Só uma pequena flor
Irmãs e irmãos: estamos no mês de outubro –
mês missionário e mês do rosário. No primeiro dia de outubro celebramos Santa
Teresinha, a padroeira das Missões, juntamente com São Francisco Xavier.
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Dom José Francisco |
“Quando sou fraco, então é que sou
forte” (2Cor 12,10). Se houve alguém para quem essa frase caiu feito luva
foi Teresinha de Lisieux, ou do Menino Jesus, como é mais conhecida. Órfã de
mãe aos quatro anos, de saúde extremamente frágil, viu seu pai sofrer ataques
de paralisia, perder a saúde mental e ser internado. Ela mesma morreu de
tuberculose pulmonar, sem dúvida, devido às escassas comodidades de sua
vida. “O que mais me fez sofrer – declarou no fim da vida – foi
o frio”.
A vida dessa santa, “só uma pequena
flor branca”, como dizia de si mesma, foi tão aparentemente, insignificante e
carente de efeitos especiais, que é possível contá-la em poucas palavras.
Aliás, vinte e quatro anos bastaram para consumá-la e, desses, nove, ela viveu
escondida no Carmelo de Lisieux. Ela mesma conta que desde criança aspirava ser
mártir. Mas que logo compreendeu que havia uma outra via para chegar a Deus.
Assim que leu a Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 13, naquele dia, deu-se
conta de que o seu caminho seria o do amor, pura e simplesmente, e sem enfeites.
Teresinha não teve visões, nunca
experimentou nenhum fenômeno extraordinário. Tudo para ela foi muito simples.
Tudo se resumiu em dar tudo e jamais – jamais – ficar pela metade em nada que
fizesse ou fosse. “Meu Deus, escolho tudo. Não quero me fazer santa pela
metade, nem tenho medo de sofrer por vós. Só temo uma coisa: conservar minha
vontade. Então, tomai-a, porque eu escolho apenas o que vós queirais”. Como
nunca se contentasse com pouco, quis tudo, deixou tudo, teve tudo.
Muito antes de entrar para o Carmelo, sua
“Pequena Via” para chegar a Deus já estava traçada. “Havia me oferecido
desde muito cedo ao Menino Jesus para ser o seu brinquedo… não um brinquedo
caro, que as crianças se contentam em olhar… mas um brinquedo qualquer, sem
valor, que ele podia jogar no chão, esquecer em qualquer lugar, ou apertar
contra o coração, se ele quisesse”. Que fique claro: ser um brinquedo nas mãos
de Jesus, jamais constituiu para Teresa um deleite infantil, mas o ideal maduro
da perfeição cristã, que ela soube encarnar no pesado dia a dia, até repetir no
leito de morte as palavras de Jó: “Ainda que Deus me matasse, esperaria
sempre Nele” (Jó 13,15).
Como podem ver, essa ”Pequena Via” é tudo,
menos pequena. “Se não se fizerem como crianças, não entrarão no Reino dos
Céus” (Mt 18,3). O caminho para Teresinha chegar a Deus era a menos
complexa e a mais direta forma de alcançar o Centro, coisa que outros só
conseguiram através de incríveis manobras e complicações. Como ela se entregou
totalmente a Deus desde o princípio, sem vacilações nem desvios, todo o resto
prosseguiu, naturalmente, como um desenho bem executado. Sua “Pequena Via” é
tão simples, que chega a ser menosprezada. No entanto, havia sido descoberto o
caminho da santidade. “Minha Pequena Via não consiste em fazer coisas
extraordinárias, mas em fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias”.
Pequeno, esse caminho? Então, tente. Porque o de que nossa época mais necessita
é justa e, urgentemente, essa “pequena via”.
Ao que parece, muitos correm atrás do
prestígio e dos cinco minutos de fama. E, no entanto, quando se trata de
encontrar o sentido da vida, qualquer coisa serve! Você pode, perfeitamente,
respeitar os interesses, a liberdade e a dignidade dos outros. Você pode
aplicar, impecavelmente, os direitos humanos em toda a sua extensão e ir além
deles, até bater a meta em sua própria ideia de perfeição. Isso em nada
responderá às questões básicas da condição humana: por que adoecer, sofrer,
envelhecer, morrer? Por que amar e perder? Como pensar o luto nesse tempo de
pandemia? Ou, simplesmente, como lutar contra o tédio e a banalidade do
cotidiano? “O que fazer para alcançar a vida eterna?” (Lc 18,18):
essa é a questão. Dito de outra forma, como romper a casca da mediocridade da
existência e, daí fazer brotar a vida nova, vigorosa, definitiva? Foram essas
as questões de Teresinha. Ela respondeu, dizendo que seu caminho era um pequeno
caminho, um caminho estreito, mas uma linha reta, a menor distância entre dois
pontos e, além do mais, aberto à possibilidade de qualquer um.
Teresinha foi declarada santa em 1925. Já
na Primeira Grande Guerra, os soldados franceses a haviam tomado como
protetora. Sem nada querer disso, ela se tornou um fenômeno de popularidade: a
mais escondida acabou sendo a mais conhecida e a mais fotografada. Seu rosto
ficou estampado no mundo inteiro. Mais tarde, foi declarada, com Joana D’Arc,
Padroeira da França, depois Patrona das Missões e, por fim, Doutora da Igreja.
Quem queria tudo, abandonou tudo, teve tudo.
“Passarei o Céu fazendo o bem na Terra”.
Foram suas palavras finais.
Abençoe-nos, Santa Teresinha, com todas as
bênçãos do Céu! Amém.
Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo de Niterói (RJ)
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