Reflexão para o 26º. Domingo do Tempo Comum
As leituras
deste domingo continuam nos falando sobre o uso dos bens. Temas como a avareza,
a cobiça e o apego aos bens são muito próprios no Evangelho de Lucas. O profeta
Amós, profeta da justiça social, alerta que, na sociedade, há um grupo que
esbanja e, certamente, outro que passa necessidades.
A parábola
contada por Jesus relata a inversão dos valores na eternidade: os ricos nada
terão e o Reino será dos pobres. Há um grande abismo entre o egoísta e o pobre:
ninguém pode se aproximar de quem só pensa em si mesmo, por isso, ele se isola,
fica solitário no mundo escolhido por ele mesmo. O inferno é um mundo de
isolamento: há um abismo, diz-nos Jesus
O pobre Lázaro e o rico egoísta |
O evangelho
deste domingo não deve ser uma condenação dos ricos e nem a salvação
incondicional do pobre. O que salvou Lázaro não foi somente a falta de bens,
mas a sua humildade. Também o que condenou o rico não foi a posse dos os seus
bens em si mesmos, mas o mau uso deles: o esbanjamento, o acúmulo e o egoísmo.
A pobreza é um
valor evangélico. A conversão é um processo de empobrecimento. É interessante
observar que o Evangelho faz uma relação entre pobreza e escatologia (=estudo
das realidades últimas). Há teólogos que definem o purgatório como um processo
de última conversão que coincide com o último empobrecimento. Quando deixamos
de confiar em nós mesmos, quando deixarmos todos os nossos apegos (materiais e
afetivos), quando nossa vida estiver totalmente livre nas mãos de Deus, então
estaremos totalmente empobrecidos para entrar no Céu. A Vida Eterna, portanto,
será um estado de vida de total entrega a Deus, uma total confiança que será
abraçada com o total despojamento. A vida é uma oportunidade para o
despojamento gradativo de nós mesmos. Por outro lado, o apego aos bens
escraviza, torna a vida um inferno, uma separação total das pessoas e de Deus.
Para quem se
satisfaz com relatos sobre os sinais do além e o diálogo com os
mortos, o Evangelho deixa claro que não é possível que isso aconteça. O rico
quer que o milagre converta seus familiares. Abraão (como um interlocutor de
Deus) nos esclarece que se os ricos não vêem o milagre da vida a cada dia, se
não são tocados pela Palavra de Deus (Moisés e os profetas), já estão
condenados. Há sempre o risco da necessidade de coisas extraordinárias para que
aconteça a conversão. Não são os prodígios e nem as visões, mas sim o milagre
de cada dia que nos conduz a uma abertura para a vida, para o amor.
Como estamos
gastando a vida? Onde está a nossa riqueza e o que significa para nós a
pobreza? Do bem viver, do se preocupar com o que vale a pena é que depende a
nossa realização e a vida eterna. Cada minuto de nossa vida deve ser bem gasto,
deve ser bem aproveitado. A cada instante podemos viver os verdadeiros valores
ou deixar os dias passarem sem que a vida tenha seu êxito.
No mundo tão
materialista e egoísta, o valor da generosidade perde espaço. O Evangelho nos convida
a termos atitude generosa com a vida, com os bens; ensina-nos a partilhar.
Santo Ambrósio nos alerta: “Dar aos pobres devolver o que não nos pertence”.
Uma parábola do Taoismo nos diz que quando a pessoa vai para o inferno,
descobre que lá existe um grande banquete, nada de fogo e enxofre de que falam
algumas tradições. As pessoas estão sentadas ao redor de grandes mesas
redondas, com pilhas e pilhas de todos os tipos possíveis e imagináveis de
pratos deliciosos. Só há um problema: os garfos, colheres e facas são do mesmo
tamanho que as mesas, e as pessoas estão se esforçando em vão para comer com
esses talheres imensos. Quando alguém chega ao Céu, encontra o mesmo banquete,
mas com uma diferença: as pessoas sentadas de lados opostos da mesa dão comida
umas para as outras. O Céu depende de nossa atitude generosa.
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br
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