segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Entrevista exclusiva a Dom Odilo sobre o Sínodo
Cidade do Vaticano (RV) -  Desde o início do Sínodo sobre a família, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer apresenta, por meio da Rádio Vaticano, os trabalhos que são realizados no âmbito da 14ª Assembleia geral ordinária do Sínodo, sobre o tema: “a vocação e a missão da família na Igreja e na sociedade contemporânea”. A uma semana da conclusão do Sínodo, a emissora do Papa dirigiu a Dom Odilo algumas perguntas sobre algumas questões abordadas durante as Congregações gerais e os Círculos Menores.
RV - Por que realizar um Sínodo para tratar de um tema tão vasto e de difícil convergência como é a família? Não seria mais fácil uma posição do Papa a respeito em uma Carta Apostólica ou uma Encíclica?
Dom Odilo Scherer - A palavra do Papa sobre esse tema virá, a seu tempo. Mas o próprio Papa, antes de se manifestar, quis ouvir novamente a Igreja, convocando o Sínodo dos Bispos a se reunir em duas assembleias gerais, em 2014 e 2015. O Sínodo tem a finalidade de envolver a Igreja inteira na busca das respostas aos questionamentos feitos sobre o casamento e a família na Igreja e na sociedade contemporânea.
RV - A imprensa destaca muito as diferenças existentes dentro do Sínodo no que diz respeito à comunhão aos recasados. Padres sinodais que falam da possibilidade de dar a comunhão e outros que não pensam nisso. Existe realmente esta diferença, e como se poderá contornar as posições?
Dom Odilo ao microfone
Dom Odilo Scherer - Existem certamente diferenças na maneira de ver a questão e isso não deve admirar; afinal, os participantes são cerca de 300 e vêm de diferentes ambientes eclesiais, culturais, sociais e religiosos. A diferença no modo de pensar não é necessariamente um problema, mas pode ser uma riqueza; ela ajuda a perceber melhor os vários aspectos da questão. E o Sínodo não deve necessariamente “contornar” as diferentes visões, mas fazer o discernimento sobre a verdade e a vontade de Deus, que se busca através da reflexão de todos os participantes. De todo modo, o Sínodo é consultivo e não decisório. 
RV - A famosa carta dos 13 Cardeais que foi entregue ao Papa. O que tem de verdade nisso, e como ecoou o conteúdo da carta dentro do Sínodo?
Dom Odilo Scherer  - Não cheguei a ver a mencionada carta; certamente, se alguns cardeais escreveram ao Papa, eles exerceram um seu direito e não se deve ver nisso algo de estranho. Todos podem escrever ao Papa, se desejarem. De fato, porém, a citada carta não teve especial repercussão no contexto do Sínodo; ali, como previsto, foi facultada a palavra a todos os participantes, que puderam se manifestar livremente. 
RV - Certos meios de comunicação descrevem que os debates sinodais são marcados por conflitos e venenos. Como responder a isso?
Dom Odilo Scherer - Sinceramente, não vi conflitos nem venenos nas reflexões. O clima geral foi e continua sendo de fraternidade, respeito e serenidade. As posições diferentes não devem ser interpretadas como conflitos, mas como contribuições diversas na busca do “caminho comum”, que é próprio do Sínodo. Há muito interesse e desejo de contribuir para a reflexão.
RV - O tema dos casais homossexuais já foi tocado no Sínodo? Que reflexão se faz sobre esse tema. Existe uma abertura da Igreja neste sentido? O que devem esperar esses casais do Sínodo?
Dom Odilo Scherer  - A reflexão sobre as pessoas do mesmo sexo, que convivem em uniões como se fossem casamentos, apareceu especialmente na 3ª parte do Instrumento de Trabalho e das reflexões do Sínodo. A posição da Igreja sobre essas uniões é clara: não há a possibilidade de equipará-las ao casamento de pessoas de sexos diferentes. O que se busca é a forma mais adequada de acompanhar pastoralmente essas pessoas, para que também elas acolham o Evangelho e alcancem a misericórdia e a salvação de Deus.
RV - Certamente devido à presença de 270 padres sinodais dos 5 continentes há acentos diferentes sobre alguns temas, como também é obvio que a Doutrina não será tocada. Mas o que pode mudar concretamente sobre o tema da família?
Dom Odilo Scherer  - Nas reflexões do Sínodo, aparecem diversas perspectivas sobre a família na Igreja e na sociedade contemporânea: penso numa renovada valorização do casamento e da família; num renovado interesse da pastoral da Igreja em relação à família, especialmente em relação aos jovens e nubentes; numa pastoral voltada especialmente para as situações de dor e sofrimento vividas por numerosas famílias; penso numa espécie de “aliança” entre Igreja e família, onde esta participe muito mais na evangelização. Penso também que a família deverá ser mais valorizada como um sujeito social, econômico e político na sociedade. E penso que haverá uma valorização especial dos elementos bons já existentes nas famílias incompletas e irregulares.
RV - Comenta-se a presumível contraposição entre os padres sinodais sobre Verdade e Misericórdia. Como podemos entender isso no âmbito do debate sobre a família.
