Leituras e Reflexão
Leitura do Livro do Apocalipse
Naqueles dias, Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”. Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”. Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará, e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’”. A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.
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- Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!
- Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!
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2ª Leitura: Hb 9,24-28
Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo sacerdote que, cada ano, entra no santuário com sangue alheio. Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.
Naquele tempo, Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. Jesus estava sentado no templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
A verdadeira generosidade
Tempo de seca. O profeta migrante Elias, aliviado pela água do córrego do Carit e alimentado pelos corvos do céu, dirige-se a Sarepta, no pais vizinho (no Líbano). Pede a uma pobre viúva um pedaço de pão, e ela, com a última farinha, prepara-o para o profeta. Depois, não tendo mais nada, ela terá de morrer de fome, ela e seu filho. Milagrosamente, porém, a partir daquele momento a farinha não termina mais (1ª leitura).
A generosidade da pobre viúva tornou-se proverbial. Viúva naquela sociedade geral- mente era pobre, sobretudo se não tivesse filho que a sustentasse. Assim era a viúva que entrou no templo, naquele dia em que Jesus estava observando a sala onde se depositavam as ofertas (evangelho). Ela tirou um donativo para o templo daquilo que lhe servia de sustento. Observa Jesus que os ricaços piedosos que passavam por aí davam uma ninharia de seu superfluo, enquanto a viúva deu tudo quanto tinha para viver, “toda sua vida” (tradução literal). É essa a generosidade que Jesus preza. E essa prática da generosidade é acessível a ricos e pobres, especialmente aos pobres, porque são menos apegados. Isso é importante, pois no tempo de Jesus-e ainda hoje – há quem pense que é preciso ser rico para oferecer donativos e assim agradar a Deus.
A observação de Jesus faz parte de uma crítica aos escribas que ensinam a Lei, mas, entretanto, exploram os pobres e “devoram as casas das viúvas” (Mc 12,38-41). Como? Induzindo as viúvas a entregar em herança as suas moradias em troca de uma mixirrica assistência? Não se sabe com exatidão a que Jesus se refere, mas sua observação constitui uma crítica violenta à generosidade calculista que encontramos em nossa sociedade hoje. Em vez de praticar a justiça social, em vez de fazer (e aplicar) leis que garantam a distribuição eqüitativa dos bens, a sociedade mantém um sistema de beneficência paternalista, que justifica lucros maio- res. As esmolas até se podem descontar do imposto…
A generosidade que Jesus preza é duplamente generosa. É radical, pois priva a gente do necessário. É gratuita, pois ocorre sob os olhos de Deus, com quem não é possível fazer negócios escusos. Dá-se tudo sem pedir nada de volta. “Loucura, a vida não é assim!” Mas na loucura está a felicidade de amar sem restrição nem cálculo, como que para responder ao infinito amor de Deus para conosco. Generosidade gratuita é imitação de Deus (Mt 5,45-48).
Mas, e o lucro que é o “céu”? “Deus te pague”, “Dar ao pobre é investir no céu”… Essas maneiras de falar, examinadas à lupa, mostram ainda muito egoísmo. Não devemos ser generosos para comprar o céu. Devemos ser generosos porque o céu já chegou até nós, porque Deus veio à nossa presença em Jesus. Em certo sentido já ganhamos o céu, porque Jesus se doou a nós. E é por isso que queremos ser generosos s como a viúva da entrada do templo e a viúva de Sarepta. Por gratidão.
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
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