Dos que buscam a casa de Deus
Frei Almir Guimarães
Hoje, os Magos que o procuravam resplandecente
nas estrelas, o encontram no berço. Hoje, os Magos veem claramente, envolvido
em panos, aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros (São
Pedro Crisólogo).
♦ Domingo da Epifania, domingo dos Magos.
Desde nossa infância esses personagens misteriosos foram pedindo licença para
ocupar lugar importante de nossa atenção. Havia o presépio das coisas singelas
e simples e, de repente, alguém tirava de uma caixa de papelão esses senhores
com pompa e coroas, montados em camelos e dando uma tonalidade um tanto
grandiosa ao presépio do frágil menino. Ficamos sabendo que eram três.
Chegou-se mesmo a dar-lhes nomes: Melchior, Gaspar e Baltasar. Mateus é o único
evangelista a mencionar esses personagens que povoaram de cores e luzes nossa
imaginação de crianças. O evangelista simplesmente diz que eram Magos e nada
mais. Depois, bem depois, místicos e espirituais, nos disseram que eram
buscadores de Deus, peregrinos da casa de Deus. Que significado tem esse
episódio para nós?
♦ “É nossa própria história, história de
nossa peregrinação sem fim, quem deciframos através dos doze versículos do
evangelho de Mateus que nos falam desse magos vindos da longínqua Babilônia,
guiados pela estrela, obstinados vencedores da imensidão dos desertos como da
indiferença e da política na terra em que nasceu o Menino, chegando finalmente
a encontrar a Criança e adorar o Deus salvador. É nossa história que lemos ou,
dizendo melhor, que devíamos ler neste relato. Não somos todos peregrinos e
viajantes, pessoas sem domicilio fixo mesmo quando nunca deixamos nossa casa?
Vejam como o tempo passa, como os dias terminam, como a mudança é lei eterna de
nossa existência, como estamos sempre indo para frente. Se sinceros somos
podemos nos descrever como peregrinos…
♦ O profeta Isaías, na primeira leitura
desta solenidade tem palavras de ânimo e de alento. “Levanta-te, acende as
luzes Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor.
Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas
sobre ti apareceu o Senhor e a sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos
caminham à tua luz e os reis, ao clarão de tua aurora” (Is 60, 1-3). Luz,
claridade, estrela… Os passos desses buscadores da casa de Deus serão guiados
pela estrela.
♦ O Menino deitado nas palhas, no
despojamento total, é a verdadeira luz que ilumina a todo homem que vem a este
mundo. Veio para todo o orbe. Vemos, com a chegada dos Magos, a procissão dos
estrangeiros e dos diferentes que buscam a Deus guiados pela estrela. Os Magos
representam homens e mulheres que carregam questionamentos e interrogações, que
se sentem mal com uma vida vivida pela metade, que querem um sentido de vida
pujante, que têm sede de plenitude. Fazem parte do grupo daqueles que Agostinho
designa de gente de coração inquieto.
♦ “Hoje os contemplam maravilhados, no
presépio, o céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no homem e,
incluído no corpo pequenino de uma criança, aquele que o universo não pode
conter. Vendo-o, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-lhe místicos
presentes, incenso a Deus, ouro ao rei e mirra ao que haveria de morrer” (São
Pedro Crisólogo).
♦ Deus em nosso meio, Deus com rosto de
homem, irmão. Mistura do divino e do humano. Deus próximo, Deus Emanuel, Deus
dos caminhos do Oriente e Jesus ressuscitado que vive nos chamando para
segui-lo. Ele luz que veio a esse mundo para abrir os olhos aos cegos.
Claridade da fé.
Os buscadores de Deus:
♥ Muitos nascemos em famílias católicas e fomos sendo envolvidos em ritos e símbolos. Passamos a viver no regime da
religião. Muitos desses que foram batizados em criança tiveram ocasião de
crescer no conhecimento do Senhor e sempre conservaram saudade da luz. Pode
acontecer, no entanto, que muitas pessoas tenham se acostumado com a fé. Há o
perigo da rotina, da separação de fé e vida, da privatização da fé. Tais
pessoas perderam o gás, não têm o fogo de que fala o Evangelho. Deus não pode
ser um mero acessório em nossa vida, ao lado de tudo o que chamamos de vida, de
nossa vida.
♥ Há
aqueles que tiveram uma catequese falha, que depois de um tempo de prática
deixaram tudo. Formulam perguntas. Acham Deus mudo demais, indiferente a tudo,
ao mundo, ao amanhã. Para estes talvez Deus tenha morrido.
♥ Há
aqueles que interpelados pelo maravilhoso ou pelo trágico da vida sentem o
brilhar de uma estrela, o mero cintilar de uma estrela: um filho que nasce, um
fracasso conjugal, a união numa família toda complicada, uma visita na vida de
pessoa que era como que um anjo do céu. E tudo mudo.
♥ Há
os que encontram ou reencontram a fé
frequentando as páginas dos Evangelhos
e tentando descobrir o Deus de Jesus Cristo em suas posturas, no comportamento
de gente que viveu perto de Jesus, na audácia
de Paulo. São pessoas que aos
poucos vão dando suas mãos a
Zaqueu, ao filho pródigo, à viúva que deposita no cofre do templo tudo o que
tem.
♥ Há
os que descobrem a Deus na dedicação
aos outros. Sua fé é marcada pelo encontro do Senhor nos seres
humanos mais abandonados.
♥ Muitos conseguem alimentar sua fé frequentando grupos de pessoas límpidas que perscrutam suas vidas, iluminam suas historias com o evangelho. Pessoas que carregam uma pergunta: “Senhor, onde é a tua casa?
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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou
na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut
Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em
Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas
obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor
da Revista “Grande Sinal”.
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Assista à reflexão do Frei Gustavo Medella:
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