sábado, 30 de julho de 2022

Encerramento da 37ª Viagem Apostólica do Papa:

Francisco despede-se do Canadá

O avião levando Francisco de volta para Roma decolou às 20h14, hora local, após a cerimônia de despedida da qual participou a governadora geral Mary Simon. Depois de percorrer 5.667 Km e cerca de 7h de voo, a chegada a Roma está prevista para pouco depois das 8 da manhã.

O Papa Francisco deixou o Canadá no início da noite desta sexta-feira, (hora local) partindo precisamente do aeroporto da cidade de Iqaluit, última etapa da sua 37ª Viagem Apostólica, que foi definida pelo próprio Pontífice como "peregrinação penitencial". Uma peregrinação para prosseguir o "caminho de cura e reconciliação" dos povos indígenas com a Igreja Católica que, se tendo adequado à mentalidade colonial e às políticas governamentais de assimilação dos séculos passados, provocou profundas feridas nas comunidades nativas, com abusos e crueldades. Edmonton, Maskwacis, Québec e Iqaluit foram as etapas de Francisco.

O avião levando Francisco de volta para Roma decolou às 20h14, hora local, após a cerimônia de despedida da qual participou a governadora geral Mary Simon. Depois de percorrer 5.667 Km e cerca de 7h de voo, a chegada a Roma está prevista por volta das 8h da manhã, hora local. Durante o vôo, o Papa Francisco responderá às perguntas dos jornalistas na habitual coletiva de imprensa a bordo.

O último dia de Francisco em terras canadense teve início com a missa em privado no arcebispado de Quebec onde pernoitou nos últimos dois dias. Na mesma sede do arcebispado o Santo Padre se encontrou com membros da Companhia de Jesus presentes no Canadá. Em seguida o encontro com uma delegação de indígenas de Quebec.

Neste encontro Francisco voltou a afirmar que veio ao Canadá não como turista, mas como amigo para encontrá-los, vê-los, ouvi-los, aprender e saber como vivem as populações indígenas deste país. “Vim como irmão – disse ainda Francisco - para descobrir pessoalmente os frutos bons e maus produzidos pelos membros da família católica local, no decurso dos anos. Vim com espírito penitencial, para lhes manifestar o pesar que sinto no coração pelo mal que não poucos católicos lhes causaram apoiando políticas opressivas e injustas aplicadas a vocês”.

Outro encontro com a população indígena ocorreu em Iqaluit, depois de um voo de cerca de 3 horas.

O Papa encontrou-se de forma privada com alguns alunos dessas ex-escolas residenciais. Alguns dirigiram palavras ao Santo Padre e a oração em conjunto do Pai Nosso.

Em seguida Francisco se dirigiu para o pátio da escola para o encontro com os jovens e com os idosos. Também alí, diante da comunidade Inuit o Papa disse que escutou vários ex-alunos das escolas residenciais: “obrigado – disse ele - pelo que tiveram a coragem de dizer, contando grandes sofrimentos. Isso despertou em mim a indignação e a vergonha que, há meses, me acompanham. Também hoje e aqui – afirmou - quero dizer-vos o grande pesar que sinto; e desejo pedir perdão pelo mal cometido por não poucos católicos que, naquelas escolas, contribuíram para as políticas de assimilação cultural e de alforria”.

O Canadá, 37ª Viagem Apostólica de seu pontificado é o 56º país que Francisco visita. Uma viagem muito desejada e na qual esteve no centro, o encontro e o abraço com os povos indígenas e a Igreja local.

Silvonei José, Quebec

.........................................................................................................................................................................

O Papa a jornalistas no voo de retorno:

o que foi praticado contra os indígenas foi um genocídio

No voo de retorno do Canadá, Francisco fala sobre a viagem que acaba de terminar e sobre o velho e novo colonialismo. Ele diz que ainda não pensou em renunciar, mas que "se pode mudar o Papa". Fala sobre o Caminho sinodal da Alemanha, o desenvolvimento da doutrina e a importância das mulheres na transmissão da fé.

O que foi praticado contra os indígenas foi um genocídio. Respondendo à pergunta de uma jornalista canadense, o Papa Francisco, no voo de retorno que de Iqaluit o trouxe de volta para Roma, falou sobre os temas da viagem que havia acabado de terminar e do colonialismo, antigo e novo. Mas ele também abordou a questão da renúncia ao pontificado, instado várias vezes pelas perguntas dos jornalistas, explicando que por enquanto ele não está pensando em renunciar, embora veja isso como uma possibilidade. No início da coletiva de imprensa, Francisco agradeceu aos repórteres que voavam com ele: “Boa-noite e obrigado pelo acompanhamento de vocês, pelo seu trabalho aqui, sei que trabalham muito e obrigado pela empresa, obrigado”.

