domingo, 8 de setembro de 2024

Neste domingo, Papa exorta os papuásios

a se abrirem ao Evangelho e fazer dele a bússola da vida

O Senhor diz hoje a cada um de vós: “Abre-te!” E isto é o mais importante: abrirmo-nos a Deus, abrirmo-nos aos irmãos, abrirmo-nos ao Evangelho e fazer dele a bússola da nossa vida: disse o Papa na Missa celebrada na manhã deste domingo em Port Moresby, em seu segundo dia de atividades em Papua Nova Guiné, no âmbito desta 45ª Viagem Apostólica Internacional. No Angelus, ao término da Missa, Francisco pediu o dom da paz para todos os povos, as nações e também para a criação.


O Papa iniciou seus compromissos este domingo (08/09) com a Santa Missa presidida no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby, em seu segundo dia de atividades em Papua Nova Guiné, no âmbito desta sua 45ª Viagem Apostólica Internacional. Ponto alto desta visita do Santo Padre, Francisco celebrou a Eucaristia - centro e ápice da vida cristã - para esta pequena comunidade católica papuásia, uma Igreja jovem e sedenta da Palavra de Deus.

Atendo-se à liturgia deste XXIII Domingo do Tempo Comum, o Pontífice retomou na homilia o profeta Isaías 35, 4 “Tomai ânimo, não temais!” e Isaías 35, 5 “se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir” para afirmar que essa profecia se cumpre em Jesus.


O afastamento do surdo-mudo e a proximidade de Jesus

Na narração de São Marcos, são sublinhados particularmente dois aspectos: o afastamento do surdo-mudo e a proximidade de Jesus.

Francisco desenvolveu sua reflexão em torno desses dois elementos essenciais. No primeiro, evidenciando um dos tipos de afastamento experimentado pelo surdo-mudo, frisou que ele está longe de Deus e dos homens porque não tem a possibilidade de comunicar. É surdo e, portanto, não pode ouvir os outros, é mudo e, por conseguinte, não pode falar com os demais. Este homem está separado do mundo e isolado, é prisioneiro da sua surdez e da sua mudez, devido às quais não pode abrir-se aos outros para comunicar.

“Porém, podemos interpretar esta condição de surdo-mudo num outro sentido, porque pode acontecer-nos ficar afastados da comunhão e da amizade com Deus e os irmãos quando, mais do que os ouvidos e a língua, for o nosso coração a fechar-se. Há uma surdez interior e uma mudez do coração que dependem de tudo aquilo que nos encerra em nós mesmos e impede a relação com Deus e com os outros: egoísmo, indiferença, medo de arriscar e de comprometer-se, ressentimento, ódio, e a lista poderia continuar. Tudo isto nos afasta de Deus, dos irmãos, de nós mesmos e da alegria de viver.”

Deus é vencedor de todas as distâncias

Francisco prosseguiu afirmando que diante dessa distância Deus responde com a proximidade de Jesus (segundo elemento essencial). No seu Filho, observou, Ele quer mostrar-nos, primeiramente, que é o Deus próximo, compassivo, solícito com a nossa vida, vencedor de todas as distâncias.

Com a sua proximidade, Jesus cura a mudez e a surdez do homem: “quando nos sentimos distantes, ou escolhemos manter-nos à distância – de Deus, dos irmãos, daqueles que são diferentes de nós – então fechamo-nos, encerramo-nos em nós mesmos e acabamos por girar apenas em torno do nosso eu, surdos à Palavra de Deus e ao grito do próximo e, por conseguinte, incapazes de falar com Deus e o próximo”.


Abrir-se a Deus, aos irmãos e ao Evangelho

Dirigindo-se diretamente aos fiéis desta grande ilha virada para o Oceano Pacífico, Francisco exortou-os a se abrirem a Deus, aos irmãos e ao Evangelho:

“Vós, irmãos e irmãs, que habitais esta terra tão distante, do Pacífico, talvez tenhais a imaginação de vos encontrar separados, separados dos Senhor, separados dos homens, e isso não é correto, não: vós estais unidos, unidos no Espírito Santo, unidos no Senhor. Cada um de vós: “'abre-te!'. E isto é o mais importante: abrirmo-nos a Deus, abrirmo-nos aos irmãos, abrirmo-nos ao Evangelho e fazer dele a bússola da nossa vida.”

O Santo Padre concluiu convidando-os a se abrir à alegria do Evangelho, ao encontro com Deus, ao amor dos irmãos. “Que nenhum de nós fique surdo e mudo pera este convite”, exortou-os.

