terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Refletindo com o Padre Zezinho


A palavra ex

A expressão “ex” pode ser boa e pode ser cruel. Depende do contexto. Ouço falar de ex bispo, ex padre, ex marido, ex mulher, ex jogador, ex deputado e ex crente. Dentro do seu contexto pode ser coisa boa ou desagradável. Pode ser razão de orgulho ou de tristeza. E pode ser simplesmente experiência pessoal que não se avalia de fora.
Um amigo meu ex padre, um ex pastor e eu nos encontramos num restaurante de São Paulo. Os dois eram amigos e um deles era meu amigo. A conversa foi agradável e acabou na palavra ex. Só quem já viveu uma experiência e não pode mais prosseguir nela pode falar do que viveu. De fora julgaremos sem os devidos detalhes.
Segundo estado de vida, segundos casamentos, segundas profissões, segunda igreja e segunda maneira de ver a vida pode ser o resultado de muitas interrogações não respondidas a contento. Cito sempre a frase de Carl Sagan, cientista, escritor prolífico e popular divulgador de astrofísica. Disse ele que o fato de afirmar que não acreditava em Deus não significava que Deus não existe. Esta seria uma outra afirmação que ele nunca fez. Afirmava apenas não acreditar. Proclamar descrença não é o mesmo que proclamar a não existência. Dizer que não vejo o barco lá longe no mar não significa que ele não está lá. Posso aceitar ou não aceitar o que eu não vejo e outros dizem ver.
Aquele que não vê mais sentido em continuar um casamento, uma fé ou uma opção de vida tem suas cruzes e suas dores. Foi Jesus quem disse para não julgarmos se não quiséssemos ser julgados. Mas foi ele também quem disse que deveríamos ir conversar com o irmão sem paz antes de fazer a nossa oferta no altar.
O fato de eu ser padre e ter almoçado com um que ainda era padre, mas se intitulava ex e outro que ainda era pastor, mas também se dizia ex, levou-me a perguntar porque tinham usado as duas letrinhas. Para mim, eles continuavam a ser sacerdotes de suas igrejas; apenas não eram mais ministros. A resposta do pastor foi contundente: “Coisa de alma. Não sou mais o que já fui, mas, para quem entende, não escondo que já fui”.
Eu que ainda sou e quero continuar sendo aprendi que quando alguém deixa um casamento e fala da sua ou seu ex, ou quando deixa o ministério e se apresenta como ex é porque não jogou fora todos os laços. O conflito foi resolvido, mas não há reatamentos. A relação continua, mas em outra dimensão. Nós católicos andamos a estudar exatamente isto: relações e reações. Fazem parte do mistério das pessoas! É melhor ouvi-las antes de julgar!
                                                                                 Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com

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