Tão sublime Sacramento
A solenidade de Corpus
Christi nos coloca diante do grande tesouro da Igreja, a Eucaristia. Todos
os domingos celebramos, e também todos os dias; desta vez, porém, nossa atenção
concentra-se sobre o próprio Mistério da Eucaristia; acolhendo mais uma vez
este dom inefável, adoramos, agradecemos, louvamos e nos alegramos no Senhor.
"O pão que partimos é comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo" |
Os textos da
liturgia de Corpus Christi fazem menção a diversos significados e
percepções da fé da Igreja na Eucaristia. É “memorial” da paixão, instituída
por Cristo na última ceia, pouco antes de padecer a cruz. As palavras de Jesus
dão significado ao gesto da entrega do pão e do vinho aos apóstolos: “é meu
corpo entregue por vós; é meu sangue, derramado por vós”.
Jesus refere-se
àquilo que aconteceria logo em seguida: ele se entregou “por” nós sobre a cruz,
em nosso favor; seu sangue derramado é redentor, como para os hebreus, no
Egito, foi o sangue dos cordeiros pascais, untado nos umbrais das portas. A
última ceia de Jesus com os apóstolos era a ceia da Páscoa judaica, na qual se
comia o cordeiro pascal. Jesus lhe dá novo significado, como “ceia da nova e
eterna aliança”, selada no seu próprio sangue.
A Liturgia faz
constantes referências a este aspecto “sacrifical” da Eucaristia, ceia pascal
dos cristãos. Antes da comunhão, a Eucaristia é apresentada ao povo com estas
palavras: “eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Na cruz, Jesus
é o “cordeiro imolado” entregue inteiramente pela nossa redenção, “para que não
pereça todo aquele que nele crê”. Por esta “entrega por nós”, alcançamos
misericórdia, perdão e vida sem fim.
A Eucaristia é
também “sinal de unidade e vínculo da caridade” (S.Agostinho). Chamando a
atenção da comunidade de Corinto para a dignidade da celebração eucarística,
Paulo recorda que “o pão que partimos é comunhão com o corpo e o sangue de
Cristo” e, portanto, “nós todos somos um só corpo”, em Cristo (cf 1Cor
10,16-17).
No Prefácio da
Santa Eucaristia, o celebrante proclama: “fazeis de todos nós um só coração,
iluminais os povos com a luz da mesma fé e congregais os cristãos numa mesma
caridade”. A Eucaristia é banquete de irmãos à mesma mesa, unidos todos numa só
família, “em Cristo”. Nela, nossa comunhão no amor de Cristo e na mesma fé da
Igreja é significada e realizada. Por isso, o dissenso da fé eclesial e a
orientação individualista e egoísta da vida são atitudes contrárias à
participação neste sacramento.
A Eucaristia é
também “pão da vida eterna”. Após o milagre da multiplicação dos pães e dos
peixes, Jesus convida as pessoas a procurarem “o pão vivo descido do céu”, que
é ele próprio: “eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo.
6,51). Cristo quer continuar a ser o alimento da nossa fé. E quem dele se
nutre, “viverá para sempre” (cf Jo.6,58).
A Eucaristia é
celebrada aqui na terra “até que Ele venha”. Por isso, ela também é sinal
e anúncio profético da grande esperança que vem da nossa fé: aquilo que
acolhemos na penumbra da fé e celebramos por sinais na terra, é o mesmo que
ainda esperamos e se tornará plenamente manifesto na vida eterna: “anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor
Jesus!”.
Quanta riqueza,
na Eucaristia! Não é sem razão que, em Corpus Christi, a Igreja adora e
aclama este “sublime Sacramento” – “Sacramento de Jesus Cristo e da sua
Igreja”! Vinde, todos, adoremos e rendamos graças ao Senhor!
Dom Odilo Pedro
Scherer - Cardeal arcebispo de São Paulo
Fonte: a12.com
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