quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Bela reflexão de dom Jaime Spengler:

Ouvir o coração!

Habituados a viver numa sociedade onde o que importa é calcular, produzir e consumir, corremos o risco de desconsiderar a dimensão humana dos sentimentos, ou seja, a necessária escuta do coração. Os sinais dessa situação são evidentes! A exacerbação do eu e a constante aceleração da vida cotidiana dificultam a saudável atividade de escutar o coração. Num mundo sem coração, tudo se torna hostil, rígido, frio, calculado, cinzento, sem acolhimento, solidariedade ou paixão.

Dom Jaime Spengler

Experimentamos uma desvalorização do conceito de “coração”, consequência do racionalismo e do materialismo que privilegiaram conceitos como razão, vontade e liberdade, tornando-nos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado.

Vale lembrar que o coração significa não apenas um órgão vital do corpo, responsável por manter a vida, mas também um espaço privilegiado de decisões, pois “o coração tem suas razões, que a própria razão não conhece: percebe-se isso de mil modos” (Pascal, fr. 277). E isto nos recorda muito bem o próprio Papa Francisco, quando diz “o pensamento e o sentimento pertencem ao coração e estão muito próximos um do outro (…) como o centro do desejo e o lugar onde são forjadas as decisões importantes duma pessoa” (Encíclica Dilexit Nos, n.3).

O coração aponta para uma dimensão da existência onde o empirismo científico não tem acesso; ele expressa aquilo de mais íntimo que o ser humano traz consigo, manifestando experiências vitais decisivas, que exigem empenho para serem compreendidas em sua plenitude.

Quando não se dá o devido valor ao coração, desvaloriza-se também o que significa falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração. Quando não se consideram as especificidades do coração, perdemos respostas que a inteligência por si só não pode oferecer, perdemos o encontro com os outros, perdemos a poesia. E perdemos a história e as nossas histórias, porque a verdadeira aventura pessoal é aquela que se constrói “a partir do coração” (Papa Francisco).

O coração possui uma flexibilidade que se adapta aos diversos aspectos do que se ama; dos olhos vai até o coração e, dos movimentos exteriores, conhece o que acontece no seu interior. Quando coração e razão caminham juntos, o amor se torna ainda mais prazeroso, pois juntos conferem força e flexibilidade ao espírito. “O amor é algo vital em nosso comportamento. Sem amor, nada grandioso se faz. Fazer as coisas com amor é o mais importante que existe” (J. Gerdau).

A partir deste texto iremos refletir, compassadamente, a nova encíclica do Papa Francisco, Dilexit Nos, sobre o Sagrado Coração de Jesus. O que o Papa nos diz? Qual a importância de falarmos sobre o coração em uma sociedade tão acelerada? Vamos refletir juntos. Acompanhe nos meios de comunicação da nossa Conferência.

Dom Jaime Spengler - Arcebispo de Porto Alegre (RS) - Presidente da CNBB e Celam
_____________________________________________________________________________________
                                                                                                                           Fonte: cnbb.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário