dos Pobres neste domingo (17/11), na Basílica de São Pedro,
é dirigida à Igreja, aos governos dos Estados e às organizações internacionais,
mas também “a todos e a cada um”. E aos fiéis em Cristo, o Papa nos lembra que
“é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da
presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as
suas feridas e mudar a sua sorte”. Porque a esperança cristã precisa de “cristãos
que não se viram para o outro lado” e que sintam “a mesma compaixão do Senhor
diante dos pobres”. Francisco sublinhou isso lembrando uma advertência do
cardeal Martini: somente servindo os pobres “a Igreja ‘torna-se’ ela mesma,
isto é, uma casa aberta a todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de
cada homem”.
Jesus se tornou pobre por nós
Em uma Basílica lotada, com a presença dos
pobres que mais tarde almoçam com ele na Sala Paulo VI, o Pontífice abre a
celebração com a exortação do ato penitencial: “Com o olhar fixo em Jesus
Cristo, que se fez pobre por nós e rico de amor para com todos, reconheçamos
que precisamos da misericórdia do Pai”. O celebrante no altar é o arcebispo
Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.
Na escuridão deste tempo, brilha uma
esperança inabalável
Na homilia, o Papa Francisco relê a
passagem do Evangelho de Marcos, na liturgia deste XXXIII Domingo do Tempo
Comum, com as palavras de Jesus aos discípulos antes de sua paixão, descrevendo
“o estado de espírito daqueles que viram a destruição de Jerusalém”, mas também
a chegada extraordinária do Filho do Homem. “Quando tudo parece desmoronar-se,
que Deus vem, que Deus se aproxima, que Deus nos reúne para nos salvar”.
Jesus convida-nos a ter um olhar mais aguçado, a ter olhos capazes de “ler por dentro” os acontecimentos da história, para descobrir que, mesmo na angústia dos nossos corações e dos nossos tempos, há uma esperança inabalável que resplandece.
Angústia e impotência diante da injustiça
do mundo
Neste Dia Mundial dos Pobres, portanto, o
Papa nos convida a nos determos nas duas realidades, “angústia e esperança, que
sempre duelam entre si na arena do nosso coração”. Ele começa com a angústia,
tão difundida em nosso tempo, “onde a comunicação social amplifica os problemas
e as feridas, tornando o mundo mais inseguro e o futuro mais incerto”. Se o
nosso olhar, enfatiza, “se detém apenas na crônica dos acontecimentos, dentro
de nós a angústia ganha terreno”, porque ainda hoje, como na passagem do Evangelho,
“vemos o sol escurecer e a lua se apagar, vemos a fome e a carestia que oprimem
tantos irmãos e irmãs, vemos os horrores da guerra e a morte de inocentes”. E
corremos o risco de “afundarmos no desânimo e de não nos apercebermos da
presença de Deus no drama da história. Assim, condenamo-nos à impotência".
Vemos crescer à nossa volta a injustiça que causa a dor dos pobres, mas juntamo-nos à corrente resignada daqueles que, por comodismo ou por preguiça, pensam que “o mundo é assim mesmo” e que “não há nada que eu possa fazer”. Desse modo, até a própria fé cristã é reduzida a uma devoção inócua, que não incomoda os poderes deste mundo e não gera um compromisso concreto de caridade.
A ressurreição de Jesus acende a esperança
Francisco cita a sua Exortação
Apostólica Evangelii gaudium para nos lembrar que, “enquanto crescem
as desigualdades e a economia penaliza os mais fracos, enquanto a sociedade se
consagra à idolatria do dinheiro e do consumo”, acontece que “os pobres e os
excluídos não podem fazer outra coisa senão continuar a esperar”. Mas no quadro
apocalíptico que acaba de ser descrito no Evangelho, Jesus “acende a
esperança”, descrevendo a chegada do Filho do Homem “com grande poder e
glória”, para reunir “os seus eleitos dos quatro ventos”. Assim, ele “alarga o
nosso olhar para que aprendamos a perceber, mesmo na precariedade e na dor do
mundo, a presença do amor de Deus que se faz próximo, que não nos abandona, que
atua para a nossa salvação”. Jesus, lembra o Pontífice, está apontando
“inicialmente para a sua morte que terá lugar pouco depois”, mas também para “o
poder da sua ressurreição” que destruirá as cadeias da morte, “e um mundo novo
nascerá das ruínas de uma história ferida pelo mal”. Jesus nos dá essa
esperança por meio da bela imagem da figueira: “quando seus ramos ficam verdes
e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto”.
Do mesmo modo, também nós somos chamados a ler as situações da nossa história terrena: onde parece haver apenas injustiça, dor e pobreza, precisamente naquele momento dramático, o Senhor aproxima-se para nos libertar da escravidão e fazer brilhar a vida.
