sábado, 21 de outubro de 2023

Sábia reflexão:

A vida só é para Deus

José Antonio Pagola

A exegese moderna não dá lugar a dúvidas. O principal para Jesus é a vida, não a religião. Basta analisar a trajetória de sua atividade. Sempre o vemos preocupado por suscitar e desenvolver, no meio daquela sociedade, uma vida mais sadia e mais digna.

Pensemos em sua atuação no mundo dos enfermos: Jesus se aproxima dos que vivem sua vida de maneira diminuída, ameaçada ou insegura, para despertar neles uma vida mais plena. Pensemos em sua aproximação aos pecadores: Jesus lhes oferece o perdão que os faça viver uma vida mais digna, resgatada da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos endemoninhados, incapazes de ser donos de sua vida: Jesus os liberta de uma vida alienada e desconcertada pelo mal.

Como foi sublinhado por Jon Sobrino, pobres são aqueles para os quais a vida é uma carga pesada, pois não podem viver com um mínimo de dignidade. Esta pobreza é o que há de mais contrário ao plano original do Criador da vida. Onde um ser humano não pode viver com dignidade, ali a criação de Deus aparece como viciada e anulada.

Por isso, Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da Galileia. O que aquela gente precisa em primeiro lugar é viver, e viver com dignidade. Não é a meta final, mas é, neste momento, o mais urgente. Jesus os convida a confiar na salvação última do Pai, mas o faz salvando as pessoas da enfermidade e aliviando males e sofrimentos. Anuncia-lhes a felicidade definitiva no seio de Deus, mas o faz introduzindo dignidade, paz e felicidade neste mundo.

Às vezes, nós cristãos expomos a fé com uma tal confusão de conceitos e palavras que, na hora da verdade, poucos entendem o que é exatamente o Reino de Deus de que fala Jesus. Mas as coisas não são tão complicadas. O que Deus quer é unicamente isto: uma vida mais humana para todos e, desde agora, uma vida que chegue à sua plenitude na vida eterna. Por isso nunca se deve dar a nenhum César o que é de Deus: a vida e a dignidade de seus filhos.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
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