para
aplicar as conclusões do Sínodo
O Documento Final do Sínodo propõe a
conversão de relações, processos e obrigações. Francisco pediu aos
participantes no Sínodo para darem testemunho da experiência vivida, com
palavras partilhadas e atos concretos. Provavelmente, as comissões sinodais já
criadas nas dioceses podem ajudar neste processo.
Rui Saraiva – Portugal
Depois de três anos de caminho em conjunto
(2021-2024), num movimento que envolveu milhões de pessoas em todo o mundo
refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e
missão”, as conclusões do Sínodo foram condensadas num Documento Final
publicado no passado dia 26 de outubro.
Ninguém fique de fora
Sobre o texto sinodal o Papa disse no
discurso de encerramento que a pluralidade das diferenças encontradas durante o
caminho sinodal deve ser vivida em harmonia. E Francisco pediu que ninguém
fique de fora, pois Deus é para todos.
“Todos, na esperança de que não falte
ninguém. Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia,
que é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de
Pentecostes, é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas,
todas aquelas coisas… Harmonia!”, assinalou o Santo Padre.
Conversão que nasce da escuta
O Documento Final da XVI Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos bispos, nos seus 155 pontos, que são fruto do trabalho
de 368 participantes, dos quais 272 eram bispos e mais de 50 eram mulheres,
apresenta uma larga panorâmica sinodal com uma palavra-chave: a conversão. A
conversão de relações, processos e obrigações. Uma conversão contínua a partir
da escuta do Evangelho colocando em prática o Concílio Vaticano II, como se
pode ler no número 5 do documento.
“De fato, o caminho sinodal está a pôr em
prática o que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus,
chamada à santidade através de uma conversão contínua que nasce da escuta do
Evangelho”, refere o texto.
E a conversão só é possível se formos
capazes de “partilhar com todos o perdão e a reconciliação que vêm de Deus”,
refere o ponto 6, algo que é “pura graça da qual não somos donos, mas apenas
testemunhas”.
De testemunho falou o Papa Francisco no seu
discurso aos participantes no Sínodo, dizendo que os conteúdos do Documento
Final devem ser enriquecidos com o “testemunho da experiência vivida”, com
palavras partilhadas e atos concretos.
“A igreja sinodal para a missão precisa,
agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos”, declarou o
Papa.
Em discernimento aplicar as conclusões nas
dioceses
Abre-se, assim, um tempo novo no qual, tal
como disse o Papa, as palavras partilhadas devem ser acompanhadas por ações. Ou
seja, é o momento da aplicação das conclusões nas dioceses, que é a terceira
fase do Sínodo, tal como prevê a Constituição Apostólica “Episcopalis
communio”.
Recordemos que nesse documento sobre o
Sínodo dos Bispos, publicado em 2018 pelo Papa Francisco, pode-se ler que “à
celebração da Assembleia do Sínodo, deve seguir-se a fase da sua aplicação, com
a finalidade de iniciar em todas as Igrejas particulares a receção das
conclusões sinodais”.
Provavelmente, as comissões sinodais já
criadas nas dioceses podem ajudar neste processo de aplicação do Sínodo, tal
como já tinha referido em maio deste ano o padre Sérgio Leal, especialista em
sinodalidade, sublinhando a importância do discernimento comunitário.
“Partirem da escuta que fizeram e dos
desafios que foram lançados pela assembleia e voltar a essas comissões e assembleias
sinodais, agora já não para fazer um novo processo de escuta, mas para
aplicarmos em discernimento comunitário, até porque as comunidades foram
exercitadas neste dinamismo sinodal e agora em caminho sinodal dizerem como é
que podemos ser Igreja sinodal em missão aqui na comunidade em que estamos”,
disse o padre Sérgio Leal.
A relevância do caminho já percorrido desde
2021 nas comunidades e a prática do discernimento comunitário estão
explicitamente referidas no ponto 7 do Documento Final do Sínodo.
“Do caminho sinodal iniciado em 2021, já
vimos os primeiros frutos. Os mais simples, mas preciosos, estão a fermentar na
vida das famílias, das paróquias, das Associações e Movimentos, das pequenas
comunidades cristãs, das escolas e das comunidades religiosas, onde cresce a
prática do diálogo no Espírito, do discernimento comunitário, da partilha dos
dons vocacionais e da corresponsabilidade na missão. O encontro dos párocos
para o Sínodo (Sacrofano [Roma], 28 de abril - 2 de maio de 2024) permitiu
apreciar estas ricas experiências e relançar o seu caminho. Estamos gratos e
felizes pela voz de tantas comunidades e fiéis que vivem a Igreja como lugar de
acolhimento, de esperança e de alegria”, diz o Documento Final do Sínodo.
Encontro e diálogo com a “Conversação no
Espírito”
Precisamente, neste citado encontro
“Párocos pelo Sínodo” esteve o próprio padre Sérgio Leal, também ele pároco na
diocese do Porto, nas paróquias de Anta e Guetim.
Sobre esta Assembleia Mundial que reuniu
cerca de 200 párocos de todo o mundo, o sacerdote refere a importância da
“Conversação no Espírito”, o método utilizado neste processo sinodal.
Segundo o padre Sérgio Leal, “este processo
de Conversação no Espírito é um processo fundamental, até para a resolução de
conflitos numa comunidade”. Assinala o seu grande potencial para a projeção
pastoral das comunidades e sublinha que este método “permite escutar o outro,
ser escutado e sobretudo escutar o Espírito Santo”.
“Este processo de Conversação no Espírito é
um processo fundamental, até para a resolução de conflitos numa comunidade,
para a projeção pastoral de um plano pastoral diocesano ou paroquial. Porque
nos permite escutar o outro, ser escutado e sobretudo escutar o Espírito Santo
no meio de tudo isto. Na metodologia sinodal encontramos também em cada grupo o
chamado facilitador ou facilitadora, como era no nosso caso uma religiosa. O
seu papel era ajudar-nos a ser fiéis à metodologia que nos tinha sido pedida,
conduzir os trabalhos, mas com toda a liberdade de irmos onde o Espírito nos
levasse”, sublinha o sacerdote.
O Documento Final do Sínodo, no seu número
45 destaca a importância da implementação do método utilizado neste processo
sinodal que é o da “Conversação no Espírito”. Uma prática de renovação que tem
dado alegria às comunidades.
“A sua prática tem suscitado alegria,
espanto e gratidão e tem sido experimentada como um caminho de renovação que
transforma as pessoas, os grupos e a Igreja”, pode-se ler no Documento.
A propósito da aplicação das conclusões nas
dioceses, a Rede Sinodal em Portugal manifesta a sua disponibilidade para, em
ambiente de trabalho coletivo, ser parte de uma plataforma alargada nacional
que permita dar respiração ao dinamismo sinodal. Com propostas simples como
estas:
- partilhar experiências e iniciativas
sinodais nas dioceses, paróquias e movimentos;
- criar sinergias e colaborações
estimulando as comunidades com momentos de formação e encontro.
Laudetur Iesus Christus
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