dom e
missão na vida humana e cristã
O mistério de Deus Uno e Trino é tão
grandioso e ao mesmo tempo próximo de cada um de nós. É o principio, o fim de
todas as coisas e dos seres humanos.
Após o domingo de Pentecostes, festeja a
Igreja o mistério de Deus Uno e Trino. Deus é um só em três Pessoas e três
Pessoas são dadas num único Ser, Deus. É o mistério inesgotável, infinito, e ao
mesmo tempo, ele está presente em cada um de nós, nos irmãos e nas irmãs, em
nossos corações, sobretudo naqueles que sofrem e são necessitados. O mistério
de Deus Uno e Trino é tão grandioso e ao mesmo tempo próximo de cada um de nós.
É o principio, o fim de todas as coisas e dos seres humanos. Nós somos chamados
a adorar a Unidade onipotente e a Trindade santa e vivê-la nas relações
humanas, familiares, comunitárias e sociais. Vejamos estas doutrinas presentes
nos padres da Igreja, os escritores cristãos dos primeiros séculos do
cristianismo.
A oração ao Deus Uno e Trino no momento do
martírio
São Policarpo, bispo de Esmirna, século II
morreu mártir, dando a sua vida pelo Senhor, pelo Reino de Deus e pela Igreja.
Um momento antes de sua entrega a Jesus o bispo proferiu uma oração trinitária
onde ele disse que era bendito o Senhor, Deus todo-poderoso, Pai de seu Filho,
Jesus Cristo, pelo qual as pessoas receberam o conhecimento de seu nome, Deus
dos anjos, dos poderes e de toda a criação. Policarpo também disse que ele
estava bendizendo a Deus por ser considerado digno daquele dia e daquela hora,
de tomar parte entre os mártires, e do cálice de Cristo, para a ressurreição da
vida eterna da alma e do corpo, na incorruptibilidade do Espírito Santo[1].
A fé em Deus, imortal
São João Damasceno, presbítero do século
VIII, tinha presente a fé em um só Deus, único principio, privado de principio,
incriado, indestrutível, imortal, eterno imenso, ilimitado, de infinito poder,
simples, não composto, incorpóreo, imutável, impassível, invisível, fonte de
toda a bondade e justiça. O presbítero também dizia que Deus é luz inacessível,
fundador de todas as coisas, seja daquelas visíveis que das invisíveis,
providente de tudo, conservador de tudo, com o reino perpétuo e imortal[2].
A fé na Trindade preenche tudo
São João Damasceno também afirmou que a fé
em Deus preenche todas as coisas sem ser por nenhuma circunscrita, antes Ele
mesmo circunscreve tudo, porque tudo contém e a tudo provê, pois ele penetra
todas as substâncias deixando-as intactas além de estar em todas as coisas,
transcendente a toda substância, superior a toda coisa, superior pela sua
divindade, bondade, plenitude. Ele está sobre toda a ordem e a todo o poder,
mais alto por essência, vida, palavra, inteligência. O Deus é a luz mesma, a
vida mesma, não recebendo de nenhum ser nem das coisas que existem, mas antes
Ele mesmo é a fonte do ser por tudo aquilo que é a vida, por tudo aquilo que
vive, dá razão por todas as criaturas que fazem uso[3].
Os fieis são chamados a acreditar num só
Deus
Segundo São João, os fiéis são chamados a
acreditar em um só Deus que é causa de todo o bem para todas as coisas, que
prevê tudo antes que venha a existir, única divindade, poder, vontade,
atividade, reino. O escritor também afirmou em acreditar num único Deus conhecido
na três perfeitas pessoas e venerado com um único ato de culto, objeto de fé e
de adoração por parte de toda a criatura racional, de todos os fieis cristãos,
e essas pessoas são unidas sem mistura ou sem confusão, sem alguma distância no
Pai e no Filho e no Espírito Santo, no nome no qual fomos batizados. Foi desta
forma que o Senhor antes de voltar ao Pai pediu para que as pessoas fossem
batizadas em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19)[4].
A fé nas Pessoas divinas
São João Damasceno manifestou a fé em cada
pessoa. Ele dizia em acreditar no único Pai, principio e causa de tudo, não
gerado por ninguém, único salvador não causado e ingênito, criador de todas as
coisas. É Pai por natureza do seu único Filho Unigênito e Deus o nosso Jesus
Cristo, do qual vem o Espírito Santo.
Ele manifestou fé no Filho de Deus
Unigênito, Senhor nosso, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai
pelo qual todas as coisas foram feitas.
Ele manifestou a fé no Espírito Santo,
Senhor vivificador, que procede do Pai e reside no Filho, que junto com o Pai e
o Filho é adorado e glorificado sendo substancial e eterno como eles, Espírito de
Deus, justo, soberano, fonte de sabedoria, de vida e de santidade. Ele é também
é chamado Deus com o Pai e o Filho, incriado, perfeito, criador que governa
todas as coisas, onipotente, que diviniza sem ser divinizado, que santifica mas
não é santificado. Ele também é Paráclito porque acolhe as invocações de todos,
porque ele é da mesma substância com o Pai e com o Filho, é concebido pelo Pai
através o Filho e é recebido por toda criatura[5].
