"O perdão é um direito humano"
O Papa em conexão com o programa de
televisão "Che tempo che fa", faz um amplo diálogo com o condutor
Fabio Fazio que lhe pergunta como consegue suportar o peso de tantas histórias
de sofrimento e dor indescritíveis: "Toda a Igreja me ajuda". Papa
recorda música de Roberto Carlos.
"A guerra é um contrassenso". O Papa Francisco conecta-se da Casa Santa Marta, no Vaticano, com o programa televisivo "Che tempo che fa" conduzido por Fabio Fazio no canal RAI 3 e dialoga com o apresentador que o interrogou sobre muitas questões: guerras, migrantes, a proteção da criação, a relação entre pais e filhos, o mal e o sofrimento, a oração, o futuro da Igreja, a necessidade de amigos. E afirma que o perdão é um "direito humano, a capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão".
O olhar se concentra principalmente no tema
caro ao Papa, o da migração. Infelizmente, este tema ainda é atual depois da
recente notícia dos 12 migrantes encontrados mortos por congelamento na
fronteira entre a Grécia e a Turquia. Para o Papa "isto é um sinal da
cultura da indiferença". E é também "um problema de
categorização": as guerras, em primeiro lugar; pessoas, em segundo lugar.
O Iêmen é um exemplo disto: "Há quanto tempo é que o Iêmen sofre a guerra
e há quanto tempo é que falamos das crianças do Iêmen? Um exemplo claro, e não
se encontra solução para o problema há anos. Não quero exagerar, mais do que 7
de certeza, se não 10. Há categorias que importam e outras que estão embaixo:
crianças, migrantes, os pobres, aqueles que não têm o que comer. Estes não
contam, pelo menos não contam em primeiro lugar, porque há pessoas que amam
estas pessoas, que tentam ajudá-las, mas na imaginação universal o que conta é
a guerra, a venda de armas. Basta pensar que com um ano sem produzir armas, se
poderia dar de comer e educação a todo o mundo, gratuitamente. Mas isto está em
segundo plano", diz o Papa Francisco. Ele volta os seus pensamentos para
Alan Kurdi, a criança síria encontrada morta numa praia, e para as muitas
outras crianças como ele "que não conhecemos" e que "morrem de
frio" todos os dias. A guerra permanece, no entanto, a primeira categoria:
"Vemos como se mobilizam as economias e o que é hoje mais importante, a
guerra: guerra ideológica, guerra de poderes, guerra comercial e tantas
fábricas de armas", diz o Papa.
E falando de guerra, o Pontífice -
perguntado sobre as tensões entre a Ucrânia e a Rússia - recorda as raízes
desta horrível realidade que é "um contrassenso da criação" que
remonta ao Gênesis com a guerra entre Caim e Abel, a guerra pela Torre de
Babel. "Guerras entre irmãos" surgiram pouco depois da criação do
homem e da mulher por Deus: "Há como que um anti-senso da criação, é por
isso que a guerra é sempre destruição. Por exemplo, trabalhar a terra, tomar
conta dos filhos, manter uma família, fazer a sociedade crescer: isto é
construir. Fazer a guerra é destruir. É uma mecânica de destruição”.
Nesta mesma mecânica, o Papa Francisco
inclui o tratamento "criminoso" reservado a milhares de migrantes.
"Para chegar ao mar sofrem tanto", diz o Pontífice, e volta a
denunciar as "lagers" na Líbia: "Quanto sofrem nas mãos dos
traficantes aqueles que querem fugir". Há filmes que mostram isto e muitos
são conservados na seção migrantes e refugiados do Dicastério para o
Desenvolvimento Humano. "Eles sofrem e depois arriscam-se a atravessar o
Mediterrâneo". Depois, por vezes, são rejeitados, pois alguém que, por
responsabilidade local, diz "Não, aqui não vêm"; há estes navios que
andam à procura de um porto, que voltam ou morrem no mar. Isto está acontecendo
hoje", reitera o Papa. E, como em outras ocasiões, repete o princípio de
que "cada país deve dizer quantos imigrantes pode acolher":
"Este é um problema de política interna que deve ser bem pensado e dizer
"eu posso até este número". E os outros? Existe a União Europeia,
temos de concordar, para que possamos alcançar um equilíbrio, em
comunhão". Neste momento, em vez disso, apenas "injustiça"
parece emergir: "Eles vêm para a Espanha e Itália, os dois países mais
próximos, e não são recebidos noutro lugar. O migrante deve ser sempre
acolhido, acompanhado, promovido e integrado. Acolhido porque há uma
dificuldade, depois acompanhá-lo, promovê-lo e integrá-lo na sociedade".
