A palavra ex
A expressão “ex” pode ser boa e pode ser cruel.
Depende do contexto. Ouço falar de ex bispo, ex padre, ex marido, ex mulher, ex
jogador, ex deputado e ex crente. Dentro do seu contexto pode ser coisa boa ou
desagradável. Pode ser razão de orgulho ou de tristeza. E pode ser simplesmente
experiência pessoal que não se avalia de fora.
Um amigo meu ex padre, um ex pastor e eu nos
encontramos num restaurante de São Paulo. Os dois eram amigos e um deles era
meu amigo. A conversa foi agradável e acabou na palavra ex. Só quem já viveu
uma experiência e não pode mais prosseguir nela pode falar do que viveu. De
fora julgaremos sem os devidos detalhes.
Segundo estado de vida, segundos casamentos,
segundas profissões, segunda igreja e segunda maneira de ver a vida pode ser o
resultado de muitas interrogações não respondidas a contento. Cito sempre a
frase de Carl Sagan, cientista, escritor prolífico e popular divulgador de
astrofísica. Disse ele que o fato de afirmar que não acreditava em Deus não
significava que Deus não existe. Esta seria uma outra afirmação que ele nunca
fez. Afirmava apenas não acreditar. Proclamar descrença não é o mesmo que
proclamar a não existência. Dizer que não vejo o barco lá longe no mar não
significa que ele não está lá. Posso aceitar ou não aceitar o que eu não vejo e
outros dizem ver.
Aquele que não vê mais sentido em continuar um
casamento, uma fé ou uma opção de vida tem suas cruzes e suas dores. Foi Jesus
quem disse para não julgarmos se não quiséssemos ser julgados. Mas foi ele
também quem disse que deveríamos ir conversar com o irmão sem paz antes de
fazer a nossa oferta no altar.
O fato de eu ser padre e ter almoçado com um que
ainda era padre, mas se intitulava ex e outro que ainda era pastor, mas também
se dizia ex, levou-me a perguntar porque tinham usado as duas letrinhas. Para
mim, eles continuavam a ser sacerdotes de suas igrejas; apenas não eram mais
ministros. A resposta do pastor foi contundente: “Coisa de alma. Não sou mais o
que já fui, mas, para quem entende, não escondo que já fui”.
Eu que ainda sou e quero continuar sendo aprendi
que quando alguém deixa um casamento e fala da sua ou seu ex, ou quando deixa o
ministério e se apresenta como ex é porque não jogou fora todos os laços. O
conflito foi resolvido, mas não há reatamentos. A relação continua, mas em
outra dimensão. Nós católicos andamos a estudar exatamente isto: relações e
reações. Fazem parte do mistério das pessoas! É melhor ouvi-las antes de
julgar!
Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com
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