sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Preparemos-nos para a importante festa que se aproxima:

Rei do Universo?

Durante o julgamento de Jesus Cristo, Pilatos lhe perguntou se era rei. Jesus respondeu que sim, mas que seu reino não era deste mundo (cf. Jo 18,33). Naquela época a existência de reis era comum, era o modo de exercer o poder. Hoje restam poucos reis, a maioria são mais figuras emblemáticas, reinam, mas não governam e se o fazem, é através de um parlamento e um primeiro ministro.

Dom Pedro Cipollini

Neste mês de novembro, encerrando o Ano Litúrgico, a Igreja celebra Jesus como “Rei do Universo”. O que isto quer dizer? Quer dizer que segundo palavras da Bíblia Sagrada, Jesus é o único mediador da salvação de toda criatura. É nele e por ele que se pode atingir a felicidade e a realização plena, tanto das pessoas como da sociedade e da criação como um todo. Jesus inaugura o reino da verdade e da vida, da justiça e da paz.  

Jesus é rei pela sua autoridade e poder divinos. Não basta que as coisas que se diz sejam grandes, se quem as diz não é grande. Desta forma, Jesus não só tem poder, mas tem também a grandeza da autoridade. Autoridade conferida pela sua natureza divina confirmada pelo seu testemunho de vida.  

Precisamos distinguir poder de autoridade. Os ditadores e tiranos têm poder, mas não autoridade. Ao passo que alguém sem poder nenhum, pode ter uma autoridade imensa, como foi o caso de Mahatma Gandhi. Pois como dizia um sábio da antiguidade clássica: “Não há autoridade que se compare à que se estriba na justiça e se exerce na virtude” (Plínio). 

Jesus é rei e seu reino não é deste mundo. Nos reinos deste mundo quem exerce o poder deve exercê-lo pela força e violência, dominando acima dos outros. Jesus tem outro conceito de poder, é o “poder serviço”: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja aquele que serve a todos” (Mc 9,35). No reinado de Cristo, reinar é servir, sem egoísmo, buscando o bem comum, a inclusão de todos na partilha e no amor fraterno. 

Jesus rei ensina a necessidade de viver a humildade, convida a procurar fazer dos primeiros postos, um posto de serviço, a valer-se deles para elevar os outros. Quem descobriu que o seu próprio bem está em procurar o bem dos outros, já entrou no reino de Cristo.  

As lutas pelo poder, são lutas externas, consequência e manifestação de uma luta invisível, travada no interior da pessoa. Toda falta de harmonia e reconciliação pessoal se exterioriza em atitudes agressivas e conflitivas para com os outros, visando dominar, não raro pela violência de pessoa contra pessoa, grupo contra grupo, até chegar às divisões, polarizações e guerras entre nações.  

Na oração do Pai Nosso, pedimos que “venha a nós o vosso reino”. Este reino que não é um lugar, mas um modo de vida, no qual Deus é louvado pela humanidade que vive a fraternidade universal. Celebrar Jesus Rei do Universo nos desafia a pensar o modo de exercer o poder e a autoridade: “Incumbe àqueles que exercem cargos de autoridade, garantir os valores que atraem a confiança dos membros do grupo e os incitam a colocar-se ao serviço dos seus semelhantes. A participação começa pela educação e pela cultura. Aqueles que exercem alguma autoridade devem exercê-la como quem presta um serviço” (Catecismo da Igreja Católica n.1917/1918). 

Pode soar estranho, mas no reino de Cristo, reina com ele os que são maiores e os maiores são os que servem (cf. Mt 23,2). Este é o conceito cristão de poder. Do contrário vale o que já foi dito: “O poder corrompe e o poder absoluto, corrompe absolutamente” (Lord Acton). 

Dom Pedro Cipollini - Bispo de Santo André (SP)

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Cristo Rei  

A liturgia do último domingo do Tempo Comum celebra a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (Daniel 7,13-14, Salmo 92, Apocalipse 1,5-8 e João 18,33-37). Quando falamos de rei logo nos lembramos da história de reis do presente e do passado e somos tentados a transferir o modo de viver e governar deles para Cristo Rei. É o que acontece no diálogo de Pilatos com Jesus. Ele quer enquadrá-lo no modelo dos reis dos diferentes reinos do mundo. As respostas de Jesus conduzem Pilatos e a nós para a compreensão da realeza de Deus.

Dom Rodolfo Luís

Em primeiro lugar, Jesus assume a sua identidade e missão: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus”. Jesus afirma que exerce a realeza na terra, em meio aos reinos terrestres, nos problemas humanos, mas não ao modo dos reis da terra. O reinado de Jesus liberta os homens da escravidão do pecado e promove a reconciliação com Deus. 

O reinado de Jesus Cristo conjuga realeza e verdade. Para o evangelista João a verdade é a revelação do mistério da salvação de Deus. Na revelação os homens não são tratados como súditos, mas como filhos. A revelação divina não passa pelo domínio ou pela manipulação da consciência e de ameaças, mas é um convite para um seguimento livre e consciente.  

“Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Jesus se torna rei de alguém quando sua voz é escutada. Pilatos representa a realeza que se fecha na defesa dos próprios privilégios e dos próprios interesses. Jesus testemunha a realeza que faz da cruz o sinal distintivo do amor gratuito, que não defende os próprios interesses, mas quer unicamente o bem do homem. Afinal, o rei existe para o bem dos governados. Portanto, o poder de Jesus Cristo Rei é o poder divino de dar a vida eterna, de libertar do mal. É o poder do amor e da reconciliação. 

Na visão noturna Daniel vê aproximar-se “um filho de homem”: “foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e língua o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado”. São palavras que se tornam compreensíveis e são concretizadas em Jesus Cristo. Seu reinado não é como os reinos da terra que surgem e caem. O poder de seu governo se fundamenta na verdade e no amor, por isso pode ser eterno. Nas parábolas do Reino de Deus contadas por Jesus aparecem estas características. 

O Livro do Apocalipse afirma que nós participamos da realeza de Cristo. Na aclamação: “A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai”. Jesus com o seu sacrifício na cruz abriu-se um caminho de relação profunda com Deus Pai tornando-nos filhos adotivos pelo batismo, participantes da realeza divina. Portanto, ser discípulos de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus. 

Depois o Livro do Apocalipse aponta para a segunda vinda de Jesus, quando ele voltar para julgar os homens e estabelecer para sempre o reino divino. Recorda-nos que a conversão é a resposta à graça divina e é a condição para a instauração desse reino. A todos é dirigido um vigoroso convite de converter-se sem cessar ao reino de Deus, ao domínio de Deus, da Verdade, na nossa vida. Quando se reza a oração do “Pai Nosso”, e se pede “venha a nós o vosso reino” equivale dizer a Jesus: Senhor, fazei que sejamos vossos, vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que em Vós tudo se submeta ao Pai do Amor.

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo (RS)

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