Acima de tudo, integrá-lo a fim de evitar a guetização e os extremismos filhos
de ideologias, como aconteceu na tragédia de Zaventem, na Bélgica, com os dois
agressores "belgas", mas "filhos de migrantes guetizados".
Além disso, os migrantes são recursos em países que registam um forte declínio
demográfico. Por conseguinte, sublinha o Papa Francisco, "devemos pensar
inteligentemente na política migratória, uma política continental". E o
fato de que "o Mediterrâneo é hoje o maior cemitério da Europa deve
fazer-nos pensar".
Da mesma forma, o Papa, interpelado sobre
isto pelo apresentador, exorta a refletir sobre o que parece ser uma tremenda
divisão no mundo: uma parte desenvolvida onde se tem "a possibilidade de
escola, universidade, trabalho"; outra, com as "crianças que morrem,
migrantes que se afogam, injustiças que vemos também nos nossos próprios países".
A tentação "muito feia", sublinha o Pontífice, é "a de olhar
para o outro lado, não olhar". Sim, há os meios de comunicação social que
mostram tudo "mas nós tomamos distância"; sim, "queixamo-nos um
pouco, 'é uma tragédia!" mas depois é como se nada tivesse
acontecido". "Não basta ver, é necessário sentir, é necessário
tocar", insiste Francisco. "Sentimos falta de tocar as misérias e o
tocar leva-nos ao heroísmo". Penso nos médicos, enfermeiros e enfermeiras
que deram as suas vidas nesta pandemia: tocaram o mal e escolheram ficar ali
com os doentes".
O mesmo princípio se aplica à Terra. Mais
uma vez, o Papa Francisco reitera o apelo a cuidar da Criação: "É uma
educação que temos de aprender". O Papa olha para a Amazônia e aos
problemas de desflorestação, falta de oxigênio, mudanças climáticas: existe o
risco de "morte da biodiversidade", existe o risco de "matar a
Mãe Terra", afirma. Prosseguiu citando o exemplo dos pescadores de San
Benedetto del Tronto, que encontraram cerca de 3 milhões de toneladas de
plástico num ano e tomaram medidas para remover todos os resíduos do mar.
"Temos de colocar isto na nossa cabeça: tomar conta da Mãe Terra",
diz o Papa.
Francisco cita uma uma canção de Roberto
Carlos na qual um filho pergunta ao seu pai "porque é que o rio já não
canta. O rio não canta - o Papa destaca o Papa falando das mudanças climáticas
- porque já não existe mais".
O Papa invoca uma atitude de
"cuidado", que também parece faltar de um ponto de vista social. Hoje
em dia o que vivemos é de fato um problema de "agressividade social",
como mostra o fenômeno do bullying: "Esta nossa agressividade deve ser
educada. A agressão não é uma coisa negativa em si porque é preciso agressão
para dominar a natureza, para ir avante, para construir, há uma agressão
positiva, digamos assim. Mas há uma agressão destrutiva que começa com algo
muito pequeno, mas quero mencioná-la aqui: começa com a língua, a tagarelice.
Mas a tagarelice, nas famílias, nos bairros, destrói". Destrói a
"identidade". E isto acontece entre governantes, como entre as
famílias. É por isso que o Papa Francisco aconselha, precisamente "para
não nos destruirmos", a dizer "não à tagarelice": "Se tem
algo contra o outro ou consereva só para você mesmo ou vai ter com ele e o diz
na sua cara, ser corajosos, corajosas".
Com o foco ainda nos jovens, por vezes
vítimas de "uma incrível sensação de solidão" apesar de estarem
hiperligados, o Papa Francisco dirigiu-se aos pais dos adolescentes, aqueles
que por vezes lutam para compreender "o sofrimento dos outros". Para
o Bispo de Roma, a relação entre pais e filhos pode ser resumida numa palavra:
"proximidade". "A proximidade com os filhos. Quando os jovens
casais se vão confessar ou quando falo com eles, faço sempre uma pergunta: 'Você
brinca com os seus filhos? A gratuidade do pai e da mãe com o filho. Por vezes
ouço respostas dolorosas: 'Mas padre, quando saio de casa para trabalhar eles
estão dormindo e quando volto à noite eles estão de novo dormindo'. É a
sociedade cruel que os separa dos filhos. Mas a gratuidade com os próprios
filhos: brincar com os filhos e não ter medo dos filhos, das coisas que eles
dizem, das hipóteses, ou mesmo quando um filho, já mais crescido, um
adolescente, escorrega, estar perto, falar como um pai, como uma mãe". Aqueles
"pais que não são próximos dos seus filhos, que, para os tranquilizar,
dizem 'Mas leva a chave do carro, vai'" não fazem o bem. Por outro lado,
"é muito bonito" quando os pais são "quase cúmplices dos seus
filhos".
