Missa do Crisma
Cardeal Orani João Tempesta - Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Quinta-Feira Santa de Manhã
“Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor” (Sl 88/89)
Na Quinta-feira Santa pela manhã, a Igreja celebra a Missa dos Santos Óleos, na qual são abençoados os óleos do Batismo e dos Enfermos, e consagrado o óleo do Crisma, que serão usados ao longo de todo o ano de 2025, até a Páscoa do ano seguinte. Nessa missa, todos os padres renovam as promessas feitas no dia da ordenação, perante o bispo. Do mesmo modo que todos os fiéis renovam as promessas do Batismo no Sábado Santo, na Quinta-feira Santa os padres renovam suas promessas.
A Quinta-feira Santa é um dia especial para a Igreja. Apesar de fazer parte da Semana Santa, é um dia de festa e alegria. Primeiro, pela manhã, acontece a Missa dos Santos Óleos e a renovação das promessas sacerdotais; e, à tarde, a instituição da Eucaristia, que é a razão de ser da Igreja. É um dia para nos unirmos em oração pela Igreja, pelo Papa, pelos bispos, padres e diáconos. Devemos pedir a Deus para que nunca faltem sacerdotes que consagrem a Eucaristia para nós, pois, sem sacerdotes, não há Eucaristia; e, sem Eucaristia, não há Igreja.
As duas missas desta Quinta-feira Santa são celebradas com os paramentos brancos, pois, como dissemos, é dia de festa: celebramos a instituição da Eucaristia. Na verdade, a Quinta-feira Santa poderia ser considerada o dia do padre, pois celebramos aquilo que é a razão de ser do seu ministério. No entanto, o Dia do Padre é celebrado em 4 de agosto, dentro da perspectiva do Mês Vocacional e na memória de São João Maria Vianney. Por isso, nesse dia, rezemos por todos os padres, para que continuem levando a presença real de Jesus a todos os fiéis e busquem a santidade no dia a dia.
Seria bom que todos pudessem participar da missa na Quinta-feira Santa pela manhã, sobretudo aqueles que são coordenadores de alguma pastoral, especialmente os envolvidos com os sacramentos da iniciação cristã — Batismo, Eucaristia e Crisma — e também os agentes da Pastoral da Saúde. Mas, é claro, quem não puder participar por conta do trabalho, que ao menos participe do Tríduo Pascal, que se inicia à noite.
Algumas dioceses, por conta do calendário, realizam a Missa dos Santos Óleos na quarta-feira à noite ou em outro dia, facilitando assim a participação dos fiéis. Dessa forma, a Quinta-feira Santa fica dedicada exclusivamente à celebração da Ceia do Senhor, ao final da tarde. A Missa da Quinta-feira Santa pela manhã é uma grande festa e momento de confraternização entre os padres e o bispo. Em algumas dioceses, após a missa, há um encontro de confraternização do clero com o bispo; em outras, esse encontro ocorre após a Páscoa.
O bispo é o “pastor” que guia e cuida do seu rebanho, e os padres fazem parte do rebanho que o bispo deve acompanhar. Do mesmo modo, os padres devem guiar o rebanho confiado a eles em suas paróquias, ir ao encontro das ovelhas machucadas e feridas, e cuidar delas. Devem também procurar aquelas que se afastaram e trazê-las de volta. Além disso, precisam ser humanos e fraternos com todos os paroquianos, sem fazer distinção de pessoas.
Essas duas celebrações da Quinta-feira Santa, tanto pela manhã quanto à noite, têm uma estreita ligação. Na missa da manhã, encerramos o tempo quaresmal; e, à noite, iniciamos o Tríduo Pascal. Pela manhã, agradecemos a Deus pelos ministros ordenados que agem na pessoa de Cristo e consagram a Eucaristia para nós; e, à noite, agradecemos ao Senhor por ter deixado para nós o memorial de seu Corpo e Sangue.
Estamos vivendo o Ano da Esperança, o Jubileu da Esperança. Aproveitemos esse tempo jubilar para rezar por todos os sacerdotes, e por cada fiel, para que saiba, acima de tudo, respeitar o sacerdote. Que cada fiel seja acolhido com misericórdia por todos os padres e encontre, na Igreja, a esperança do perdão. Lembremo-nos sempre: o sacerdote está a serviço de todo o povo. Ele é padre da Igreja, não está a serviço de uma única pessoa ou paróquia, mas é chamado a servir toda a Arquidiocese e todo o povo de Deus.
