Pai Nosso –
Fórmula ou algo mais?
Se há uma
oração que é enormemente aprendida e rezada, é a oração do “Pai-nosso”.
Aprende-se e reza-se essa oração, pessoal e comunitariamente. Sabe-se que é a
oração que Jesus de Nazaré ensinou aos seus discípulos e com eles começou uma
corrente de ensino atravessando séculos de gerações. Chegou, assim, também à
nossa geração!
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Dom Jacinto Bergmann |
Porém, o
principal acento que Jesus de Nazaré deu, ensinando a oração do “Pai-nosso”,
muitas vezes não esteve presente. Ele não ensinou com o “Pai-nosso” uma fórmula
de oração, no sentido de uma composição meramente literária. Esse acento de
apenas uma “fórmula”, está presente quando nós dizemos: “vamos rezar a oração
do ‘Pai-nosso’ por isso ou aquilo”, ou “vamos rezar a oração do ‘Pai-nosso’
neste momento” e tantas outras maneiras parecidas.
O acento
de Jesus de Nazaré, na verdade o único acento, ensinando a oração do
“Pai-nosso”, é o de ensinar “como rezar” – “um caminho de oração”.
Foi justamente para responder ao desejo dos seus discípulos de que os ensinasse
a rezar, que Jesus de Nazaré os ensinou “como rezar” – “um caminho de
oração”.
Sabemos
que oração é um relacionamento com Deus. É um caminho de relação com Deus:
deixar Ele se relacionar conosco e nós nos relacionarmos com Ele. Rezar
corretamente é relacionar-se com Deus no amor e na verdade.
No caminho
de oração, presente no Pai-nosso, temos o caminho do relacionamento verdadeiro
de Deus para conosco e de nós para com Ele. Como relacionar-se verdadeiramente,
no amor e na verdade, com Deus? Jesus o ensinou assim:
Primeiro:
“Pai nosso”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos
relacionemos como Ele como “Pai”. E relacionar-se com Deus-Pai é fazê-lo
próximo de nós como fonte de vida. Isso requer que nós nos comportemos como
filhos de Deus, logo, como irmãos uns dos outros.
Segundo:
“Que estais nos céus”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós
nos relacionemos como Ele como “Senhor”. E relacionar-se com Deus-Senhor é
fazê-lo soberano de toda a criação – Senhor do Universo. E isso requer que
nós sejamos os cuidadores da Casa Comum.
Terceiro:
“Santificado seja o vosso nome”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede
que nós nos relacionemos com Ele como “Santo”. E relacionar-se com Deus-Santo,
é torná-lo razão de ser de todo o existente. Isso requer que nós vivamos de tal
modo que tudo se torne digno e assim santifiquemos o seu nome; encontremos
unicamente Nele a razão de ser.
Quarto:
“Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no
céu”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos
com Ele como “Rei”. E relacionar-se com Deus-Rei, é fazê-lo soberano da
humanidade como a única plenitude. Isso requer de nós buscarmos somente Nele o
sentido da vida nossa e dos outros.
Quinto: “O
pão nosso de cada dia nos dai hoje”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco
como Amor, na nossa relação de partilha com os irmãos. Relacionar-se com
Deus-Amor, requer de nós a partilha e não o acúmulo, para que o “pão nosso de
cada dia, esteja à disposição de todos.
Sexto:
“Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”,
isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de perdão
com o próximo. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós o perdão mútuo e a
luta contra todas as desigualdades.
Sétimo: “E
não nos deixeis cair em tentação”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como
Amor, na nossa relação de prudência conosco e com os irmãos. Relacionar-se com
Deus-Amor, requer de nós não sermos tentação para os outros e também fugir das
tentações que vem dos outros; trata-se da tentação de não sermos “imagem e
semelhança de Deus” uns para com os outros.
Oitavo:
“Mas, livrai-nos de todo o mal”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como
Amor, na nossa relação de liberdade de filhos de Deus. Relacionar-se com
Deus-Amor, requer de nós nenhum pacto com o “espírito do mal” que somente nos
escraviza; o nosso pacto somente é com Deus-Pai, com Deus-Soberano, como
Deus-Santo, com Deus-Rei, com Deus-Amor.
A oração
do “Pai-nosso” não é uma fórmula, é algo mais: é o caminho de oração ensinado
pelo Filho de Deus, Jesus de Nazaré.
Dom
Jacinto Bergmann - Arcebispo de Pelotas (RS)
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