Sobre a questão da proximidade, Fazio recorda
a conhecida frase do Papa: "Um homem só pode olhar um outro homem de cima
para baixo quando o ajuda a se levantar". Francisco aprofunda o conceito:
“É verdade, na sociedade vemos com que frequência as pessoas olham para os
outros de cima para baixo para os dominar, para os subjugar e não para os
ajudar a levantar. Basta pensar - é uma história triste, mas quotidiana -
daqueles empregados que têm de pagar pela estabilidade do seu trabalho com o
seu corpo, porque o seu patrão os olha de cima para baixo, para os dominar. É
um exemplo diário, mas realmente um exemplo diário". Este gesto, por outro
lado, só é lícito para fazer um ato 'nobre', ou seja, estender a mão e dizer
'levante-se irmão, levante-se irmã”.
A conversa expande-se e toca no conceito de
liberdade que é um dom de Deus mas que "é também capaz de fazer muito
mal". "Como Deus nos fez livres, somos senhores das nossas decisões e
também de tomar decisões erradas", diz Francisco. E ele insiste no
conceito de Mal: "Há alguém que não mereça o perdão e a misericórdia de
Deus ou o perdão dos homens?" pergunta o apresentador. O Pontífice
responde com "algo que talvez chocará algumas pessoas": "A
capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser
perdoados se pedirmos perdão. É um direito que provém da própria natureza de
Deus e foi dado como herança aos homens. Esquecemos que alguém que pede perdão
tem o direito de ser perdoado. Você fez algo, deve pagar. Não! Tem o direito de
ser perdoado, e se você tem uma dívida para com a sociedade, deve pagá-la, mas
com o perdão”.
Contudo, há outro Mal, o inexplicável que
por vezes atinge os inocentes, e pelo qual se pergunta por que razão Deus não
intervém. "Tantos males - explica o Bispo de Roma - vêm precisamente
porque o homem perdeu a capacidade de seguir as regras, mudou a natureza, mudou
tantas coisas, e também por causa das suas próprias fragilidades humanas. E
Deus permite que isto continue". É claro que as perguntas permanecem sem
resposta: "Por que é que as crianças sofrem?". "Não consigo
encontrar explicação para isto", admite o Papa. "Eu tenho fé, tento
amar a Deus que é meu pai, mas pergunto-me: 'Mas por que sofrem as crianças? E
não há resposta. Ele é forte, sim, onipotente no amor. Em vez disso, o ódio, a
destruição, estão nas mãos de outro que semeou o Mal no mundo por inveja".
E com o Mal "não se fala",
recomenda o Papa, "dialogar com o Mal é perigoso": "E muitas
pessoas vão, tentam dialogar com o Mal - eu também já me encontrei nesta
situação muitas vezes - mas eu pergunto-me por quê, um diálogo com o Mal, isso
é uma coisa má... O diálogo com o Mal não é bom, isto vale para todas as
tentações. E quando esta tentação chega, "por que as crianças
sofrem?", só encontro uma maneira: sofrer com elas". Dostoevsky foi "um
grande mestre" nisto.
O futuro, do mundo e da Igreja, ocupa amplo
espaço na entrevista. O futuro do mundo, como prefigurado na "Fratelli
tutti", com o homem no centro das economias e das escolhas. Esta é uma
prioridade que o Papa diz partilhar com muitos chefes de Estado que têm bons
ideais. Estes, contudo, colidem com "condicionamentos políticos e sociais,
também na política mundial, que impedem as boas intenções". Estas são
"sombras" que exercem pressão sobre a sociedade, sobre o povo, sobre
aqueles que têm papéis de responsabilidade, diz o Papa: "E depois é
preciso negociar muito". Sobre o futuro da Igreja, Jorge Mario Bergoglio
recorda a imagem da Igreja delineada por São Paulo VI na exortação apostólica
Evangelii Nuntiandi, a inspiração para a sua Evangelii Gaudium: "Uma
Igreja em peregrinação". Hoje, "o maior mal da Igreja, o maior",
volta a reiterar o Papa Francisco, "é a mundanização espiritual" que,
por sua vez, "faz crescer uma coisa feia, o clericalismo, que é uma
perversão da Igreja". "O clericalismo que existe na rigidez, e por
baixo de todo o tipo de rigidez existe a podridão, sempre", diz Francisco,
contando entre as "coisas feias" da Igreja de hoje as "posições
rígidas, ideologicamente rígidas" que tomam o lugar do Evangelho. "Sobre
atitudes pastorais digo apenas duas, que são antigas: o Pelagianismo e o
Gnosticismo. O pelagianismo acredita que com a minha força posso avançar. Não,
a Igreja avança com a força de Deus, a misericórdia de Deus e o poder do
Espírito Santo. E o gnosticismo, o misticismo, sem Deus, esta espiritualidade
vazia... não, sem a carne de Cristo não há compreensão possível, sem a carne de
Cristo não há redenção possível", "Temos de voltar ao centro mais uma
vez: 'O Verbo tornou-se carne'. Neste escândalo da cruz, do Verbo feito carne,
está o futuro da Igreja", diz o Papa.
