As primeiras comunidades cristãs
No tempo dos apóstolos e das primeiras pregações do cristianismo, a civilização urbana se expandia pela bacia do mar Mediterrâneo e as cidades promoviam uma revolução social e cultural. Paulo funda, então, comunidades nas cidades mais importantes do Império. Isso implicava entrar na nova organização social que emergia e modificar o estilo predominantemente rural de ser comunidade; modelo típico na Palestina. Assim, crescia uma rede de comunidades cristãs urbanas. Enquanto as comunidades do cristianismo palestinense eram profundamente itinerantes, a proposta de Paulo passa a um cristianismo que se fixa nos locais.
São Paulo usa a expressão Igreja Doméstica (Domus Ecclesiae), indicando que as comunidades se reuniam na casa dos cristãos. As comunidades cristãs de Jerusalém, Antioquia, Roma, Corinto, Éfeso, entre outras, são comunidades formadas por Igrejas Domésticas: as casas serviam de local de acolhida dos fiéis que ouviam a Palavra, repartiam o pão e viviam a caridade que Jesus ensinou. Paulo faz da casa a estrutura fundamental das igrejas por ele fundadas.
A Igreja do Novo Testamento será denominada como assembleia convocada por Deus. O conceito Igreja indicava a comunidade reunida para a liturgia, para ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Ceia (cf. 1Cor 11, 18); era empregado também para “comunidade doméstica”, isto é, os cristãos que se reuniam nas casas para celebrar a liturgia (cf. Rm 16, 5); expressava, igualmente, a comunidade local de todos os cristãos que viviam numa determinada cidade (cf. At 11, 22); enfim, designava a comunidade inteira dos cristãos, onde quer que residissem (cf. At 9, 31).
A comunidade de Jerusalém se denomina ekklesia de Deus (cf. 1Cor 15,9). Ekklesia, no grego, significa reunião pública, que pode ter o seu equivalente no Antigo Testamento com o termo Kahal, designando a reunião do povo da antiga aliança.
A comunidade cristã primitiva compreende-se como o povo eleito de Deus, o verdadeiro Israel. Contudo, há uma diferença, a eleição não se reduz aos judeus, pois se estende a todos que creem no Cristo. Também os pagãos são chamados a essa Igreja.
A comunidade cristã foi marcada por manifestações poderosas do Espírito Santo. Estas aprofundavam o sentido dos cristãos se compreenderem como o novo povo de Deus. Ocorreram fenômenos como curas, profecias e visões. Eram dons do Espírito Santo que comprovavam as palavras dos apóstolos e discípulos de Jesus.
A comunidade primitiva é marcada pela experiência da presença viva do Espírito Santo, pois o Reino de Deus se revela na palavra e nas obras. Ele atinge o ser humano integralmente: o homem todo, mas não de forma individual, mas em vista do bem comum.
A igreja primitiva anunciava Jesus Cristo com palavras e obras que revelavam a salvação já operante na história. Assim, a salvação já está presente mesmo que sua plenificação não tenha chegado.
O Novo Testamento, assim, permite identificar os cristãos como peregrinos e, ao mesmo tempo, os seguidores do Caminho (cf. At 16,17). Afinal, a Igreja, comunidade de fiéis, é integrada por estrangeiros (Ef 2,19), pelos que estão de passagem (1Pd 1,7), ou, ainda, pelos imigrantes (1Pd 2,11), ou peregrinos (Hb 11,13). Sempre indicando que o cristão não está em sua pátria definitiva (cf. Hb 13,14), que deve se comportar como quem se encontra fora da pátria (cf. 1Pd 1,17).
Dom Leomar Antônio Brustolin - Arcebispo de Santa Maria (RS)
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