domingo, 1 de outubro de 2023

Reflexão que nos questiona:

O risco de instalar-nos na religião

José Antonio Pagola

Não são poucos os cristãos que acabam por instalar-se comodamente em sua fé, sem que sua vida se veja afetada. Poderíamos dizer que sua fé é um acréscimo, não algo nuclear que anima seu viver diário.

Quantas vezes a vida dos cristãos fica como que cortada em duas. Agem, organizam-se e vivem como todos os outros ao longo dos dias, e no domingo dedicam um certo tempo para prestar culto a um Deus que está ausente de suas vidas no resto da semana.

Cristãos que se desdobram e mudam de personalidade, segundo se ajoelhem para rezar a Deus ou se entreguem a suas ocupações diárias. Deus não penetra em sua vida familiar, em seu trabalho, em suas relações sociais, em seus projetos ou interesses. Desta forma, a fé se converte num costume, num reflexo, num “relaxamento semanal”, como diria Jean Onimus, e, em qualquer caso, numa prudente medida de segurança para esse futuro que talvez exista depois da morte.

Todos nós devemos perguntar-nos com sinceridade o que significa realmente Deus em nosso viver cotidiano. O que se opõe à verdadeira fé não é muitas vezes a incredulidade, mas a falta de coerência.

O que importa o credo que nossos lábios pronunciam, se falta depois em nossa vida um mínimo esforço de seguimento sincero de Jesus? O que importa – diz-nos Jesus em sua parábola – que um filho diga a seu pai que vai trabalhar na vinha, se depois na realidade não o faz? As palavras, por mais belas que sejam, não deixam de ser palavras.

Não reduzimos muitas vezes nossa fé a palavras, ideias ou sentimentos? Não esquecemos quase sempre que a fé verdadeira deve dar um significado novo e uma orientação diferente a todo o comportamento da pessoa? Nós cristãos não deveríamos ignorar que, na realidade, não cremos o que dizemos com os lábios, mas o que expressamos com nossa vida inteira.

_________________________________________________________

JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
__________________________________________________________________________________
                                                 Reflexão: franciscanos.org.br       Banner: Fr. Fábio M. Vasconcelos

Nenhum comentário:

Postar um comentário