o apelo de Francisco à fraternidade
Assinala-se neste
mês de outubro o primeiro ano da publicação da Encíclica “Fratelli tutti” do
Papa Francisco”. Recordamos aqui o comentário de dois bispos portugueses
aquando da publicação do texto do Santo Padre.
Foi a 3 de outubro de 2020 que o Papa Francisco assinou a Encíclica “Fratelli Tutti”. Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade. Um texto no qual o Papa propõe “uma forma de vida com sabor a Evangelho”. O Evangelho de Jesus: amar o próximo como a ti mesmo.
Anseio mundial de
fraternidade
A terceira
Encíclica do pontificado de Francisco é um texto dedicado à fraternidade e à
amizade social que procura acender uma luz de esperança numa humanidade
sofrida. Especialmente neste tempo de pandemia.
O Papa Francisco
refere-se, precisamente à covid-19, logo no número 7 da sua Encíclica afirmando
que esta doença “irrompeu de forma inesperada” tendo deixado “a descoberto as
nossas falsas seguranças”.
“Desejo
ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de
cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de
fraternidade” – escreve Francisco na sua Encíclica.
Sem fraternidade
não há liberdade e igualdade
Nas semanas após a
publicação deste texto papal fomos publicando aqui comentários de vários bispos
portugueses partindo da Encíclica do Papa. Nesta edição recordamos as opiniões
de dois deles em entrevista ao Vatican News: D. Jorge Ortiga, arcebispo de
Braga e D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda.
“Sem fraternidade
nunca nos encontraremos em experiência de autêntica liberdade e igualdade” –
disse o arcebispo de Braga. D. Jorge Ortiga refere que na Encíclica, o Santo
Padre apresenta a fraternidade como um “princípio político de ação”:
“Parece-me que o
essencial está na proposta da fraternidade como princípio político de ação
situando-se fora do âmbito estritamente eclesial. Sabemos todos nós que o mundo
moderno nasceu da revolução francesa e esta foi orientada pela liberdade,
igualdade e fraternidade. Se olharmos um bocadinho para aquilo que norteia hoje
a vida pública da comunidade internacional, a fraternidade não foi
verdadeiramente assumida. E daí as dificuldades em interpretar, justamente, a
liberdade e a igualdade. Falta a raiz, falta o fundamento, falta o suporte. Sem
fraternidade nunca nos encontraremos em experiência de autêntica liberdade e
igualdade. Creio que este é o princípio fundamental e o alicerce de toda esta
Encíclica.”
Igreja não pode
silenciar-se
Mas será que as
grandes potências do mundo ouvem o apelo do Santo Padre à fraternidade? O
arcebispo de Braga identifica alguns problemas que impedem a fraternidade e que
a Igreja deverá denunciar:
“O mundo admira o
Papa Francisco, mas parece que o ouve muito pouco. A sua voz é a voz da Igreja
e, muitas vezes, parece que a voz da Igreja brada no deserto. Só que a Igreja
seguindo a voz do Papa não pode silenciar-se. Alguns exemplos do que nesta
Encíclica é sublinhado e que a Igreja não pode esquecer: no plano político, as
relações internacionais terão de mostrar uma colaboração efetiva e não uma soma
de interesses nacionais. Continua a haver nações ricas e nações pobres e a
fraternidade tem que passar por aqui. E a Igreja tem que o denunciar; a
obrigação de proteger os débeis, os mais frágeis, os idosos e os deficientes.
Nós sabemos que estes são aqueles a quem Deus mais ama; o problema dos
refugiados e dos migrantes; os problemas contra a fraternidade, com tantos
conflitos e guerras; o reacendimento dos populismos, o racismo e a campanha do
ódio.”
Uma enorme função
social
Por sua vez D. José
Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda destacou que o texto do Santo Padre tem uma
enorme função social sendo um “dom semeador de mudança e de esperança”:
“A terceira
Encíclica do Papa Francisco, “Fratelli tutti”, sobre a fraternidade e a amizade
social é um dom semeador de mudança e de esperança à Igreja e ao mundo
contemporâneo. E, como diz o Papa, é uma resposta aos sinais dos tempos que
solicitam um desenvolvimento humano integral e a paz. S. Francisco de Assis
continua a inspirar o Papa Francisco nas desafiantes propostas de uma forma de
vida com sabor a Evangelho. A sabedoria do pobre de Assis exortava assim os
seus irmãos à imitação de Jesus Cristo: ‘irmãos ponhamos todos diante dos olhos
o Bom Pastor que para salvar as suas ovelhas sofreu a Paixão da Cruz’. Eu diria
que a novidade também está aqui em traduzir, até com uma maior simplicidade, o
Evangelho, dizendo que Deus dá sempre de graça. E é também interpelante o
testemunho do beato Charles de Foucauld, o irmão universal, na conclusão deste
caminho humano e espiritual. Por isso, esta Encíclica tem uma enorme função
social.”
Cultura do diálogo
e política pelo bem comum
Para D. José
Cordeiro é necessário responder ao apelo do Papa a um “testemunho real da
cultura do diálogo inter-religioso”. Porque “a fraternidade tem muito para
oferecer à liberdade e à igualdade” – afirmou:
“A fraternidade
tem muito para oferecer à liberdade e à igualdade. O dom da fraternidade humana
universal compromete uma cultura consciente e constante desta mesma
fraternidade universal, não num sentido geográfico, mas existencial do bem
comum, da solidariedade e da gratuidade. O desafio maior é para uma cultura do
diálogo e do encontro. A vida é a arte do encontro e a Encíclica é um grande
apelo e um testemunho real da cultura do diálogo inter-religioso. O Papa
referindo-se àquele grande texto do encontro entre as religiões e as culturas
que pareciam tão distantes diz em nome de Deus que declaramos adotar a cultura
do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta, o conhecimento mútuo
como método e critério. E temos de curar as feridas e restabelecer a paz. Um
outro grande Papa, S. Gregório Magno, dizia que nós temos que ‘amar os amigos
em Deus e amar os inimigos por Deus’. E é desafiante o tempo que vivemos”.
Recordamos aqui os
comentários de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e D. José Cordeiro, bispo de
Bragança-Miranda aquando da publicação em outubro do ano passado da Encíclica
do Papa Francisco “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”.
Na sua Encíclica o
Santo Padre indica o caminho da fraternidade, de “uma única humanidade”. Um
caminho onde cada um deve trazer o que tem para partilhar, “cada qual com a
própria voz, mas todos irmãos” – escreve o Papa.
Laudetur Iesus
Christus
Rui Saraiva - Portugal
.................................................................................................................................................... Fonte: vaticannews.va
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