Dom Odilo Scherer  - Não penso que essa contraposição existirá; misericórdia e verdade não podem ser contrapostas. Mas é verdade que há quem fique mais atento à verdade e quem fique mais atento à misericórdia. Essa tensão existirá sempre e será necessário trabalha-la com sabedoria evangélica. A verdade do Evangelho sobre o casamento e a família nunca poderá ser omitida ou desprezada; o Evangelho é um chamado à conversão para todos. Mas nas situações concretas, o Evangelho da misericórdia de Deus precisa ser apresentado às pessoas, inclusive porque todos dependem dela, mais do que das próprias capacidades e virtudes.
RV - Este Sínodo está procurando entender como a primazia da misericórdia possa ser aplicada em todas as formas de vida pastoral em relação à família, principalmente em relação às famílias feridas. De que Misericórdia falamos?
Dom Odilo Scherer  - Falamos sempre da misericórdia de Deus, que também deve orientar o nosso agir. Pensemos nas muitas famílias que sofrem por doenças, luto, pobreza, violência, desprezo, preconceitos, ou por algum problema particular ligado à droga, aos vícios, às deficiências humanas... Todas precisam, além da justiça e da solidariedade, também da atenção misericordiosa. E também há nas famílias as situações na vida que precisam ser assumidas como tais, sem haver uma solução satisfatória: nessas situações, mais do que tudo, é preciso confiar na misericórdia de Deus e contar com o coração misericordioso dos outros e da própria Igreja.
RV - O que se espera de concreto com o Documento Final? Ou devemos esperar uma Exortação Pós-Sinodal do Santo Padre?
Dom Odilo Scherer  - O trabalho é feito em vista de um “documento sinodal”, a ser votado como de costume. Mas será um documento condizente com a própria natureza do Sínodo, que não é um organismo decisório, mas consultivo. Em outras palavras, o texto final apresentará o resultado do trabalho feito, mas não será a palavra final sobre a questão. Como é normal, espera-se a palavra do Papa sobre o tema, após o Sínodo. (SP)
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"Ninguém está indiferente à situação dos recasados"
O Sínodo dos Bispos sobre a Família prosseguiu na manhã desta segunda-feira (19/10) com mais uma sessão de Círculos Menores. Os treze grupos linguísticos trabalham em cima da terceira parte do Instrumentum laboris, dedicada ao tema “A missão da família hoje”. Os relatórios dos Círculos serão apresentados na tarde de terça-feira (20/10).
Entretanto, intervieram na coletiva de imprensa do início da semana, ao lado de Pe. Federico Lombardi, o Patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, Dom Mark Benedict Coleridge, arcebispo de Brisbane (Austrália) e Dom Enrico Solmi, bispo de Parma (Itália).  
Patriarca Twal: o Sínodo quer o bem da família 
Troca de ideias e opiniões entre os padres sinodais
Para Dom Twal, “os padres sinodais provêm de contextos diferentes; os desafios são diferentes e é normal que não estejam de acordo com tudo, mas – ressalvou – existe um ponto comum": 
“Todos queremos o bem das famílias: nestas duas semanas de trabalhos sinodais, não houve nenhum aspecto da família que não tenha sido abordado, sempre em busca do melhor para nossas famílias, entendidas como a família humana, a família religiosa e a família como Igreja total”.
Eucaristia aos divorciados recasados: não generalizar, mas estudar caso por caso 
Em relação à questão dos divorciados recasados e de seu acesso ao sacramento da Eucaristia, o Patriarca afirma que “os aspectos sobre este ponto são muitos e ninguém está indiferente a esta situação. Este, porém, é um campo delicado e não se deve generalizar: melhor estudar caso por caso, usando misericórdia, mas sem esquecer a doutrina. 
Diálogo genuíno com os casais “irregulares”
É necessário um diálogo genuíno com os casais irregulares, pois sua história deve ser ouvida. Dom Coleridge disse que “sem pretender fazer previsões em âmbito doutrinal, pode-se dizer que existem bases para mudanças no ensinamento da Igreja. Em nenhum Círculo foi explicitamente pedido que os recasados sejam readmitidos à comunhão; em alguns foi solicitado um gesto de misericórdia do Papa durante o Jubileu”. 
Dom Solmi: Sínodo permite visão menos fechada sobre matrimônio e família
Dom Solmi, bispo de Parma, afirma que “sentiu o clima de universalidade da Igreja”: “Vir a Roma, encontrar o mundo, ter uma visão menos ocidental e menos fechada do matrimônio e da família, porque na Sala do Sínodo chegam todas as famílias do mundo com as suas especificidades, suas temáticas, seus problemas e às vezes também o conjunto de valores e atenções quase sempre esquecidos em nosso mundo ocidental”. 
Não ao Sínodo “cosmético”. A família no centro da Igreja e da sociedade
Sobre os caminhos penitenciais propostos para os divorciados recasados, o bispo reitera a importância que a Igreja acompanhe as pessoas com dificuldades principalmente com o discernimento, conscientes que o perdão de Deus vai além da mediação da própria Igreja. Dom Solmi termina fazendo votos que o Sínodo seja realmente influente: 
“Penso e espero que o Sínodo não seja um ‘cosmético’, mas que incida na vida da Igreja, colocando a família no lugar que lhe compete na Igreja. Espero que que isso possa se tornar um sinal forte para a nossa sociedade e os países que frequentemente se esquecem das famílias”. (CM)
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                                                                     Fonte: radiovaticana.va     news.va

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