Uma iniciação às Sagradas Escrituras
As Sagradas Escrituras são palavras de Deus
que possuem valor eterno pois elas vêm do próprio Deus para a realidade humana.
Muitas pessoas elaboraram estas Palavras e sendo inspiradas por Deus, pelo
Espírito Santo, escreveram a respeito do mistério de Deus, da vida humana e de
sua salvação. É fundamental dizer também que as palavras divinas tem por
objetivo a realização do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cfr. Mt
22,37-39), impulsionando à salvação do ser humano. Elas colocam a conversão
humana para que brilhe nas pessoas e no mundo as obras de paz e de amor, em
vista do Reino de Deus. Cassiodoro, século V, leigo romano que elaborou uma
obra que visava ao povo a iniciação às Sagradas Escrituras[1] colocou
pontos importantes em seu tempo sobre a introdução às Sagradas Escrituras. A
seguir nós veremos alguns dados elaborados por esta pessoa tão influente no
período da Igreja primitiva.
A falta de mestres das Sagradas Escrituras
Cassiodoro reconheceu na sua época a
existência de muitos mestres das letras seculares nas escolas, mas que faltavam
mestres públicos das Sagradas Escrituras, divinas, para que assim a difusão da
Palavra de Deus fosse mais ampla possível na Igreja e no mundo[2]. Ele
entrou em diálogo com o Papa, bispo de Roma, Agapito I (535-536) para que na
cidade de Roma, as escolas cristãs recebessem mais pessoas, educadoras
educadores ligados às Sagradas Escrituras em vista do estudo, conhecimento da
Palavra de Deus, da mesma forma como tinha em Alexandria, no Egito e também em
Antioquia, na Síria[3].
O reconhecimento do livro do Gênesis
O autor romano falou do reconhecimento do
livro do Gênesis como o primeiro livro das Sagradas Escrituras, onde se colocam
os relatos da criação de todas as criaturas, sobretudo do ser humano, percebido
como a imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,126), o paraíso, o pecado, o
dilúvio e a aliança do Senhor para nunca mais destruir a natureza humana (cf.
Gn 1-8). Ele lembrou São Basílio em relação a criação humana e os seres dados
para a glória divina e humana. Ele mencionou também Santo Agostinho na disputa
contra os maniqueus devido às idéias dualistas do deus do bem e do deus do mal
que o bispo de Hipona, superou-as ao afirmar que o bem vem somente de Deus
Criador e o mal proveio pela desobediência humana[4].
Uma palavra sobre os profetas
Cassiodoro teve presentes os profetas, como
anunciadores da vinda do Senhor Jesus neste mundo. Tudo estava em profunda
ligação com a chegada do Messias. Ele comentou São Jerônimo que proporcionou
claríssimas explicações sobre a generosidade do Senhor Jesus pela encarnação do
Verbo neste mundo para nos salvar[5].
Ele também disse que o capítulo dezoito de Isaias é uma referência aberta aos
mistérios de Cristo e da Igreja[6].
O autor romano disse que São Jerônimo comentou os profetas, classificando-os
como maiores por serem longos os seus relatos, e os chamou de menores pela
brevidade de seus livros[7].
Em relação ao saltério
Cassiodoro falou que se alguns padres como
Santo Hilário, Santo Ambrósio trataram alguns salmos, no entanto Santo
Agostinho fez comentários de todos eles em grandes obras, escrevendo sobre a
graça do Senhor, a sua atuação amorosa no mundo[8]. Para o autor romano os salmos são cento e
cinquenta de modo que eles são divididos em três secções como forma de honra à
Santíssima Trindade e também para pedir ajuda, saúde, a graça do amor de Deus
em cada ser humano[9].
Em relação aos evangelhos
O autor romano colocou a importância dos
quatro evangelhos que a Igreja desde o início fechou o cânone sendo palavra de
vida eterna de Jesus Nazareno, o enviado do Pai. São Jerônimo explicou as
características particulares de cada evangelho de uma forma diligente para
perceber a unidade dos livros. Ele colocou que diversos autores como Santo
Hilário, Santo Ambrósio, Eusébio de Cesareia, Santo Agostinho realizaram
comentários muito importantes sobre os evangelhos[10] colocando como palavra plena de Deus
revelada por Jesus Cristo em comunhão com o Espírito Santo.
A respeito das cartas dos apóstolos
Cassiodoro falou a respeito das cartas dos
apóstolos para dar visibilidade a missão da Igreja antiga junto aos judeus e
junto aos pagãos, após Pentecostes. O docetismo, o pelagianismo estavam ainda
presentes, heresias que negavam a humanidade de Jesus, e o pecado original de
modo que era preciso reforçar as cartas dos apóstolos, sobretudo aquelas de São
Paulo onde se colocavam a humanidade e a divindade do Verbo na Pessoa de Jesus
Cristo e o pecado original transmitido para toda a humanidade e através do
batismo vem superado este pecado, ainda que persistam as tendências ao pecado,
mas a graça de Cristo Jesus é superior ao pecado[11].
Em relação aos Atos dos Apóstolos e do
livro do Apocalipse
Foram diversos os comentários a respeito
dos Atos dos Apóstolos para colocar a presença do Espírito Santo sobre os
Apóstolos na Igreja primitiva no anúncio da ressurreição de Jesus Cristo e na
pregação evangélica nos diversos povos. Cassiodoro disse também que foi São
Jerônimo quem comentou mais a respeito do livro do Apocalipse, conduzindo os
leitores à uma contemplação superior e discernir com a mente os acontecimentos
da Igreja primitiva e a realidade social do Império romano[12].
Os quatro Concílios reconhecidos
Cassiodoro teve presentes que os Concílios
de Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431), Calcedônia (451)
reconheceram os livros das Sagradas Escrituras como livros inspirados, de modo
que eram lidos nas comunidades cristãs. As suas leituras davam luzes para as
comunidades viverem a Palavra de Deus para assim enfrentarem as heresias, as
hostilidades do tempo e a viverem o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo
(cfr. Mt 22,37-39)[13].
Os dois Testamentos segundo São
Jerônimo
Cassiodoro afirmou que São Jerônimo fez
toda a tradução dos livros sagrados em latim, tendo presentes os livros do
Antigo Testamento, sendo o Testamento primeiro da Palavra de Deus e o Novo
Testamento, o Testamento segundo, realizado e assumido por Jesus Cristo, a Palavra
do Pai. Os dois Testamentos são Palavra de Deus, pois Deus é o seu devido
autor, proveniente de sua boca e tudo realizado em Jesus Cristo, o Messias, o
Envidado do Pai. Segundo o autor romano São Jerônimo ordenou toda a sua tradução
à Autoridade divina de modo a tornar a Palavra de Deus mais próxima do povo por
causa da língua vernácula, o latim[14].
Esta introdução às Sagradas Escrituras feita por Cassiodoro ajude-nos na leitura da Palavra de Deus neste mês bíblico, fazer a compreensão em vista da conversão e testemunho de vida de todos nós, povo de Deus e ministros ordenados tendo presente o dom divino da salvação, dado por Deus Uno e Trino ao ser humano, pela realização de obras de caridade neste mundo.
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