Angelus: não ao rearmamento e à exploração da casa comum

Ao término da Santa Missa, que teve a participação de aproximadamente 35 mil fiéis, Francisco conduziu a oração do Angelus, confiando à Virgem Maria o caminho da Igreja em Papua Nova Guiné e nas Ilhas Salomão, fazendo, por fim, uma invocação ao dom da paz para todos os povos:

“A partir desta terra abençoada pelo Criador, gostaria de invocar juntamente convosco, por intercessão de Maria Santíssima, o dom da paz para todos os povos. Em particular, peço-o para esta grande região do mundo entre a Ásia, a Oceania e o Oceano Pacífico. Paz! Paz para as Nações e também para a criação! Não ao rearmamento e à exploração da casa comum! Sim ao encontro entre povos e culturas, sim à harmonia do homem com as criaturas!”

Por fim, o Pontífice ressaltou que este domingo se celebra a festa litúrgica da Natividade de Nossa Senhora, dirigindo seu pensamento para o Santuário de Lourdes, na França, infelizmente atingido por uma inundação.

Raimundo de Lima - Vatican News

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Assista:

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Papa vai a Vanimo
e abraça o povo 'especialista em beleza'

Francisco, de Port Moresby, voou por um dia com a Força Aérea australiana para o noroeste de Papua Guiné para visitar essa cidade portuária predominantemente católica, onde trabalham missionários, incluindo seu amigo argentino Padre Martin. Em meio a danças, cantos, sons e milhares de pessoas nas ruas, o Pontífice se reuniu com 20 mil fiéis na esplanada em frente à catedral.

O momento mais comovente, em um contexto de alegria transbordante pontuado por canções e danças tribais, por gritos de exultação e sons de tambores e outros instrumentos de percussão, foi o abraço, quase tímido em sua simplicidade, com o padre Martin Prado. Dois amigos que se reencontraram, depois de anos de cartas e telefonemas, finalmente pessoalmente: o Papa argentino, com quase 88 anos, peregrino no Sudeste Asiático e a Oceania, e o missionário, também argentino, com 35 anos, há dez anos em Papua Nova Guiné, precisamente em Vanimo, onde assiste às comunidades até mesmo das aldeias mais remotas. É justamente o incentivo à sua missão e à de seus irmãos que é uma das razões pelas quais Francisco quis estar presente em Vanimo, a maior e mais populosa cidade da província de Sandaun e do distrito de Vanimo-Green River, na costa noroeste do país, na fronteira com a Indonésia.

Boas-vindas festivas

Uma parte quase remota de Papua, cercada por uma praia de areia branca de frente para o Pacífico, à qual o Papa chegou graças a um C130 da Força Aérea fornecido pela Austrália. Partindo às 12h18, horário local, a aeronave militar que levava o Pontífice, sua comitiva e um pequeno grupo de jornalistas aterrissou duas horas depois, sob um sol escaldante, enquanto o eco das canções femininas cantadas por mulheres indígenas - algumas delas muito idosas - seminuas ou vestidas em trajes festivos pairava no ar. Dois cordões de isolamento começaram no aeroporto e continuaram até a esplanada verde em frente à pobre catedral de madeira de Vanimo. Em um palco vermelho, adornado com flores tropicais e fitas amarelas e brancas, o Papa Francisco abraçou 20 mil fiéis de todas as idades e tribos. Metade dos cerca de 41.656 católicos que vivem nas 25 paróquias presentes.

Especialistas em beleza

O Papa os chamou de “especialistas em beleza”. Beleza dada pela natureza, mas também pela alma dessas pessoas. Uma beleza, no entanto, ferida por rivalidades, divisões tribais, medos gerados por superstições e magia, exploração, álcool e drogas: “males que aprisionam e tornam infelizes tantos irmãos e irmãs, mesmo aqui”, advertiu Jorge Mario Bergoglio em seu discurso, precedido pela saudação do bispo local dom Francis Meli e pelos testemunhos de um catequista, uma menina do Lar Lujan para Meninas, uma religiosa e uma família.

O presente: um cocar com penas

Entre eles estava a pequena Maria Joseph, que colocou na cabeça do Pontífice, um cocar feito de penas, couro e pele, um símbolo de autoridade. Francisco manteve o cocar na cabeça por vários minutos, enquanto a multidão explodiu em aplausos. No palco, uma cópia da “Mama Luján”, a Virgem de Luján, padroeira da Argentina, a quem o Papa quis prestar uma pequena homenagem. Mais cedo, na curta caminhada até a esplanada, ele distribuiu doces (até mesmo alguns pirulitos argentinos) para as muitas, muitas crianças que, com bandeiras e balões, faziam passos de dança ao lado da calçada diante de celulares e câmeras.