Ele explica então a importância de rezar:
"Rezar", diz, "é o que uma criança faz quando se sente limitada,
impotente [ela diz] 'papai, mamãe'. Rezar significa olhar para os nossos
limites, as nossas necessidades, os nossos pecados.... Rezar é entrar com
força, para além dos limites, para além do horizonte, e para nós, cristãos,
rezar é encontrar o 'pai'". "A criança", insiste o Papa,
"não espera pela resposta do papai, quando o papai começa a responder ela
vai para outra pergunta. O que a criança quer é que o olhar do seu pai esteja
sobre ela. Não importa qual seja a explicação, importa apenas que o papai olhe
para ela, e isso dá-lhe segurança. Rezar é um pouco isso".
As perguntas tocam depois em áreas mais
pessoais: "Alguma vez se sente só? O senhor tem amigos verdadeiros",
pergunta-se ao Papa. "Sim", responde, "tenho amigos que me
ajudam, eles conhecem a minha vida como um homem normal, não que eu seja
normal, não. Tenho as minhas próprias anomalias, eh, mas como um homem comum
que tem amigos; e gosto de estar com os meus amigos às vezes para lhes contar
as minhas coisas, para ouvir as deles, mas de fato preciso de amigos. Essa é
uma das razões pelas quais não fui viver no apartamento papal, porque os papas
que lá estiveram antes eram santos e eu não sou tanto assim, não sou tão santo.
Preciso de relações humanas, é por isso que vivo neste hotel de Santa Marta,
onde se encontram pessoas que falam com todos, se encontram amigos. É uma vida
mais fácil para mim, não tenho vontade de fazer outra, não tenho a força e as
amizades dão-me força. Pelo contrário, preciso de amigos, eles são poucos, mas
verdadeiros".
Durante a entrevista, não faltam
referências ao passado e à sua infância em Buenos Aires, à sua torcida pelo San
Lorenzo, à sua "vocação" de açougueiro, às suas raízes piemontesas, e
à sua experiência no laboratório de química, um estudo "que tanto me
seduziu" mas sobre o qual prevaleceu o chamado de Deus. A propósito de
confidências, o Papa recorda também o voto que fez a Nossa Senhora do Carmo, em
16 de julho de 1990, de não ver televisão: "Não vejo televisão, não porque
a condene" e o seu amor pela música, especialmente pela música clássica.
Depois, ele insiste no seu sentido de humor que, diz ele, "é um remédio"
e "faz muito bem".
Como cada um dos seus discursos, o Papa
Francisco pede orações por ele. "Eu preciso, e se algum de vocês não rezar
porque não acredita, não sabe ou não pode, pelo menos envie-me bons
pensamentos, boas ondas. Preciso da proximidade das pessoas”. A entrevista se
conclui com uma imagem retirada de um filme do pós-guerra: "Para finalizar
o diálogo, penso que foi Vittorio De sica que fazia o cartomante, lia as mãos
'obrigado 100 liras', eu digo a vocês '100 orações', '100 liras, 100 orações'.
Obrigado".
Salvatore Cernuzio
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Papa aos seminaristas:“Sejam tecelões de comunhão, contra desigualdades, pastores atentos aos sinais de sofrimento do povo. Sejam corajosos em levantar palavras proféticas em nome dos que não têm voz”. São palavras do Papa Francisco no encontro com a comunidade do Pontifício Seminário Lombardo dos santos Ambrósio e Carlos in Urbe na manhã desta segunda-feira (07) no Vaticano.