Você olha nos olhos a pessoa que ajuda?
E isso é feito, ele explica, “com nossa
proximidade cristã, com a nossa fraternidade cristã”.
Não se trata de jogar uma moeda nas mãos de quem precisa. Àquele que dá a esmola, eu pergunto duas coisas: “Você toca as mãos das pessoas ou joga a moeda sem tocá-las? Você olha nos olhos a pessoa que ajuda ou desvia o olhar?”.
Perto do sofrimento dos pobres
Cabe a nós, seus discípulos, continua o
Papa Francisco, que graças ao Espírito Santo podemos semear essa esperança no
mundo. “Somos nós" - e aqui ele cita sua Encíclica Fratelli tutti -
"que podemos e devemos acender luzes de justiça e de solidariedade,
enquanto se adensam as sombras de um mundo fechado".
Somos nós que a sua Graça faz brilhar, é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte.
Desvio o olhar diante da dor dos outros?
Não esqueçamos, é a invocação do Papa, que
a esperança cristã, “que se realizou em Jesus e se concretiza no seu Reino,
precisa de nós e do nosso empenho, de uma fé operosa na caridade, de cristãos
que não passam para o outro lado do caminho". E aqui ele lembra a imagem
de um fotógrafo romano de um casal de adultos saindo de um restaurante, que
olhava para o outro lado para não cruzar dom o olhar de “uma pobre senhora,
deitada no chão, pedindo esmolas”.
Isso acontece todos os dias. Perguntemos a nós mesmos: eu olho para o outro lado quando vejo a pobreza, as necessidades, a dor dos outros?
Francisco cita então um teólogo do século
XX, Metz, quando dizia que a fé cristã deve gerar em nós uma “mística de olhos
abertos”: “não uma espiritualidade que foge do mundo, mas, pelo contrário, uma
fé que abre os olhos aos sofrimentos do mundo e às aflições dos pobres, para
exercer a mesma compaixão de Cristo”.
“Eu sinto a mesma compaixão do Senhor diante dos pobres, diante daqueles que não têm trabalho, que não têm o que comer, que são marginalizados pela sociedade?”
Mesmo com o nosso pouco, podemos melhorar a
realidade
E, continua o Papa Francisco, “não devemos
olhar apenas para os grandes problemas da pobreza mundial, mas para o pouco que
todos nós podemos fazer todos os dias".
Com o nosso estilo de vida, com o cuidado e a atenção pelo ambiente em que vivemos, com a busca tenaz da justiça, com a partilha dos nossos bens com os mais pobres, com o engajamento social e político para melhorar a realidade que nos rodeia..
Por favor, não nos esqueçamos dos pobres
Assim, “o nosso pouco será como as primeiras
folhas que brotam na figueira: uma antecipação do verão que está próximo”.
Concluindo, o Papa recorda uma advertência do cardeal Carlo Maria Martini,
quando disse “que devemos ter cuidado ao pensar que existe primeiro a Igreja,
já sólida em si mesma, e depois os pobres dos quais escolhemos cuidar. Na
realidade, tornamo-nos a Igreja de Jesus na medida em que servimos os pobres,
pois somente assim «a Igreja “torna-se” ela mesma, isto é, uma casa aberta a
todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de cada homem»”.
Digo-o à Igreja, digo-o aos governos dos Estados e às organizações internacionais, digo-o a todos e a cada um: por favor, não nos esqueçamos dos pobres.
Projeto de caridade pela Síria e almoço com
os pobres
Antes da missa, o Papa Francisco abençoou
simbolicamente 13 chaves, representando os 13 países nos quais a Famvin
Homeless Alliance (FHA), da Família Vicentina, construirá novas casas para
pessoas necessitadas com o Projeto “13 Casas” para o Jubileu. Entre esses
países está também a Síria, cujas 13 casas serão financiadas diretamente pela
Santa Sé como um gesto de caridade para o Ano Santo. Um ato de solidariedade
que se tornou possível graças a uma generosa doação da UnipolSai, que
desejou entusiasticamente contribuir, no período que antecedeu o Ano Santo, com
esse sinal de esperança para uma terra ainda devastada pela guerra.
No final da missa e após a recitação do
Angelus, o Papa almoça na Sala Paulo VI junto com 1.300 pessoas pobres. O
almoço, organizado pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, é oferecido este
ano pela Cruz Vermelha Italiana e animado por sua Fanfarra Nacional. No final
do almoço, cada pessoa recebe uma mochila oferecida pelos Padres Vicentinos
(Congregação da Missão), contendo alimentos e produtos de higiene pessoal.
