Quem herdará o Reino?
A violência no
dia a dia de nossas cidades é impressionante, parece uma “guerra civil aos
pedaços”. O que está acontecendo com o ser humano? Em grande parte é
fruto do medo, da impunidade que se respira na sociedade, onde a violência
parece ser direito de cada um. O certo é que desde tempos antigos, no império
mais violento, o Romano, havia a consciência de que “o extremo oposto da
justiça é a violência” (Cícero).
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Dom Pedro Cipollini |
Sentimentos que
pareciam superados estão voltando. Sentimentos de suspeita, temor, desprezo e
até o ódio nas relações entre indivíduos ou grupos julgados diferentes de nós
devido à raça, religião ou partido político (nós x eles). São sentimentos
perigosos, degradantes, inspiram ações de intolerância, discriminação, negação
da dignidade da pessoa e de seus direitos fundamentais.
Preocupa
principalmente que, no mundo da política que deveria servir para resolver os
conflitos da sociedade, cede-se à tentação de instrumentalizar os medos e
dificuldades da população, para forjar promessas ilusórias em prol de
interesses eleitorais, que visam somente a permanência no poder e não o bem
comum. Na chamada esquerda os criminosos violentos são tidos como
vítimas da sociedade injusta, na chamada direita os criminosos
violentos são chamados heróis da causa. E assim a violência impera ou pela omissão
ou pela imposição. Confunde-se a violência com a força (virtude).
Preocupante
também, é a infiltração desta mentalidade de fundo violento nas comunidades
religiosas. Até mesmo nas comunidades católicas. A busca de justificar a
divisão como um “dever” de conservar a identidade original da fé e da moral.
Não se deve esquecer que: “violência gera violência”.
É preciso voltar
ao mandamento do amor ensinado por Jesus, o qual não é apanágio dos fracos, mas
dos fortes. “Se alguém disser amo a Deus, mas odeia seu irmão, é um mentiroso;
pois quem não ama seu o irmão que vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?”(1Jo
4,20). Se somos incapazes de amar a Deus no plano concreto, em nossos irmãos,
todos, até antipáticos, não é verdade que amamos a Deus, somos mentirosos. E o
“pai da mentira” é Satanás (cf. Jo 8,44).
Jesus era um
não-violento ativo: “Bem aventurados os que promovem a paz, serão chamados
filhos de Deus” (Mt 5, 9). Consequentemente os violentos não herdam o Reino dos
céus (cf Ap 22,14).
A ditadura da uniformidade e do pensamento único da qual se servem as ideologias, é uma tentação diabólica pois, é geradora de violência. Visa o poder e o domínio sobre os outros através do autoritarismo e da força. O certo é que não há quem conserve por muito tempo um poder exercido pela violência, porque ela não vem de Deus.
Dom Pedro Cipollini - Bispo de Santo André (SP)
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