quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Bela reflexão de Dom José Francisco:

Só uma pequena flor

Irmãs e irmãos: estamos no mês de outubro – mês missionário e mês do rosário. No primeiro dia de outubro celebramos Santa Teresinha, a padroeira das Missões, juntamente com São Francisco Xavier.

Dom José Francisco

“Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10). Se houve alguém para quem essa frase caiu feito luva foi Teresinha de Lisieux, ou do Menino Jesus, como é mais conhecida. Órfã de mãe aos quatro anos, de saúde extremamente frágil, viu seu pai sofrer ataques de paralisia, perder a saúde mental e ser internado. Ela mesma morreu de tuberculose pulmonar, sem dúvida, devido às escassas comodidades de sua vida. “O que mais me fez sofrer – declarou no fim da vida – foi o frio”.

A vida dessa santa, “só uma pequena flor branca”, como dizia de si mesma, foi tão aparentemente, insignificante e carente de efeitos especiais, que é possível contá-la em poucas palavras. Aliás, vinte e quatro anos bastaram para consumá-la e, desses, nove, ela viveu escondida no Carmelo de Lisieux. Ela mesma conta que desde criança aspirava ser mártir. Mas que logo compreendeu que havia uma outra via para chegar a Deus. Assim que leu a Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 13, naquele dia, deu-se conta de que o seu caminho seria o do amor, pura e simplesmente, e sem enfeites.

Teresinha não teve visões, nunca experimentou nenhum fenômeno extraordinário. Tudo para ela foi muito simples. Tudo se resumiu em dar tudo e jamais – jamais – ficar pela metade em nada que fizesse ou fosse. “Meu Deus, escolho tudo. Não quero me fazer santa pela metade, nem tenho medo de sofrer por vós. Só temo uma coisa: conservar minha vontade. Então, tomai-a, porque eu escolho apenas o que vós queirais”. Como nunca se contentasse com pouco, quis tudo, deixou tudo, teve tudo.

Muito antes de entrar para o Carmelo, sua “Pequena Via” para chegar a Deus já estava traçada. “Havia me oferecido desde muito cedo ao Menino Jesus para ser o seu brinquedo… não um brinquedo caro, que as crianças se contentam em olhar… mas um brinquedo qualquer, sem valor, que ele podia jogar no chão, esquecer em qualquer lugar, ou apertar contra o coração, se ele quisesse”. Que fique claro: ser um brinquedo nas mãos de Jesus, jamais constituiu para Teresa um deleite infantil, mas o ideal maduro da perfeição cristã, que ela soube encarnar no pesado dia a dia, até repetir no leito de morte as palavras de Jó: “Ainda que Deus me matasse, esperaria sempre Nele” (Jó 13,15).

Como podem ver, essa ”Pequena Via” é tudo, menos pequena. “Se não se fizerem como crianças, não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 18,3). O caminho para Teresinha chegar a Deus era a menos complexa e a mais direta forma de alcançar o Centro, coisa que outros só conseguiram através de incríveis manobras e complicações. Como ela se entregou totalmente a Deus desde o princípio, sem vacilações nem desvios, todo o resto prosseguiu, naturalmente, como um desenho bem executado. Sua “Pequena Via” é tão simples, que chega a ser menosprezada. No entanto, havia sido descoberto o caminho da santidade. “Minha Pequena Via não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias”. Pequeno, esse caminho? Então, tente. Porque o de que nossa época mais necessita é justa e, urgentemente, essa “pequena via”.

Ao que parece, muitos correm atrás do prestígio e dos cinco minutos de fama. E, no entanto, quando se trata de encontrar o sentido da vida, qualquer coisa serve! Você pode, perfeitamente, respeitar os interesses, a liberdade e a dignidade dos outros. Você pode aplicar, impecavelmente, os direitos humanos em toda a sua extensão e ir além deles, até bater a meta em sua própria ideia de perfeição. Isso em nada responderá às questões básicas da condição humana: por que adoecer, sofrer, envelhecer, morrer? Por que amar e perder? Como pensar o luto nesse tempo de pandemia? Ou, simplesmente, como lutar contra o tédio e a banalidade do cotidiano? “O que fazer para alcançar a vida eterna?” (Lc 18,18): essa é a questão. Dito de outra forma, como romper a casca da mediocridade da existência e, daí fazer brotar a vida nova, vigorosa, definitiva? Foram essas as questões de Teresinha. Ela respondeu, dizendo que seu caminho era um pequeno caminho, um caminho estreito, mas uma linha reta, a menor distância entre dois pontos e, além do mais, aberto à possibilidade de qualquer um.

Teresinha foi declarada santa em 1925. Já na Primeira Grande Guerra, os soldados franceses a haviam tomado como protetora. Sem nada querer disso, ela se tornou um fenômeno de popularidade: a mais escondida acabou sendo a mais conhecida e a mais fotografada. Seu rosto ficou estampado no mundo inteiro. Mais tarde, foi declarada, com Joana D’Arc, Padroeira da França, depois Patrona das Missões e, por fim, Doutora da Igreja. Quem queria tudo, abandonou tudo, teve tudo.

“Passarei o Céu fazendo o bem na Terra”.  Foram suas palavras finais.

Abençoe-nos, Santa Teresinha, com todas as bênçãos do Céu! Amém.

                                      Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo de Niterói (RJ)

..............................................................................................................................................................
                                                                                                                                 Fonte: arqnit.org 

Nenhum comentário:

Postar um comentário