contrastar as fake news, mas não isolar os que têm dúvidas
"Se for necessário combater as fake
news, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem
inconscientemente a elas". Palavras do Papa no encontro com aos membros do
Consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking"
nesta sexta-feira (28) no Vaticano.
Encontro do Papa com membros do Consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking" |
Dirigindo-se aos membros do consórcio
internacional da mídia católica "Catholic fact-checking", o Papa
Francisco convida a refletir sobre o estilo dos comunicadores cristãos diante
de certas questões relacionadas com a pandemia. Para isso, ele cita algumas
expressões de São Paulo VI presentes na Mensagem para o Dia das Comunicações
Sociais de 1972, onde ele reconheceu o poder dos instrumentos de comunicação
social sobre o comportamento e as escolhas das pessoas. O Papa Paulo VI dizia
ainda que "a excelência da tarefa do informante consiste não apenas em
destacar o que é imediatamente perceptível, mas também em buscar elementos de
enquadramento e explicação sobre as causas e circunstâncias de cada fato que
ele deve relatar". Uma tarefa, portanto, que requer um senso de
responsabilidade e rigor. Francisco continua:
“O Papa Montini falava da comunicação e da
informação em geral, mas suas palavras estão muito de acordo com a realidade se
pensarmos em certas desinformações que circulam hoje na web. De fato, vocês se
propõem em chamar a atenção às fake news e informações tendenciosas ou
enganosas sobre as vacinas Covid-19, e o fazem colocando em rede com diferentes
mídias católicas e envolvendo vários especialistas.”
Estar juntos pela verdade
Francisco lembra que o objetivo do
Consórcio é "estar juntos pela verdade". Estar juntos, o
trabalho em rede, disse, é fundamental no campo da informação e, em um tempo de
divisões, já é um testemunho. Hoje, além da pandemia, observou, a
"infodemia" se espalhou, ou seja, "a distorção da realidade
baseada no medo, que na sociedade global faz ecos e comentários sobre notícias
falsificadas ou mesmo inventadas". A multiplicação de informações e a
circulação dos chamados pareceres científicos também podem gerar confusão. É
necessário, continua o Papa, citando o que ele já havia dito em um discurso em
outubro de 2021, "fazer aliança com a pesquisa científica sobre doenças,
que progride e nos permite combater melhor", considerando sempre que o
conhecimento deve ser compartilhado.
Isto também se aplica às vacinas, recordou
o Papa:
“Há uma necessidade urgente de ajudar os
países que têm menos, mas isto deve ser feito com planos a longo prazo, não
apenas motivados pela pressa das nações ricas em serem mais seguras”
"Os remédios devem ser distribuídos
com dignidade, e não como esmolas de piedade. Para fazer um bem real, é preciso
promover a ciência e sua aplicação integral. Portanto, estar corretamente
informado, ser ajudado a entender com base em dados científicos e não em fake
news, é um direito humano.
A palavra "para"
A segunda palavra que o Papa Francisco
enfatiza é para, uma palavra pequena, mas cheia de significado: os
cristãos, comentou, são contra as mentiras, mas sempre em prol das pessoas. Não
devemos esquecer a "distinção entre as notícias e as pessoas". Se for
necessário combater as fake news, as pessoas devem sempre ser respeitadas
porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas. E o Papa afirma ainda:
"O comunicador cristão faz seu o
estilo evangélico, constrói pontes, é um artífice da paz também e sobretudo na
busca da verdade. Sua abordagem não é de oposição às pessoas, ele não assume
atitudes de superioridade, ele não simplifica a realidade, para não cair em um
fideísmo do estilo científico. Na verdade, a própria ciência é uma contínua
aproximação à resolução dos problemas. A realidade é sempre mais complexa do
que pensamos, e devemos respeitar as dúvidas, ansiedades e perguntas das
pessoas, tentando acompanhá-las sem jamais tratá-las com superioridade".
O Papa Francisco sublinha mais uma vez o
dever como cristãos de fazer todo o possível para "evitar a lógica da
contraposição", sempre tentando aproximar e acompanhar o percurso das
pessoas. "Tentemos trabalhar pela informação correta e verdadeira sobre a
Covid-19 e sobre as vacinas", afirmou, "mas sem criar muros, sem
criar isolamentos".
Verdade
A terceira palavra que Francisco prende em
consideração é verdade, que deve ser sempre procurada e respeitada pelos
comunicadores. O Papa adverte a este respeito:
"A busca da verdade não pode ser
levada a uma perspectiva comercial, aos interesses dos poderosos, aos grandes
interesses econômicos. Ficar juntos pela verdade significa também buscar um
antídoto para algoritmos destinados a maximizar a rentabilidade comercial,
significa promover uma sociedade informada, justa, saudável e sustentável. Sem
uma correção ética, estes instrumentos geram ambientes de extremismo e levam as
pessoas a uma radicalização perigosa".
A verdade para o cristão, continuou o Papa,
não se trata apenas de coisas individuais, mas de toda a existência e também
inclui significados relacionais como "apoio, solidez, confiança". E o
único "verdadeiramente confiável e digno de confiança, com quem se pode
contar, que é 'verdadeiro', é o Deus vivo". Jesus disse de si mesmo:
"Eu sou a verdade". E conclui indicando novamente um estilo preciso
de comunicação:
“Trabalhar ao serviço da verdade significa,
portanto, buscar o que favorece a comunhão e promove o bem de todos, não o que
isola, divide e se opõe”
Adriana Masotti
.................................................................................................................................................... Fonte: vaticannews.va
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