A diferença entre a geração divina e humana
Santo Ambrósio, bispo de Milão no século IV
afirmou que não se pode comparar a geração divina com a humana, porque enquanto
a humana tem o pai que passa para o filho e o filho que pode depois se tornar
pai, aquela divina, há um só Pai e um só Filho. É impossível pensar o Pai sem o
Filho de modo que convida o fiel em reforçar a sua fé e segui-los. O Filho é
primogênito do Pai e é co-eterno ao Pai, que também é eterno. O Filho não está
só, mas sempre está com o Pai pois Ele disse: Eu não estou só, pois o Pai está
comigo (Jo 16,32). O Pai é único, porque não há que um só Deus porque não há
que uma única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo e aquilo que é
único é só[6].
As três Pessoas divinas
O Pai é único, único é o Filho Unigênito e
único é também o Espírito Santo porque o Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai
e nem o Espírito é o Filho e o Pai. Uma pessoa é o Pai, a outra é o Filho e
outra ainda o Espírito Santo. Portanto, o Senhor é verdadeiramente grande, de
modo que se difunde largamente o poder de Deus, a grandeza da substância divina
se estende sem medida. A Trindade não conhece limites, não tem fronteiras, não
pode ser medida, não existe dimensões porque nenhum espaço pode
circunscrevê-la, nenhum pensamento abraçá-la, nenhum cálculo avaliá-la, nenhuma
época modificá-la[7].
Oração ao Deus Uno e Trino
Santo Agostinho rezou à Santíssima Trindade
no sentido da manifestação da fé ao nosso Deus, Pai e Filho e Espírito Santo.
Pois o Filho disse que era para os discípulos batizarem a todos os povos, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). Tudo isso não teria dito
se não fosse a Trindade. E o Filho não nos ordenaria que fôssemos batizados em
nome de alguém que não fosse Senhor Deus. Nem a voz divina diria que Israel
ouvisse o Senhor seu Deus pois é o único Deus (Dt 6,4), se não fosse Trindade e
ao mesmo tempo, o único Senhor Deus[8].
Senhor Deus, única esperança
Santo Agostinho também disse na sua oração
que o Senhor Deus é a sua única esperança de modo que ele pede que jamais se
entregue ao cansaço, mas que sempre o procure a sua face, com todo o ardor (Sl
104,4). Ele pede para que fortaleça a pessoa que o busca, o Senhor que permitiu
que o encontrasse e cumulou de esperança de sempre mais o encontrar[9].
O desejo de estar na sua presença
O Bispo de Hipona continuou a sua oração
afirmando de querer e estar em sua presença, pois a sua força cura a sua
fraqueza. Na sua presença, estão a sua ciência e a sua ignorância. Lá onde o
Senhor abriu, permita que ele entre e lá onde o fechou, abre-se ao bater. Que
ele se lembre do Senhor, que o compreenda e que o ame. O bispo pede a Deus para
que o livre do muito falar, o que o atormenta, no interior de sua alma, mísera,
na sua presença, mas que se refugia na sua misericórdia[10].
O Senhor Deus conhece os pensamentos humanos
Ele diz que são muitos os pensamentos dele,
do ser humano, e o Senhor os conhece, pois são pensamentos humanos, que passam,
são vãos (Sl 93,11). O que se pode dizer das coisas e dos seres humanos é que
Deus é tudo (Eclo 43,29). Quando o ser humano chegar à presença do Senhor,
cessará o muito que dissemos neste mundo, mas muito ficará por dizer, e Deus
permanecerá só, tudo em todos (1 Cor 15,28) de modo que eternamente cantaremos
um só cântico louvando o Senhor em um só movimento e estreitamente unidos[11].
A oração termina na intuição que a pessoa
entrega-se nas mãos de Deus tendo presente a fé num único Deus, Deus Trindade,
no qual tudo o que o bispo disse nos livros, do Senhor que veio a este mundo, e
pede perdão pelas faltas, mas ele tem presente o louvor ao Senhor Deus Uno e
Trino que está sobre todos[12].
Nós somos chamados a viver cotidianamente o
mistério do Deus Uno e Trino em nossas vidas para que assim tudo se transforme
no bem, na paz e no amor aos irmãos e irmãs e para glória de Deus Uno e Trino e
um dia, para sempre, viveremos na sua presença, na vida eterna, como dom dado
aos seres humanos.
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[1] Cfr. Martírio de São Policarpo,
14, 1-2. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 152-153.
[2] Cfr. Giovanni Damasceno. Esposizione
della fede ortodossa, 1,8. In: La teologia dei padri, v. 1. Roma,
Città Nuova Editrice, 1981, pg. 37.
[3][3] Cfr. Idem, pg. 37.
[4] Cfr. Idem, pgs. 37-38.
[5] Cfr. Idem, pg. 38.
[6] Cfr. Ambrosio. Commento al Vangelo
di San Luca, 2,12-13. In: Idem, pgs. 38-39.
[7] Cfr. Idem, pg. 39.
[8] Cfr. Santo Agostinho. A Trindade,
capítulo 28. São Paulo, Paulus, 1994, pg. 555.
[9] Cfr. Idem, pg. 556.
[10] Cfr. Idem, pg. 557.
[11] Cfr. Idem, pg. 557.
[12] Cfr. Idem, pg. 557.
Dom Vital Corbellini - Bispo de Marabá – PA
.................................................................................................................................................. Fonte: vaticannews.va
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