É preciso voltar à escola de Nazaré
Ó Nazaré do silêncio, da família e do trabalho! Com essa exclamação que sintetiza o discurso do papa Paulo VI em 1964, durante viagem à cidade em que Jesus fora criado, começamos a nossa reflexão acerca do domingo destinado à festa da Sagrada Família: Jesus, Maria e José. Nazaré é o lugar em que o menino Jesus recebe a educação de seus pais e se forma enquanto homem. Nazaré, como nos diz o papa, é a escola do evangelho. É no silêncio de José diante da ordem do anjo que pedia para levantar, tomar o menino e voltar para a terra de Israel, que José escuta uma outra voz no coração, a voz do amor, a pedir para que fosse para outra cidade, pois o filho de Herodes estava no poder e Jesus ainda podia correr risco. José preferiu descumprir o que anjo lhe dissera para salvar seu filho das garras do mal. Para o chefe de família que sustentava sua família de maneira honesta, mediante a prática de serviços de carpintaria, não importava se era apenas aquele a quem fora incumbido o papel de criar o menino. José também fez seu papel de filho, de Deus, e obedeceu às ordens do Pai do céu e não se separou de Maria.
Painel - Matriz de São José - Foto: Luiz Rosa |
Que belo exemplo de família a ser seguido: uma mulher que despoja de suas vontades para seguir em plenitude os planos do Pai para sua vida; um homem que em meio ao silêncio aprende a escutar o que anjo lhe anuncia e aceita como filho Àquele que ele não gerara; um filho que era extremamente obediente e que possuía uma aura de paz e amor, sempre fazendo bem ao “outro”. Exemplo de obediência pôde ser vista em Caná, quando Maria e Jesus estavam em uma festa e o vinho tinha acabado. Maria pede ao filho para transformar a água em vinho, que a obedece, mesmo o filho achando ainda não ser a hora de revelar sua verdadeira identidade de filho de Deus. Ser filho é justamente abdicar de suas vontades próprias e achismos para ouvir a voz dos que nos querem bem.
Hoje em dia, infelizmente, não temos presenciado o espírito de Nazaré em nossas casas. Basta uma rápida passagem de olhares pelos jornais e perceber que o sentido de família virou pelo avesso. Pai matando filho; filho desrespeitando pai; neto matando avó para comprar drogas: cenas que têm assolado a sociedade nos últimos tempos. Não obstante de destruir a própria vida, nossos filhos querem castigar a humanidade toda por um erro que só pertence a eles. Um erro que tem origem em uma sociedade hiperestimulada, gananciosa, não esvaziada dos individuais desejos. Não somos mais contemplados com a belíssima cena da família em torno da mesa de jantar, compartilhando as experiências do dia. O exemplo de partilha deixado por Jesus na última ceia não tem mais vez em nossas casas, uma vez que se vive tudo apressadamente em todas as atividades que são realizadas. Hoje em dia, vivemos em uma nova modalidade de família: a cyber família, onde todos se fazem presentes de maneira virtual. Os filhos que o digam: perderam o sentido do amor, optando por relações vazias na internet. Talvez tal comportamento seja calcado por uma má estrutura familiar, marcada por brigas familiares constantes. Onde faltaram os pilares do cristianismo, aí sobraram os conflitos. Assim são famílias do século XXI.
Portanto, peçamos ao nosso Deus, todo poderoso, que derrame as bênçãos sobre a nossa família, a fim de que possamos ser solo fértil para a semente do amor que precisa urgentemente brotar em nossos corações. Que nesta passagem de ano, possamos firmar os nossos compromissos, assumidos em nosso batismo, de sermos mais santos a cada dia. Pois somente na busca incessante por essa santidade diária é que conseguiremos voltar a escola de Nazaré, onde poderemos recuperar o silêncio para que possamos aprender a ouvir mais o irmão.
Michaell Grilo
Fonte: http://www.diocesepetropolis.org.br
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