Sobre os ventos e as águas
Três
potencialidades sempre ocuparam lugar de proeminência na vida humana: o poder,
o dinheiro e a sexualidade. É a maneira como são usadas que denuncia as mais
profundas convicções do usuário.
![]() |
Já sabemos
que a sociedade brota de suas relações com o poder de pessoas, grupos ou
instituições que detêm a força de impor normas e exigir submissão. O poder é
uma realidade da qual não escapamos.
Ninguém mais
que a sociedade da Palestina do tempo de Jesus sabia disso. Vassala do Império
Romano, tentava se adaptar quanto podia às normas dos poderosos. Mas poder
sempre é poder.
E Roma tinha
um poder legal de coerção e exercia um controle tão rigoroso sobre as
estruturas sociais, que não permitia que sua legitimidade sofresse abalos de
qualquer ordem. Para tanto, confiava numa enorme máquina militar. Porém, nada
disso seria possível sem o apoio de uma elite local colaboradora, leal aos
dominadores, que se pavoneava sobre o povo e dele recebia respeito e admiração.
Imaginem!
Vivendo nesse
meio, Jesus sempre manteve uma atitude crítica em relação aos detentores de
poder na sociedade. Ao mesmo tempo, possuía uma autoridade incomum, que tanto
surpreendia como atraía.
De onde ele
tirava essa autoridade sem apresentar nenhum credenciamento oficial, sem o
testemunho de nenhum mestre publicamente reconhecido ou alguma autoridade em
quem se apoiar?
No caso dele,
não havia mesmo nenhuma autoridade hereditária humana. O exercício coercitivo
do poder o desviaria do seu caminho. A autoridade de Jesus brota no território
da liberdade.
Essa é sua
grande novidade!
E ela deitava
raízes numa singular experiência com alguém a quem ele travava por Abbá, Papai.
Se ele exerceu algum poder direto foi sobre os ventos e as águas. Apenas!
Precisamos
voltar a esse assunto.
Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo de Niterói (RJ)
Nenhum comentário:
Postar um comentário