Terra da missão

O calor é de mais de 30 graus, a umidade é de 81%, as moscas e outros insetos grudam no rosto e nos braços, e há poeira na boca. Tudo, porém, grita “beleza” nessa terra à beira do mundo, na qual o bispo de Roma se fez presente como pastor, trazendo pacotes de presentes e outros tipos de apoio. “Estou feliz por encontrá-los nesta terra maravilhosa, jovem e missionária!”, começou o Papa Francisco, lembrando a história missionária desses lugares, que começou em meados do século XIX e se desenvolveu ao longo do tempo com a ajuda de irmãos e irmãs, na pastoral, na educação, na saúde e em muitas outras áreas, com não poucas dificuldades. Precisamente essas obras materiais, como igrejas, escolas e hospitais, estruturas com arquitetura simples e aparência pobre que podem ser vistas ao longo das ruas, “testemunham ao nosso redor que Cristo veio para trazer a salvação a todos, para que cada um possa florescer em toda a sua beleza para o bem comum”, disse o Papa.

Uma natureza que evoca o Éden

Em seguida, dirigiu o seu olhar para a paisagem ao redor, uma natureza intocada que parece condensar em si as peculiaridades da Amazônia ou do Caribe, fazendo com que Vanimo pareça quase uma pintura de diferentes tons de verde e azul. “Vocês aqui são 'especialistas' em beleza, porque estão cercados por ela! Vocês vivem em uma terra magnífica, rica em uma grande variedade de plantas e pássaros, onde ficamos de boca aberta diante das cores, dos sons e dos aromas, e do grandioso espetáculo da natureza repleta de vida, evocando a imagem do Éden!”, exclamou o Papa. Essa riqueza, acrescentou, é um presente do Senhor “para que vocês também possam viver dessa maneira, unidos em harmonia com Ele e com seus irmãos e irmãs, respeitando a casa comum e cuidando uns dos outros”.

A beleza dentro de cada um de nós

O espetáculo não está apenas fora, mas também dentro de cada um de nós: “o que cresce em nós quando nos amamos uns aos outros”. E “espalhar por toda parte, por meio do amor de Deus e de nossos irmãos e irmãs, a beleza do Evangelho de Cristo” é a missão que cabe a cada um de nós, disse o Papa. Alguns a realizam empreendendo longas viagens para chegar às comunidades mais distantes, às vezes deixando suas casas. É “uma coisa linda” e a comunidade deve apoiá-los, pediu o Papa, para que eles também possam “conciliar as exigências da missão com as responsabilidades da família”. Outra maneira de ajudar os missionários “é que cada um de nós promova o anúncio missionário onde vivemos: em casa, na escola, no local de trabalho, para que em todos os lugares, nas florestas, nas aldeias e nas cidades, a beleza das paisagens corresponda à de uma comunidade em que todos se querem bem”.

Grande orquestra

Isso formará “uma grande orquestra” capaz de “recompor rivalidades, de superar divisões - pessoais, familiares e tribais -; de expulsar o medo, a superstição e a magia do coração das pessoas; de pôr fim a comportamentos destrutivos como a violência, a infidelidade, a exploração, o uso de álcool e drogas: males que aprisionam e tornam infelizes tantos irmãos e irmãs, também aqui”. Lembremos”, concluiu Jorge Mario Bergoglio, ‘que o amor é mais forte do que tudo isso e que sua beleza pode curar o mundo’.

Por quilômetros no Papamóvel

Então, um pensamento às crianças, com seus “sorrisos contagiantes” e a “alegria transbordante, que irrompe em todas as direções”. “Vocês são a mais bela imagem que aqueles que partem daqui podem levar consigo e guardar em seus corações!”, disse Francisco. E o Papa quis desfrutar dessa beleza ainda por mais tempo, lançando-se em uma longa caminhada com o papamóvel da esplanada até a escola, onde se encontrou, em privado, com o padre Martin e com outros missionários. Quilômetros e quilômetros de cabanas de barro e palafitas sobre a água, de extensões verdes e arbustos coloridos. De pôsteres de todos os tipos com o rosto do Papa, ao lado da imagem de Nossa Senhora e com mensagens de boas-vindas. Quilômetros de pessoas, principalmente mulheres e crianças, vestidas com túnicas berrantes ou camisetas, com seus rostos mestiços, às vezes com traços asiáticos ou africanos, com seus cabelos com tranças ou encaracolados, diferentes, mas todos com os mesmos olhos. Pretos, redondos, profundos e hoje cheios de gratidão.

Salvatore Cernuzio – Enviado a Vanimo

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