Alessandro Di Bussolo - Vatican News
_____________________________________________________________________________________Francisco no Angelus:
Após a oração mariana, o Papa recorda
novamente o Dia Mundial dos Pobres deste domingo (17/11), com o tema “A oração
do pobre eleva-se até Deus”, e agradece àqueles que, nas dioceses e paróquias,
promoveram iniciativas de solidariedade com os mais necessitados. E pediu
esforços para prevenir acidentes no Dia Mundial das Vítimas de Acidentes de
Trânsito. Em seguida, na Sala Paulo VI, almoça com 1.300 pobres.
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Encontro do Papa com os pobres durante o almoço |
Um agradecimento a todos que, nas dioceses
e paróquias, promoveram iniciativas de solidariedade com os mais necessitados
por ocasião do Dia Mundial dos Pobres, que tem como tema “A oração dos pobres
eleva-se até Deus”. O Papa Francisco pronunciou essa frase após a oração
mariana do Angelus, diante de uma Praça de São Pedro repleta de fiéis de todo o
mundo:
Neste dia, lembremos também de todas as vítimas de trânsito: rezemos por elas e pelos familiares, e nos comprometamos a prevenir os acidentes. E faço uma pergunta, cada um pode fazer essa pergunta a si mesmo: eu me privo de alguma coisa para dar aos pobres? E quando dou esmola, toco a mão do pobre e olho em seus olhos? Irmãos e irmãs, não nos esqueçamos de que os pobres não podem esperar!
Após a celebração eucarística do VIII Dia
Mundial dos Pobres, o habitual almoço com 1.300 pessoas, com a presença do Papa
Francisco, é realizado na Sala Paulo VI. A iniciativa, este ano, é oferecida
pela Cruz Vermelha Italiana: cerca de 340 voluntários servem a refeição.
A Cruz Vermelha: a beleza está nos gestos
simples
O cardeal Konrad Krajewski, esmoleiro do
Papa e prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade, que organiza o
almoço, explica à mídia vaticana por que o Pontífice não se cansa de
repetir esse gesto: simplesmente para imitar Jesus, “para devolver a dignidade
às pessoas”. Rosario Valastro, presidente de uma associação que distribui
diariamente produtos e pacotes de alimentos e apoia os sem-teto, respondendo às
necessidades e exigências de tantas pessoas, enfatiza o valor da beleza que
está nas coisas simples, nos pequenos gestos. “Que o fato de viverem à margem,
na solidão, não os torne invisíveis aos nossos olhos, não apague sua dignidade
humana”.
O almoço, animado pela Fanfarra da Cruz
Vermelha Nacional, inclui um cardápio de lasanha com legumes, bolo de carne
recheado com espinafre e queijo, purê de batatas, frutas e sobremesa. No final,
cada pessoa recebe uma mochila oferecida pelos Padres Vicentinos (Congregação
da Missão), contendo alimentos e produtos de higiene pessoal.
Ambulatório Mãe de Misericórdia: mil pobres
visitados gratuitamente
O dia de hoje é o ponto culminante dos
esforços feitos pelo Dicastério para a Evangelização durante a semana passada,
que supriu as necessidades dos mais necessitados com várias iniciativas de
caridade, incluindo, por exemplo, o pagamento de contas para as famílias mais
necessitadas por meio de contatos com as paróquias. Uma iniciativa que se
tornou possível graças à tradicional generosidade da UnipolSai. O
ambulatório Mãe de Misericórdia, que trabalha com o Dicastério para apoiar
aqueles que vivem em condições frágeis, fechou na noite de sábado (16/11) com
“um rio de caridade que" - disse o diretor Massimo Ralli - "graças
aos muitos voluntários, tornou possível acolher e visitar quase mil pobres na
semana”.
Mais de 5 milhões de pobres na Itália
Ao mesmo tempo, todas as comunidades
paroquiais e diocesanas responderam ao convite para colocar a atenção às
necessidades dos pobres em seus bairros no centro de suas atividades pastorais
por meio de sinais concretos. A Caritas Italiana publicou a 28ª
edição do Relatório sobre a Pobreza e a Exclusão Social na Itália, apresentado
como parte da primeira assembleia sinodal das Igrejas na Itália, que se encerra
neste domingo (17/11) em São Paulo Fora dos Muros. Hoje, na Itália, 9,7% da
população vive na pobreza absoluta, praticamente uma pessoa em cada 10. No
total, há 5 milhões 694 mil pobres absolutos, em um total de mais de 2 milhões
217 mil famílias (8,4% dos lares). Esse número, que é ligeiramente superior ao
de 2022 em termos de família e estável em termos individuais, ainda é o mais
alto da série histórica e não mostra nenhum sinal de diminuição.
Alessandro Di Bussolo e Antonella Palermo - Vatican News
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