O Papa Francisco recebeu na manhã desta segunda-feira (07) a comunidade do Pontifício Seminário Lombardo dos santos Ambrósio e Carlos in Urbe. O discurso à Comunidade teve como ponto central o Papa Pio XI, Achille Ratti, um dos primeiros alunos do Seminário. Depois de recordar os 100 anos da eleição de Pio XI, Francisco disse que faria algumas reflexões sobre esse Pontífice, não para cultivar nostalgias “mas para encontrar sinais proféticos para o seu ministério e missão, particularmente ao serviço da Igreja e do povo italiano”.
O ex-aluno Pio XI
Logo que foi eleito, recordou, “Pio XI
escolheu fazer sua saudação não mais de dentro da Basílica, mas do balcão
externo. Ele queria que sua primeira bênção fosse dirigida Urbi et Orbi, à
cidade de Roma e ao mundo inteiro”. Refletindo sobre este gesto o Papa advertiu
a comunidade: “Por favor, não fiquemos barricados na sacristia cultivando
pequenos grupos fechados onde possamos nos aconchegar e ficar tranquilos. Há um
mundo à espera do Evangelho, e o Senhor quer que seus pastores se conformem a
Ele, levando em seus corações e em seus ombros as expectativas e os fardos do
rebanho" concluindo:
“Corações abertos, compassivos,
misericordiosos; e mãos trabalhadoras e generosas que se sujam e se ferem por
amor, como as de Jesus na cruz...”
"Assim como queremos misericórdia
quando vamos pedir perdão por nossos pecados e buscamos os mais
misericordiosos, sejam misericordiosos. Com todos. Não esqueça que Deus nunca
se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas Ele nunca
se cansa de perdoar." Reiterando esse ponto Francisco afirma que “o gesto
de Pio XI vale mais do que mil palavras”. “Nestes anos vocês estudam e
aprofundam, e isto é um presente de Deus. Mas seu conhecimento nunca deve se
tornar abstraído da vida e da história”. “É preciso do testemunho de vida:
ser sacerdotes ardentes pelo desejo de levar o Evangelho às ruas do mundo, aos
bairros e lares, especialmente aos lugares mais pobres e esquecidos.
Testemunhas, gestos, como aquele primeiro gesto de Pio XI”.
Abrir o coração
Um segundo ponto. Em sua primeira homilia
solene, o Papa Pio XI falou sobre as missões e, mais do que respostas, convidou
a se fazerem uma pergunta: "O que posso oferecer ao Senhor?".
Francisco disse em seguida que é uma boa pergunta que todos devem se fazer para
se preparar à missão, recordando mais uma vez que “não é uma pergunta sobre o
que temos ao nosso redor e o que queremos”, mas pede para “abrirmos o coração à
disponibilidade e ao serviço”. E convidou a comunidade a se perguntar todos os
dias, no início da jornada, “o que posso oferecer?”. Porque, disse Francisco,
“há um mundo inteiro sedento de Cristo”.
Sonhar a Igreja mais livre, fraterna,
aberta
O último ponto de reflexão vem de uma das
numerosas encíclicas sociais de Pio XI. Francisco leu um trecho da Quadragesimo anno de quase um século atrás, “mesmo
assim atualíssima”: ‘O que fere os olhos é que em nosso tempo não há apenas a
concentração da riqueza, mas a acumulação de um enorme poder, de um domínio
despótico da economia nas mãos de poucos....’”. Comentando em seguida: “Como
isso é verdade e como é trágico agora, quando a distância entre os poucos ricos
e os muitos pobres é cada vez maior. Neste contexto de desigualdades, que a
pandemia tem aumentado, vocês se encontrarão vivendo e trabalhando como
sacerdotes do Concílio Vaticano II, como sinais e instrumentos da comunhão dos
povos com Deus e uns com os outros”.
E convidou:
“Portanto, sejam tecelões de comunhão,
contra desigualdades, pastores atentos aos sinais de sofrimento do povo. Mesmo
através do conhecimento que vocês estão adquirindo, sejam competentes e
corajosos em levantar palavras proféticas em nome dos que não têm voz”
Por fim Francisco concluiu afirmando que os
esperam grandes tarefas: “Para realizá-las, convido-os a pedir a Deus para
sonhar a beleza da Igreja: sonhar a Igreja italiana do amanhã, mais fiel ao
espírito do Evangelho, mais livre, fraterna e alegre em testemunhar Jesus,
animada pelo ardor de alcançar os que não conheceram o ‘Deus de toda
consolação’”.
Jane Nogara
................................................................................................................................................... Fonte: vaticannews.va
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