segunda-feira, 11 de julho de 2022

Oportuna reflexão de dom Jaime Vieira Rocha:

Formação litúrgica do Povo de Deus 

Obra do Pai, a liturgia é também obra de Cristo. Com a ascensão e o envio do Espírito Santo, Cristo age agora pelos sacramentos que realizam a graça que significam em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo. Na liturgia Cristo significa e realiza principalmente o seu mistério pascal, que é um evento real, acontecido em nossa história, mas é único: ele não pode ficar no passado, pois tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, permanece e atrai tudo para a vida (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1084-108). 

Dom Jaime  

Com essas palavras sobre o que diz o Catecismo da Igreja Católica acerca da Liturgia, quero fazer eco das palavras do Papa Francisco sobre a formação litúrgica do Povo de Deus, expressas na Carta Apostólica Desiderio desideravi, publicada em 29 de junho deste ano. A finalidade da Carta Apostólica – insistir na formação litúrgica – é oferecer algumas reflexões acerca da Liturgia, reconhecendo, porém, que “certamente não esgotam o imenso tesouro da celebração dos santos mistérios” (n. 61). Tal intendo é para que nos ajude “a reavivar nossa admiração pela beleza da verdade da celebração cristã, a nos lembrar da necessidade de uma autêntica formação litúrgica e a reconhecer a importância de uma arte de celebrar que esteja a serviço da verdade do mistério Pascal e da participação de todos os batizados nele, cada um segundo a sua vocação” (n. 62). 

Uma formação litúrgica é necessária para que todos os batizados vivam o seu significado e colham os seus frutos. Em primeiro lugar, é preciso que se reconheça que a Liturgia celebrada não tem nada de ritual mágico, mecânico. Mas, como frisa o Papa Francisco, trata-se de celebrar um encontro vivo: “se a Ressurreição fosse para nós um conceito, uma ideia, um pensamento; se o Ressuscitado fosse para nós a recordação da lembrança de outros, ainda que autorizados, como o dos Apóstolos, se não viesse dada também a nós a possibilidade de um verdadeiro encontro com Ele, isso seria declarar como esgotada a novidade do Verbo feito carne. Pelo contrário, a Encarnação, além de ser o único evento novo que a história conheça, é também o método que a Santíssima Trindade escolheu para abrir-nos a via da comunhão. A fé cristã ou é encontro com Ele vivo ou não é” (n. 10). Depois, é preciso insistir numa “Escola de Liturgia”, onde se reflita sobre o itinerário da celebração, desde o significado dos ritos celebrativos, a riqueza da Oração Eucarística, o sentido comunitário, a índole escatológica e o mandato missionário presente em cada celebração. Importante e necessário é fazer um percurso histórico da Missa, estudando cada etapa, especialmente para purificar certos gestos de roupagem ideológica, que muitas vezes fere o verdadeiro significado. A celebração da Eucaristia não nos coloca em experiência irracional. É preciso também retomar o grande ensinamento patrístico, especialmente presente em São João Crisóstomo, o qual insistia na relação da Carne de Cristo, na Eucaristia, com a carne de Cristo, presente nos pobres. E tal relação é indispensável para a validez do anúncio cristão. Daí decorre a fonte da espiritualidade cristã, encarnada na concretude da fraternidade. É o mesmo São João Crisóstomo a afirmar tanto a união com Cristo como a união com os irmãos e irmãs: “Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo” (São João Crisóstomo. Homilias sobre a I Carta aos Coríntios, 24, 2:PG61, 200). Sigamos as orientações do Papa Francisco. Convido a todos a lerem a Carta Apostólica Desiderio desideravi e viver bebendo da água viva que é a Liturgia da Igreja. 

Dom Jaime Vieira Rocha  - Arcebispo de Natal (RN)

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