Essa missa deve ser celebrada pelo bispo, pois os sacerdotes renovam, perante ele, as promessas sacerdotais feitas no dia da ordenação. É o bispo quem consagra o óleo do Crisma, que será usado não apenas nas celebrações do Crisma, mas também nas ordenações presbiterais. Se o bispo não puder comparecer por algum motivo, ele pode delegar outro bispo — seja coadjutor, auxiliar ou emérito — para presidir a celebração. Como dissemos, é um dia de grande festa e júbilo, pois o clero se reúne perante seu bispo, que é o pastor e guia daquela diocese.
A primeira leitura dessa missa é do livro do profeta Isaías (Is 61,1-3a.6a.8b-9). O profeta diz que o Espírito do Senhor o conduz para a missão, para anunciar aos doentes, presos, marginalizados e a todo o povo a Palavra de Deus. Por meio do Espírito Santo é possível proclamar o “ano da graça do Senhor”. Essa profecia tem pleno cumprimento na vida de Jesus, e os sacerdotes devem refletir o rosto de Cristo nos dias de hoje.
O Espírito Santo abençoará e consagrará, nessa missa, os óleos que serão usados ao longo de todo o ano. No Sábado Santo, esse mesmo Espírito abençoará as águas do Batismo e consagrará o Círio Pascal, que será utilizado durante o ano inteiro. Que, pela ação do Espírito Santo, este seja realmente um ano da graça do Senhor. Os sacerdotes têm as mãos ungidas com esse mesmo Espírito, e devem abençoar o povo em nome de Deus.
O salmo responsorial é o 88 (89), que diz em seu refrão: “Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor”. Que possamos sempre cantar o amor de Deus, em nossa vida aqui na Terra e por toda a eternidade. O Senhor escolheu Davi e o ungiu com óleo, para que a força do Senhor estivesse com ele. O mesmo acontece com os sacerdotes: são ungidos no dia de sua ordenação para que recebam a força necessária para cumprir sua missão.
A segunda leitura é do livro do Apocalipse de São João (Ap 1,5-8). Nela, João começa constatando a ressurreição de Jesus, que do céu intercede por todos nós. Ele é o Sumo Sacerdote, e todos os padres agem in persona Christi — tudo deve ser direcionado a Ele. João também afirma que devemos estar preparados para o dia da vinda do Senhor. Todos o verão e o contemplarão. Jesus é o Alfa e o Ômega: existe desde sempre e para sempre.
O Evangelho dessa missa é de Lucas (Lc 4,16-21). Em Jesus se cumpre a profecia de Isaías; realiza-se aquilo que ouvimos na primeira leitura. Nesse Evangelho, Jesus apresenta seu programa de vida — ou seja, mostra por que veio ao mundo e assumiu a condição humana. Tudo o que Ele declara neste Evangelho se cumpriu em sua vida e deve se cumprir também na vida de todos os sacerdotes. O padre deve ser sinal de esperança na vida dos fiéis. Jesus colocou em prática a missão para a qual foi chamado; os sacerdotes de hoje devem fazer o mesmo.
Tudo aquilo que o padre prometeu no dia de sua ordenação — e que nessa missa será renovado — deve ser vivido ao longo de toda a sua caminhada sacerdotal. O padre deve ser exemplo para a comunidade e, como Jesus, pregar com autoridade, isto é, colocar em prática aquilo que ensina. Ele não deve fazer distinção de pessoas, mas amar a todos com um amor que vem de Deus, sem esperar nada em troca.
Após a proclamação do Evangelho, acontece a renovação das promessas sacerdotais. São duas perguntas que o bispo dirige aos sacerdotes, e eles respondem: “Quero”. O bispo também pede que todos os fiéis rezem pelos padres e por ele mesmo, para que todo o povo de Deus os ajude em sua missão. Depois das preces dos fiéis, ocorre a bênção dos óleos dos Enfermos e dos Catecúmenos, e a consagração do óleo do Crisma.
Celebremos com alegria este dia dedicado aos sacerdotes, e que eles continuem caminhando sempre guiados pela luz do Espírito Santo, especialmente nos momentos de dificuldade. Rezemos para que todos os sacerdotes sejam fiéis ao chamado que Cristo lhes fez, e peçamos ao Senhor da Messe que envie novos operários, pois “a messe é grande, e os operários são poucos”.
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