Jessica Ka'Nhehsíio Deer (CBC Rádio - Canadá Indigenous: Como descendente de um sobrevivente de uma escola residencial, sei que os sobreviventes e suas famílias querem ver ações concretas após seus pedidos de desculpas, incluindo uma declaração sobre o fim da "Doutrina da descoberta". Nas Constituições nos Estados Unidos e no Canadá, os indígenas continuam sendo defraudados de suas terras e privados de poder sobre sua terra, por causa das bulas papais e da Doutrina da descoberta. Não pensa ter sido uma oportunidade perdida para fazer uma declaração nesse sentido durante sua viagem ao Canadá?

Francisco: Não entendi a segunda parte da pergunta. Pode explicar o que entende por Doutrina da descoberta?

Jessica Ka'Nhehsíio Deer: Quando falo com os indígenas, eles dizem que quando os colonos vieram para tomar suas terras, eles se referiram a esta doutrina que estabelecia que eles eram inferiores aos católicos. Foi assim que os EUA e o Canadá se tornaram países ...

Francisco: Obrigado pela pergunta. Creio que este é um problema de todo colonialismo, de todos eles. Ainda hoje: as colonizações ideológicas de hoje têm o mesmo esquema. Quem não entra em seu caminho, é inferior. Mas eu quero ir mais longe, sobre isso. Eram considerados não apenas inferiores: alguns teólogos ligeiramente loucos se perguntavam se tinham uma alma. Quando João Paulo II foi à África, para a porta onde os escravos embarcavam (Ilha Gorée, a porta sem retorno), ele fez um sinal para que pudéssemos entender o drama, o drama criminoso: aquelas pessoas eram jogadas no navio, em condições desastrosas, e depois se tornavam escravas na América. É verdade que havia vozes que falavam claro, como Bartolomeo de las Casas, por exemplo, Pedro Claver, mas eram a minoria. A consciência da igualdade humana veio lentamente. E digo consciência, porque no inconsciente ainda há algo ... Sempre, nós temos - permito-me dizer - como uma atitude colonialista de reduzir sua cultura à nossa. É algo que vem de nosso modo de vida desenvolvido, o nosso, que às vezes perdemos os valores que eles têm. Por exemplo: os povos indígenas têm um grande valor que é o valor da harmonia com a Criação e pelo menos alguns que eu conheço o expressam na palavra “viver bem”, que não significa, como entendemos os ocidentais, viver bem ou viver a dolce vita. Não. Viver bem é custodiar a harmonia. E e isso para mim é o grande valor dos povos originais: a harmonia. Estamos acostumados a reduzir tudo à cabeça: em vez disso, a personalidade dos povos originais - estou falando em geral - sabe se expressar em três línguas: a da cabeça, a do coração e a das mãos. Mas todos juntos e eles sabem como ter esta linguagem com a Criação. Então, este progresso acelerado do desenvolvimento, exagerado, neurótico que temos... Não estou falando contra o desenvolvimento: o desenvolvimento é bom. Mas não é boa aquela ansiedade que temos: desenvolvimento-desenvolvimento-desenvolvimento... Veja, uma das coisas que nossa sociedade perdeu foi a capacidade de poesia.

Os povos indígenas têm essa capacidade poética. Não estou idealizando. Então, esta doutrina da colonização: é verdade, é ruim, é injusta e é usada também hoje. A mesma coisa. Talvez com luvas de seda, mas é usada, hoje em dia. Por exemplo, alguns bispos de alguns países me disseram: Mas, nosso país, quando pede crédito a uma organização internacional, eles lhe impõem condições, mesmo condições legislativas, colonialistas. Para lhe dar crédito, eles fazem você mudar um pouco seu modo de vida. Voltando à nossa colonização da América, a dos ingleses, dos franceses, dos espanhóis, dos portugueses, sempre houve esse perigo, de fato, essa mentalidade: somos superiores e esses povos indígenas não contam, e isso é grave. É por isso que temos que trabalhar no que você diz: voltar e sanear, digamos, o que foi feito de errado, sabendo que o mesmo colonialismo existe hoje. Pense, por exemplo, em um caso, que é universal e eu ouso dizê-lo. Estou pensando no caso do Rohingya, em Mianmar: eles não têm direito à cidadania, são considerados de um nível inferior. Ainda hoje.

Brittany Hobson, (THE CANADIAN PRESS): O senhor fala frequentemente da necessidade de falar com clareza, honestidade e com parresia. O senhor sabe que a Comissão canadense para a verdade e a reconciliação descreveu o sistema das escolas residencias como um "genocídio cultural" e depois foi modificado como genocídio. Aqueles que ouviram seu pedido de perdão nos últimos dias expressaram seu desapontamento pelo fato de a palavra genocídio não ter sido usada. O senhor usaria estas palavras para dizer que membros da Igreja participaram de um genocídio?

Francisco: É verdade, não usei a palavra porque não me veio em mente, mas descrevi o genocídio e pedi perdão, perdão, por este “trabalho” que é genocida. Por exemplo, condenei isto também: tirar as crianças, mudar a cultura, mudar as mentes, mudar as tradições, mudar uma raça - digamos - uma cultura inteira. Sim, é uma palavra técnica genocídio, eu não a usei porque não me veio em mente, mas eu descrevi... é verdade, sim, é um genocídio. Não se preocupe, você pode relatar que eu disse que foi genocídio.

Valentina Alazraki (TELEVISA): Papa Francisco, suponhamos que esta viagem ao Canadá também foi um teste, uma prova, para sua saúde, para o que o senhor chamou de "limitações físicas" esta manhã. Por isso quisemos saber, depois desta semana, o que pode nos dizer sobre suas futuras viagens: se quer continuar viajando assim, se haverá viagens que não pode fazer por causa dessas limitações, ou se pensa que a operação no joelho poderia resolver mais a situação e (voltar a) viajar como antes.

Francisco: Não sei, acho que não posso ir no mesmo ritmo das viagens de antes. Penso que na minha idade e com esta limitação tenho que economizar um pouco para poder servir à Igreja. Ademais, pelo contrário, posso pensar na possibilidade de colocar-me de lado, isto, com toda honestidade, não é uma catástrofe, se pode mudar o Papa, se pode mudar, sem problemas. Mas eu acho que tenho que me limitar um pouco com estes esforços. A cirurgia do joelho não se terá, no meu caso. Os técnicos dizem que sim, mas há todo o problema da anestesia, eu passei por mais de seis horas de anestesia há dez meses e ainda há vestígios. Não se brinca com anestesia. É por isso que se pensa que não é totalmente conveniente. Tentarei continuar viajando e estar perto das pessoas porque acredito que seja uma forma de servir: a proximidade. Mas mais do que isso eu não posso dizer, espero.... No México ainda não há previsão, eh?

Valentina Alazraki: Não, não, eu sei disso, mas existe o Cazaquistão, e se vai ao Cazaquistão não deveria ir também à Ucrânia?

Francisco: Eu disse que gostaria de ir à Ucrânia. Vamos ver agora o que eu encontro quando chego em casa. No Cazaquistão no momento eu gostaria de ir, é uma viagem tranquila, sem muito movimento, é um congresso de religiões. Por enquanto, tudo permanece. Também tenho que ir ao Sudão do Sul antes do Congo, porque é uma viagem com o arcebispo de Cantuária e o bispo da Igreja da Escócia, porque nós fizemos todos os três um retiro, juntos, há dois anos... E depois ao Congo, mas isso será no próximo ano, porque há a estação das chuvas, vejamos... Eu tenho toda a boa vontade, mas vamos ver o que diz a perna.

.........................................................................................................................................................................

O Papa chega a Roma:

"Continuar na verdade, rumo à cura e reconciliação"

A viagem apostólica de Francisco ao Canadá chegou ao fim. O avião pousou no Aeroporto Internacional Leonardo Da Vinci, em Roma, após cerca de seis horas de voo. Em um tuíte na conta Pontifex, escreveu: "Vim como peregrino para caminhar com e para os povos indígenas".

Após cerca de seis horas de voo, o Papa Francisco chegou a Roma de retorno do Canadá às 8h06min locais (3h06 de Brasília), concluindo assim sua 37ª viagem apostólica internacional. Ao eco das canções e aplausos de jovens e idosos Inuit, protagonistas da última encontro da viagem, o Pontífice deixou ontem a cidade de Iqaluit, capital do Estado de Nanavut, para ir ao aeroporto local e despedir-se do Canadá.

Suas saudações, suas esperanças para o futuro, sua gratidão por esta “peregrinação penitencial”, Francisco confiou a um tuíte publicado em sua conta @Pontifex em dez línguas: "Vim ao Canadá como peregrino para caminhar com e para os povos indígenas: para que a busca da verdade possa continuar, nos caminhos da cura e da reconciliação, e a esperança possa ser semeada para os povos indígenas e não-indígenas, que desejam viver fraternalmente".

Tuíte para os povos indígenas

Novamente via tuíte, o Papa quis enviar uma mensagem pessoal a todos os povos indígenas que encontrou durante a viagem desta semana: “Queridos irmãos e irmãs dos povos indígenas - tuitou o Pontífice -, volto para casa carregando no coração um tesouro feito de pessoas e povos que me marcaram; de rostos, sorrisos e palavras; de histórias e lugares que sempre me acompanharão'. Obrigado a todos do fundo do meu coração!”

.........................................................................................................................................................................

O Papa em Santa Maria Maior
agradece a Nossa Senhora pela viagem ao Canadá

Francisco se deteve em oração diante do ícone de Nossa Senhora a quem confiara sua 37ª viagem apostólica internacional.

Na manhã deste sábado, 30 de julho, como faz habitualmente ao término de cada Viagem apostólica Internacional, o Papa Francisco foi até a Basílica de Santa Maria Maior, no centro de Roma, detendo-se em oração diante do ícone da Virgem Salus Populi Romani. Foi o que informou a Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Santo Padre quis agradecer à Virgem, a quem confiou a sua 37ª Viagem apostólica Internacional nesta sua peregrinação penitencial no Canadá, no caminho da cura e reconciliação. Ao término da visita a Santa Maria Maior, o Papa Francisco retornou para o Vaticano.

..................................................................................................................................................                                                                                                                                   Fonte: vaticannews.va

Nenhum comentário:

Postar um comentário